30 Junho 2023
“Deus é queer”, proclamou em sermão de encerramento do 38º Kirchentag (Dia da Igreja), em 11 de junho, o pastor luterano Quinton Ceaser. Ele recebeu em Nuremberg aplausos e vaias ao mesmo tempo. Em entrevista depois da reação de fiéis nas redes sociais, ele declarou que repetiria o mesmo sermão pelo qual está sendo criticado.
A reportagem é de Edelberto Behs, jornalista.
A questão de concentra no termo “queer”. Em artigo para o portal Idea, o professor Armin Baum explicou o significado de queer, uma palavra ainda muito jovem. Traduzida do inglês, ela significa “estranho”, “diferente”. “Somente a partir da década de 1980 tornou-se um termo coletivo para pessoas com uma sexualidade ‘diferente’”, apontou.
Em termos de orientação sexual, prosseguiu, “queer significa ‘homossexual’ (ou seja, ‘gay’ ou ‘lésbica’) ou ‘bissexual’, e refere-se a pessoas que são sexualmente atraídas por seu próprio gênero, no todo ou em parte”. Nesse sentido, “queer refere-se a todas as pessoas agrupadas com a abreviação LGBTI”.
O sermão, admitiu o pregador luterano para a Deutschlandfunk, atingiu um nervo em certas partes da sociedade. “O próprio Deus explode a dicotomia de gênero em muitos lugares da Bíblia, então, para mim, não é uma frase que seja provocativa”. Deus é muito maior do que “podemos imaginar”, afirmou, lembrando ainda que a frase “Deus é queer” também é uma rejeição das estruturas patriarcais.
Cesar, 38 anos, é um pastor negro que nasceu na África do Sul e mora na Alemanha há 16 anos. Ele pastoreia a Friedenskirche Wiesmoor, na Frísia Oriental. Especialista em mídia social, o pastor declarou guerra ao racismo no sermão, pediu ações para combater as mudanças climáticas e criticou o compromisso de asilo dos Estados membros da União Europeia.
Nas redes sociais, ele foi insultado como servo de Satanás e o diabo de preto. No sermão, ele declarou que “a Igreja não é um lugar seguro para mim e meus irmãos e irmãs, pessoas com deficiência, pessoas estranhas”. As reações nas redes sociais confirmam o que ele denunciou: a igreja não é um lugar seguro.
Na análise do professor Baum, desde a queda, no Éden, “nenhum ser humano esteve no estado perfeito e original que o Criador queria que estivéssemos. Nesse sentido, somos todos queer, no sentido de ‘diferente’ ou ‘queer’. Todos nós sofremos de vários distúrbios que tornam a vida difícil para nós e nos lembram constantemente de que não estamos bem”.
Também “sofremos de distúrbios em nossa sexualidade e, portanto, em uma área da vida que atinge profundamente a nossa alma humana. E algumas pessoas, como transgêneros e intersexuais sofrem especialmente neste ponto. A fragilidade de nosso mundo também se reflete em seu destino, que eles mesmos não escolheram”, assinalou o professor.
A boa notícia para “o nosso mundo queer” não é que Deus também seja queer. “Pois embora Deus tenha criado seres sexuais, ele mesmo não é um ser sexual”, não tem gênero biológico, orientação sexual ou identidade sexual. “A boa notícia é que o Todo-poderoso Criador também é um Médico infinitamente misericordioso que ama todas as suas criaturas e nos livra de nossas deficiências, mágoas e sombras”, destacou Baum.
O bispo de Hanover, Ralf Meister, criticou o Kirchentag de Nuremberg por tratar o assunto da sexualidade de uma forma marginal. Ele indicou que há mais de 40 anos existe liberdade na igreja evangélica, o que “levou a uma cultura de abuso”. Sugeriu que o tema fosse aprofundado.
Manifestação dos organizadores do Kirchentag de Nuremberg lembrou que milhares de pessoas (o sermão de Ceaser foi presenciado por 25 mil ouvintes) celebraram pacificamente o evento, “discutiram polêmicas – opiniões diferentes, mas sempre respeitosas ao lidar umas com as outras”. A sociedade, entendem, precisa urgentemente desta forma de troca respeitosa e aberta. “Por isso é ainda mais amargo ver quantas pessoas negam aos nossos últimos pregadores esse respeito”.
Além de Ceaser, outros dois pregadores do Kirchentag receberam críticas. O lema do Kirchentag foi “Agora é a hora: Esperança. Faça”. O próximo Dia da Igreja está agendado para Hanover, de 30 de abril a 4 de maio de 2025.
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Pastor luterano diz que Deus é “queer” e recebe insultos nas redes sociais - Instituto Humanitas Unisinos - IHU