Cheias históricas e sinais de uma confluência de crises. Destaques da Semana no IHU

Arte: Marcelo Zanotti | IHU

27 Novembro 2023

A semana foi de enchentes históricas no Rio Grande do Sul, uma seca que persiste na Amazônia e fogo no Pantanal. Enquanto isso, a emissão de gases do efeito estufa aumenta e o planeta entra em colapso. Isto tudo não acontece de forma alheia à guerra e a revezes de uma extrema-direita global que acha tudo isso bobagem. Estes e outros temas nos Destaques da Semana do IHU.

Tragédia anunciada “só” há 50 anos

Nesta semana que passou, o Rio Grande do Sul voltou a ser assolado pelas enchentes.

A região do Vale do Rio Taquari, dois meses depois de ser devastada, voltou a viver o drama das cheias. Além disso, a região do Vale do Rio Caí e todo o Delta do Rio Jacuí também vivenciaram uma inundação histórica.

Em Porto Alegre, o nível do Guaíba beirou a marca histórica da enchente de 1941.

Aliás, a força da água foi tanta que houve até o rompimento de comportas do sistema de barragens construído para deter os alagamentos das ruas na capital gaúcha.

Como escreveu José Truda Palazzo Jr., esta é uma tragédia anunciada “só” há 50 anos. “É estarrecedor que a grande imprensa se recuse a falar das causas ambientais desses desastres, e criminoso que as autoridades públicas não o façam”, aponta, em artigo publicado no IHU. E atenção: a área alagada na orla do Guaíba em Porto Alegre, primitivamente zona de mata ciliar, já tem projeto para ser transformada num grande shopping, isto é, uma babel do consumo onde se vende até a paisagem.

Amazônia com clima de deserto

No outro extremo do Brasil, é a seca que segue comprometendo a vida na região amazônica.

Cenários como estes nos fazem gritar: “não dá mais para esperar!”, como bem pontua Malu Nunes, engenheira florestal. Afinal, pela primeira vez na história o Brasil possui áreas que se assemelham a desertos. E, no caso da Amazônia, nem sabemos o que está por vir, e o pior talvez ainda esteja por chegar, uma vez que toda a região regula o clima do planeta.

Fogo no Pantanal

Enchente no Sul, seca no Norte e no fogo no Centro-oeste do Brasil. Sim, mais uma vez o Pantanal arde em chamas. Nos últimos dias, a chuva aliviou os incêndios, mas a situação ainda preocupa.

Estado de emergência

O resultado de tudo é o aumento da quantidade de emissões de carbono.

Até mesmo o “agro pop” tem se dado conta do caos, embora empurre a culpa para outros. O fato é que no ritmo atual a Terra deve se aquecer quase 3ºC neste século, lembrando que compromissos atuais do Acordo de Paris levam o aquecimento até 2,9°C. É por isso que a COP28 tem desafios ainda maiores.

Pacto global

Já está mais do que na hora de um pacto global pela sobrevivência do planeta, o que passa, inevitavelmente, pela redução de uso de combustíveis fósseis.

Confluência de crises

Parecemos viver em tempo de confluências de crises. É o que destaca Pedro A. Ribeiro de Oliveira: “A catástrofe climática, que já começamos a experimentar e que hoje é agravada pela guerra mundial em pedaços, pode levar a humanidade a abandonar a modo de vida urbano, sua economia de mercado e sua tecnologia de ponta, e voltar a integrar-se na economia da Comunidade de Vida da Terra. É o que fazem os povos originários: cuidar da casa comum, onde tudo que é extraído da Terra para ela retorna, numa relação de aliança que vai além da espécie humana e abrange também a Terra e sua comunidade de vida”.

Gaza

De Gaza, nesta semana, veio a notícia de um cessar-fogo. Mas, como insiste Israel, não é o fim da guerra.

Quem também levanta a voz e insiste, só que pela paz, é o Papa Francisco.

Papa que, aliás, nesta semana se encontrou com familiares de reféns israelenses e de prisioneiros palestinos  e disse que “seria uma boa ideia ir a Gaza".

Confira mais alguns destaques sobre a guerra

Milei e a extrema-direita

Outro destaque da semana no cenário internacional foi a vitória de Javier Milei na Argentina, que abre muitos pontos para reflexão.

Para além da encruzilhada que parece ter se metido a Argentina, e das dúvidas sobre qual é a “extrema-direita” de Milei, outro ponto que precisa ser considerado é como essa vitória impacta a América Latina e que cenários vislumbraremos ali na frente.

Misoginia e luta das mulheres

Para encerrar, uma provocação à reflexão, sempre presente no IHU, a partir da luta das mulheres. A passagem de Taylor Swift pelo Brasil e a tragédia que foi a organização de seus shows têm uma pegada de misoginia, como aponta Nina Lemos. Estes episódios nos fazem pensar o quanto há de misoginia até no meio progressista. É o caso do sindicalismo e sua bem pouca justiça de gênero, tema abordado por Didice Godinho Delgado em entrevista publicada esta semana. Afinal, todos sabemos que a liberdade feminina é um valor universal, mas até no campo progressista vemos a predominância do masculino. Assim, será que realmente existem homens progressistas ou o progressismo é mesmo uma orientação essencialmente feminina?

Uma ótima semana a todas e todos!