12 Agosto 2023
Contar isso hoje é difícil de acreditar. Janeiro de 2009, durante meses Bento XVI preparava com dificuldade a recomposição do cisma com os tradicionalistas lefebvrianos. Tentativa generosa, mas difícil, tanto que acabou em nada pela simples razão de que os seguidores de Monsenhor Marcel Lefèbvre continuaram a não reconhecer o Concílio. No entanto, como "gesto de misericórdia", Ratzinger quis revogar a excomunhão de quatro bispos lefebvrianos. Quatro, não mil. Descobriu-se que um deles, Richard Williamson, era um antissemita negacionistas do Holocausto.
A reportagem é de Gian Guido Vecchi, publicada por Corriere della Sera, 10-08-2023. A tradução de Luisa Rabolini.
Não era uma tarefa tão difícil, bastava digitar o seu nome em um buscador e apareciam vídeos em que ele chegava a defender sorrindo que as câmaras de gás dos campos de extermínio nazista serviam para "desinfetar". Entre aqueles que tratavam do caso, no Vaticano, aparentemente ninguém tinha verificado. Explodiu um inferno e o Papa octogenário acabou bem no meio. Coube a ele, em 10 de março de 2009, escrever a todos os bispos do mundo para explicar aquela “desventura imprevisível para mim”, a ponto de observar: “Disseram-me que acompanhar atentamente as notícias acessíveis pela Internet teria permitido ser prontamente informado do problema…".
Bem, esse foi o divisor de águas na comunicação vaticana. Mostrou “a crise da ordem dispersa da antiga comunicação e de suas estruturas independentes, a Rádio Vaticano, "L'Osservatore Romano", a Sala de Imprensa, a Livraria Editorial...”, escreve Angelo Scelzo em Dal Concilio al web. La comunicazione vaticana e la svolta della reforma (Do Concílio à web. A comunicação vaticana e a virada da reforma, em tradução livre) um livro que promete ser fundamental, e não apenas para estudantes e estudiosos do tema. Como observa na introdução o padre Federico Lombardi, diretor de longa data da Rádio e porta-voz da Santa Sé, Scelzo "provavelmente tinha mais do que qualquer outro os instrumentos para fazer hoje essa primeira tentativa de apresentação total dos eventos da comunicação vaticana na época contemporânea", depois de ter trabalhado por mais de trinta anos nas diversas estruturas informativas da Santa Sé.
Scelzo, A. Dal Concilio al web. La comunicazione vaticana e la svolta della reforma. Librerie Editrice Vaticana (Foto: Divulgação)
Foi justamente Ratzinger, o grande teólogo que escrevia a lápis, quem deu a saída com um clique ao primeiro portal news.va, que depois evoluiu com Francisco e a sua reforma para o atual “Vatican News”. A multimídia, a integração dos vários jornais, o esforço para tornar mais racional o uso dos recursos: "Para as mídias do Vaticano, não é uma mudança de estratégia, mas de vida." Em mais de quatrocentas páginas, o autor oferece um relato detalhado, visto de dentro, desse trabalho em andamento. A primeira parte é dedicada às etapas da reforma, de Bento XVI a Francisco. A segunda remonta à primeira grande virada da comunicação vaticana, os anos do Concílio. E ainda o pontificado de Wojtyla e a transição para o novo milênio, a renúncia de Bento como "breaking news do século", o estilo direto de Bergoglio, a pós-reforma e os desafios do futuro próximo. Sabendo, no entanto, que a "velha comunicação", como os documentos conciliares que inspiraram seus princípios, não pertence apenas ao passado, Scelzo observa: "Mesmo uma 'conversão digital' - este é o cerne da reforma - precisa de uma alma".
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Quando a Santa Sé descobriu que até a web tem alma - Instituto Humanitas Unisinos - IHU