07 Agosto 2023
O Papa Francisco não usa palavras de circunstância. Enfia direto a faca no coração de um problema global que muitos políticos demonstram querer ignorar: a emergência global das mudanças ambientais. Mas se os governantes não respondem, o Papa pede que sejam os jovens a implementar as devidas contramedidas, sem se contentar com “simples medidas paliativas ou tímidos e ambíguos compromissos". Na Jornada Mundial da Juventude de Lisboa (JMJ), o Pontífice afirma com veemência aos jovens de todo o mundo que "vocês podem vencer o desafio climático".
A reportagem é de Domenico Agasso, publicada por "La Stampa", 04-08-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
O apelo do Bispo de Roma é particularmente forte: “Este velho que vos fala – já sou um idoso – sonha que a vossa geração se tornará uma geração de professores. Professores de humanidade. Professores de compaixão. Professores de novas oportunidades para o planeta e seus habitantes. Professores de esperança. E professores que defendem a vida do planeta, ameaçada neste momento por uma grave destruição ecológica”.
Existe “a urgência dramática de cuidar da nossa casa comum. No entanto, isso não pode ser feito sem uma conversão do coração e uma mudança da visão antropológica na base da economia e da política". Afirma isso no encontro com os estudantes da Universidade Católica Portuguesa, mas se dirige a toda a geração Greta Thumberg.
Alerta também para um perigo: “As vias de meio são apenas um pequeno atraso no desastre”, pontua citando sua encíclica ‘verde’ e social Laudato si’". Trata-se “ao contrário, de assumir a responsabilidade pelo que infelizmente continua a ser adiado: a saber, a necessidade de redefinir o que chamamos progresso e evolução". Porque, em nome do "progresso, abriu caminho muito retrocesso. Estudem bem o que estou lhes dizendo", reitera, "em nome do progresso, abriu caminho muito retrocesso".
Jorge Mario Bergoglio convida os jovens a ver a questão como um todo, a partir da perspectiva de uma “ecologia integral” e, portanto, “ouvir o sofrimento do planeta junto com o dos pobres; precisamos colocar o drama da desertificação em paralelo com aquele dos refugiados; o tema das migrações junto com aquele da queda da natalidade; precisamos cuidar da dimensão material da vida dentro de uma dimensão espiritual. Não criar polarizações, mas visões de conjunto".
O Papa chama os jovens e os convida a lançar o coração para além do obstáculo, e os "seus" jovens respondem imediatamente "sim".
Tomás, 29 anos, natural da capital de Portugal, defende que "não é possível uma autêntica ecologia integral sem Deus, não pode haver futuro em um mundo sem Deus". E depois, exorta a “não ignorar as tantas sugestões que a Laudato si’ nos oferece". Em especial, “quando nos pede para rejeitar o progresso tecnológico que não tenha uma forte raiz ética e espiritual, que não garanta o respeito da dignidade inviolável da pessoa e de toda a criação". E ressalta também o incentivo a “uma participação política e social mais empenhada, centrada na opção preferencial pelos pobres".
Entre os 500.000 jovens que lotam de cor e alegria o Parque Eduardo VII, entre os quais passa o Papa antes de celebrar a "cerimônia de boas-vindas" da JMJ, está Giulia, 16 anos, natural de San Bernardo de Carmagnola (Turim). Ela reflete: “A partir do encontro com Cristo, pode nascer em nós jovens um novo olhar sobre o mundo, para cuidar da casa comum com espírito cristão e enfrentar o problema das mudanças climáticas. Vendo tantos jovens na JMJ, todos juntos com uma fé comum, me fez pensar que talvez isso seja possível a partir das pequenas ações que estamos realizando nestes dias”.
Para Mário, 27 anos, natural de Módena, “com os nossos comportamentos cotidianos podemos fazer muito para salvar o mundo da devastação e relançar a convivência colocando a natureza no centro".
Giovanni, 23 anos, de Caserta, não tem dúvidas: “Nós, jovens, devemos nos unir, para sensibilizar sobre as alterações climáticas: assim poderemos fazer entender aos ‘grandes’ da Terra, aos governos e à política que é preciso agir imediatamente, porque disso depende o nosso futuro, e também o futuro de seus filhos e netos".
Salvatore, 23 anos, também natural de Caserta, ressalta que “às vezes se acredita que nas pequenas ações nada de eficaz possa ser realizado, porém são as nossas pequenas ações o ponto de partida para espalhar um sentido ecológico em nossos países e assim superar a crise".
Bruno, 21, e Diana, 19, do Porto, alertam: "Não há mais tempo, temos de nos fazer ouvir para que governos e parlamentos aprovem leis e façam acordos para poluir menos e promover condutas virtuosas individuais e coletivas".
Nas árvores aparece a placa "Proteja as árvores de Lisboa".
“Queremos ser sóbrios em nossos consumos, pensando no que é realmente necessário, no bem-estar dos outros e na sustentabilidade da casa comum, favorecendo a partilha e a reutilização dos bens". E o que pode ser lido no "Manifesto" escrito pelos jovens da JMJ. “Preferimos compartilhar e reutilizar os bens. Isso inclui os nossos transportes, as nossas compras, as atividades de lazer e a maneira com a qual eventualmente investiremos o nosso dinheiro”. E depois dirigem-se aos responsáveis políticos: “Imploramos para que enfrentem as consequências previsíveis do iminente aumento de nível do mar. São necessários mecanismos eficazes e vinculantes para o cuidado da biodiversidade, com o envolvimento das comunidades locais. Também uma boa gestão dos resíduos e a eliminação gradual dos combustíveis fósseis e das substâncias químicas perigosas devem ser prioridades em todos os lugares".
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Clima: o edital do Papa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU