Os novos paradigmas científicos e suas aplicações

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29 Setembro 2023

Feminismos, sustentabilidade, democracia direta e participativa, decrescimento, agroecologia, economia social e solidária, ecotecnologias, diálogo de saberes, bem viver e transdisciplinaridade são 10 paradigmas que já estão presentes nos projetos e programas que questionam e resistem (em diferentes escalas) a reproduzir os princípios da civilização atual. São as sementes de uma nova era”, escreve Víctor M. Toledo, pesquisador e biólogo mexicano, em artigo publicado por La Jornada, 26-09-2023. A tradução é do Cepat.

Eis o artigo.

Poucos, ainda que a cada dia mais, percebem a existência de uma ciência crítica que tem se dedicado a formular novos princípios, conceitos e paradigmas que surgem como antivalores frente à modernidade industrial, capitalista, tecnocrática e patriarcal. Isto vem acontecendo há cerca de três ou quatro décadas e são consequência e se inspiram nas posições radicais e frontais sustentadas pelos grandes pensadores do século XX (Erich Fromm, Arthur Koestler, Ivan Illich, Paulo Freire etc.).

Se o pensamento antecede a ação, estamos vivendo a fase em que um conjunto de paradigmas antissistema, longamente expostos, debatidos e acordados na academia, começa a ser colocado em prática. Isso nos faz recuperar a esperança em relação ao papel transformador do conhecimento objetivo e racional, que foi o que permitiu a evolução da espécie humana. Poderíamos afirmar que o conhecimento, que o uso da razão, em sua versão científica, está se tornando subversivo com sua crítica à crise do sistema?

Um compêndio detalhado de novos paradigmas é Pluriverso: um dicionário do pós-desenvolvimento (2019), já traduzido para o inglês e o alemão, que possui 113 capítulos, cada um escrito por um ou dois autores e dedicados a um conceito ou tema. A obra define pluriverso como um mundo onde cabem muitos mundos. Agora, vamos nos limitar a uma dezena de paradigmas novos, que já estão permeando a realidade e que, consequentemente, oferecem critérios para delinear uma modernidade nova e alternativa.

O primeiro paradigma é, sem dúvida, aquele que surge da grande variedade de teorias feministas, todas invocando a supressão e substituição da ordem patriarcal por um sistema baseado na igualdade de direitos e na justiça de gênero.

Um segundo paradigma é o da sustentabilidade ou desenvolvimento sustentável, que encantou igualmente governos, instituições internacionais (ONU), academias e até um certo ambientalismo, mas que com o passar do tempo revelou sua verdadeira essência. Lançado em 1987, por meio do Relatório Brundtland, sua rápida e impressionante difusão buscou se contrapor aos impactos do livro Limites do Crescimento (1972), que virou de cabeça para baixo o crescimento econômico infinito, pilar da reprodução do capital.

Relacionado ao anterior, tem-se o conceito de decrescimento, cujo autor foi o francês Serge Latouche, e que deu origem a um movimento cultural e político na Europa, especialmente na França, Espanha e Itália.

Um quarto paradigma é o da democracia direta e participativa, que questiona a fundo a chamada democracia eleitoral, formal e representativa, classificada como uma grande farsa. Colocado em prática em diversos lugares (especialmente no Curdistão), deixa de fora os partidos políticos e sugere outra forma de governar e conceber o poder.

A agroecologia já é um paradigma poderoso que cresce entre os 600 milhões de pequenos produtores rurais, especialmente na América Latina, Índia e Europa, e que foi adotado pela Via Campesina (200 milhões de membros) e a FAO.

Inseparável do anterior é o da economia social e solidária que impulsiona uma cadeia: da produção ao consumo baseado em cooperativas, circuitos curtos e equidade. Tudo em clara contradição com a economia capitalista dominante.

Outro paradigma novo é o das ecotecnologias, dedicadas à criação de aparelhos, instrumentos e máquinas movidos por energias alternativas, captadores de água e que não poluem para casas, fábricas, comunidades, bairros.

Dois paradigmas fundamentais são o do diálogo de saberes e o do bem viver. Ambos surgem do reconhecimento e da revalorização dos povos indígenas do mundo. A ciência, mas também a filosofia e a teologia, são obrigadas a dialogar com os saberes populares e especialmente com as sabedorias indígenas. O conceito de bem viver que se tornou visível nas constituições da Bolívia e Equador, e que, aparentemente, está presente em cada cultura originária, começa a substituir as ideias dominantes de progresso e desenvolvimento.

Finalmente, o conceito de transdisciplinaridade, que suscita coletivos onde múltiplos atores trabalham em prol de um bem comum, ganha cada vez mais adeptos em todo o mundo.

Feminismos, sustentabilidade, democracia direta e participativa, decrescimento, agroecologia, economia social e solidária, ecotecnologias, diálogo de saberes, bem viver e transdisciplinaridade são 10 paradigmas que já estão presentes nos projetos e programas que questionam e resistem (em diferentes escalas) a reproduzir os princípios da civilização atual. São as sementes de uma nova era.

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