02 Outubro 2023
O Sínodo sobre a Sinodalidade é um processo de escuta e conversão da Igreja, afirma o padre jesuíta Jos Moons.
A reportagem é de Malo Tresca, publicada por La Croix Internacional, 29-09-2023. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Professor de teologia na Universidade Católica de Louvain (Bélgica) e autor de vários livros sobre sinodalidade, ele afirma que, para que o processo funcione, as pessoas precisam deixar de lado suas “noções preconcebidas”.
O que há de novo nesta abordagem do Sínodo sobre a Sinodalidade?
A grande novidade é, acima de tudo, sua abertura. Por meio desse sínodo, todos os fiéis são convidados a dizer o que pensam, o que recomendam para o futuro. O documento de trabalho para a fase continental destacou isso, mencionando aqueles católicos que disseram se sentir, pela primeira vez, convidados a realmente se expressarem. Essa abordagem projeta a Igreja em uma atmosfera de escuta e em uma cultura de conversão que lhe é nova.
No entanto, o processo esteve repleto de tensões em todos os níveis. Como podemos superar essas divisões?
Essa é a questão chave. Não creio que estejamos suficientemente habituados a adotar uma verdadeira atitude de discernimento. Muitas vezes, permanecemos em uma dinâmica de debate: os conservadores, em particular, têm medo das mudanças que se seguirão. Cada um segue sua própria ideologia e ponto de vista.
Em uma Igreja sinodal, as divergências deveriam ser antes o ponto de partida para conversas mais aprofundadas, para compreender o ponto de vista do outro. Isso pressupõe uma escuta muito autêntica, deixando de lado os próprios padrões.
Quando é assim, sentimos a tensão diminuir e nos posicionamos como companheiros de viagem em busca de explorar juntos a profundidade das coisas. É nessa perspectiva que o Papa Francisco nos diz que as tensões podem ser fonte de progresso.
Na Igreja, até agora cultivamos uma atitude de obediência à instituição. Agora, precisamos ser capazes de cultivar uma atitude espiritual de buscar e obedecer a Deus. Eu acho que as tensões refletem essa mudança que está ocorrendo, mas vai levar tempo.
Podemos realmente falar de uma “marca Francisco”?
Sim, isso parece óbvio. Em primeiro lugar, ele introduziu essa dimensão de escuta de todas as pessoas, enquanto anteriormente a sinodalidade estava mais restrita aos bispos. Em segundo lugar, ele nos convidou a expressar os nossos verdadeiros pensamentos, mesmo sobre aquilo de que não gostamos. Seu conceito de sinodalidade, obviamente, está enraizado em sua tradição inaciana.
Mas sua visão do processo não deveria nos fazer esquecer que existem também outras abordagens interessantes à sinodalidade: a abordagem dominicana, por exemplo, dá muito mais ênfase à discussão, enquanto a abordagem beneditina e cisterciense dá maior proeminência à figura do abade ou da abadessa... Precisamos olhar para a sinodalidade em seu sentido mais amplo.
Como o Papa Francisco articula seu governo pessoal – às vezes acusado de autoritarismo – e sua visão de sinodalidade?
Tal como um navio precisa de um capitão, uma Igreja sinodal requer sempre uma liderança – alguém que tome decisões de cima! Outros fatores devem ser levados em conta em termos de governança: cada um tem seu caráter pessoal, sua história, sua forma de lidar com o sistema etc.
O próprio papa reconhece que o sistema pode ser melhorado. Mas, para mim, essas críticas só poderão ser feitas quando todos os progressos alcançados forem reconhecidos. O último documento preparatório para o Sínodo (Instrumentum laboris) abre a questão do papel do papa, algo que nunca tinha ido tão longe antes!
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Sinodalidade significa deixar de lado noções preconcebidas. Entrevista com Jos Moons - Instituto Humanitas Unisinos - IHU