04 Mai 2023
A reportagem é publicada por Religión Digital, 03-05-2023.
Emilce Cuda, secretário da Pontifícia Comissão para a América Latina e teólogo argentino, desde sua nomeação está empenhado na promoção do magistério pontifício de Francisco em toda a América Latina, com especial destaque para as encíclicas Laudato Si' e Fratelli Tutti, reconhecidas em a entrevista que concedeu à revista Ecclesia.
As suas constantes viagens levam-nos a seguir o pulsar das igrejas daquele continente, vibrante nos últimos tempos como resultado das fases continentais que antecederam o Sínodo da Sinodalidade em 2023 e 2024. Neste sentido, permite-lhes também apreciar com grande clareza as diferentes perspectivas em que se movem, como aponta para Ángeles Conde.
"Estive nos Estados Unidos reunido com bispos, cardeais e teólogos, parte deles na Boston College, e a discussão girou em torno do próprio conceito de sinodalidade. A questão é que não entendemos o que essa sinodalidade significa. E eu me perguntei, como é possível que, no país onde nasceu a primeira democracia da modernidade, não se possa entender a prática sinodal?”, aponta.
"Mas da mesma forma", acrescenta, "na Europa, por exemplo, diz-se que as pessoas não entendem o que é isso dos movimentos populares, que as mudanças vêm de baixo. E eu me pergunto, como pode ser que no primeiro continente onde nasce a revolução pelos direitos humanos e sociais, não se entende que as mudanças vêm de baixo?”
A propósito da situação da América Latina, Cuda sublinha que "o caminhar juntos já está interiorizado na Igreja latino-americana", por isso "a reivindicação da América Latina refere-se às mulheres", que "pedem participação. Não no mesmo sentido que na Europa. É importante ressaltar isso. Na Europa, esse pedido é entendido como a exigência de um cargo na Cúria Romana, como cardeal ou sacerdote. No meu caso, vindo do campo da experiência da moral social, quando reivindicar 'a decisão', estou reivindicando a dignidade do sujeito de todo ser humano. E é isso que está sendo discutido na América Latina".
Na América Latina, quando se apoia no sensus fidei e na dignidade de cada ser humano para decidir – dada a precária situação de exclusão, miséria, desemprego estrutural –, o conceito de decisão tem a ver com a participação nas decisões das estruturas. Então, não vejo tanta ameaça à posição do clero nesse sentido. Sim, as mulheres são relegadas, mas não só pelo clero, são relegadas pelos homens dentro da Igreja, sejam eles padres ou leigos".
"No contexto latino-americano, está em uma etapa anterior, porque as mulheres não estão integradas à sociedade. O que elas pedem é que sejam consideradas pelo masculino em geral e, sobretudo, pelas estruturas", indica, por o que ele pede que "a Igreja seja o espaço da dignidade para todos. E as mulheres têm aproveitado este espaço que o sínodo supõe e que a Igreja na América Latina lhes dá para reivindicar esse reconhecimento social. Ao mesmo tempo, o clero é muito respeitado na América Latina e isso não quer dizer que não existam cargos clericais. São muitos. Nesses espaços, as mulheres precisam do reconhecimento da Igreja. Há uma crítica, não do clero, mas do clericalismo".