24 Junho 2023
"Cantar a liturgia pode ser visto como uma publicação que se coloca na esteira de continuidade com o pensamento e uma prática consolidados no Concílio Vaticano II, graças à ação de pioneiros como o Padre Joseph Gelineau, que influenciou, com seu pensamento e obra, textos tão importantes para a liturgia com a Constituição Sacrosanctum Concilium e a Instrução Musicam Sacram”, escreve Eliseu Wisniewski.
Eliseu Wisniewski é mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná, presbítero da Congregação da Missão (padres vicentinos), Província do Sul, e professor na Faculdade Vicentina, em Curitiba.
Flavio Rampazzo: frade franciscano, professor de Liturgia no Instituto Teológico Laurentianum de Veneza e na Escola Diocesana de Música para a liturgia de Pádua; Massimo Canova: sacerdote, diretor da Escola Diocesana de Música para a Liturgia e Diretor do Coro da Catedral de Pádua, Gianmartino Durighello: compositor e musicológo, professor no Conservatório de Castelfranco Veneto (Treviso-Itália) são os autores da obra: Cantar a liturgia: perfil histórico-teológico e indicações espirituais (Loyola, 2022).
Cantar a liturgia: Perfil histórico-teológico e indicações pastorais | Divulgação
Os autores ressaltam que este “trabalho de reflexão comunitária nos enriqueceu com a experiência de pessoas sensíveis e atenciosas com a liturgia e a pastoral da Igreja. Juntos tentamos buscar, de um lado, respostas claras acerca do significado do canto e da música na liturgia, e de outro, indicações adequadas em vista de uma participação sempre mais ativa de nossas assembleias mediante o canto e a música” (p. 14).
Trazendo elementos históricos-litúrgicos e pastorais-litúrgicos as reflexões desta obra estão estruturadas em quatro partes:
1) A música litúrgica na história (p. 17-66);
2) O canto e a música como ação simbólica (p. 67-78);
3) O canto e a música como celebração (p. 79-146);
4) Propostas pastorais (p. 147-168).
Na primeira parte busca-se captar aquilo que se constitui ao longo dos séculos como valor constante e individualizar aquilo que é contingente captando das várias experiências históricas os aspectos positivos, mas também os erros e as ambiguidades, no encontro ou na discrepância entre os limites de pensamento, as indicações do magistério e a práxis celebrativa” (p. 19). Especificamente os capítulos desta parte abordam:
1) a música e canto na liturgia dos primeiros séculos (p. 21-27);
2) as épocas romano-franca e romano-germânica na liturgia (p. 29-31);
3) a decadência da vida e espiritualidade litúrgicas na era da ars antiqua e da ars nova nos séculos XII-XIV (p. 33-36);
4) a era de ouro da polifonia (p. 37-39);
5) o barroco (p. 41-42);
6) a música litúrgica no século do Iluminismo (p. 43-44);
7) o romantismo (p. 45-48);
8) o movimento litúrgico musical no século XIX e o Motu Próprio Tra le sollecitudini de Pio X (p. 49-52);
9) o renascimento na primeira metade do século XX (p. 53-55);
10) o Concílio Vaticano II e a renovação da liturgia na segunda metade do século XX (p. 57-66).
Nesta parte verifica-se “como o canto e a música, realidades profundamente enraizadas na cultura da humanidade, estiveram, desde o início dos tempos, a serviço da oração na igreja, não obstante as dificuldades encontradas ao longo dos séculos. Também o Concílio Ecumênico Vaticano II teve a oportunidade de sublinhar a grande importância da presença do canto e da música na liturgia, definindo-a como parte necessária e integral da liturgia” (p. 165).
Na segunda parte busca-se responder as seguintes questões: Por que cantar a liturgias? Porque a música e o canto começaram a fazer parte necessária e integrante da liturgia cristã? Por que se pede aos cristãos que celebrem cantando? O que fazer e como fazer para que este gesto seja verdadeiro, bem feito, correspondente à natureza e às características da assembleia, às exigências do evento que se celebra e do momento ritual em que esse gesto se coloca? Neste horizonte aborda-se o canto e a música como linguagem simbólica (p. 73-78).
Na terceira parte os autores se detêm na “consideração da participação da liturgia mediante o canto e a música por parte dos protagonistas da celebração e por parte de quem, neste setor em particular, assume dentro da comunidade alguns papéis específicos” (p. 812), para em seguida promover uma “reflexão acerca dos critérios de escolha dos textos dos cantos e o uso dos instrumentos musicais na liturgia” (p. 81). Quanto a participação e papéis na liturgia chama-se a atenção para:
1) a assembleia (p. 83-85);
2) o presidente da liturgia (p. 87-88);
3) o animador musical (p. 89-91);
4) o salmista (p. 93);
5) o coro (p. 95-98);
6) o dirigente do coro (p. 99-106);
7) o cantor solista (p. 107-108);
8) os instrumentalistas (p. 109-118);
9) textos e melodias na celebração (p. 119-124);
10) gêneros e formas do canto litúrgico (p. 125-137);
11) música e canto gravados (p. 139-140);
12) subsídios para a música e o canto (p. 141-142);
13) documentos sobre a música e o canto litúrgicos (p. 143-146).
Na quarta parte busca-se propor algumas linhas de ação que posam dar uma resposta a estes questionamentos: O que fazer para ajudar as nossas assembleias a exprimir sua fé também recorrendo ao canto? O que fazer para que uma assembleia cante a liturgia, ou melhor, cante a liturgia? Os autores destacam ser fundamental:
1) recriar o ambiente da música e dos cantos litúrgicos (p. 151-152);
2) um projeto, um programa e uma regência atenta à assembleia que celebra (p. 153-157);
3) animar a assembleia que canta (p. 159-162).
Quanto ao que fazer para que a assembleia cante, os autores observam que é preciso estar atentos a três tipos de intervenções pastorais, ou seja, “uma catequese de base para recriar o ambiente vital da música e do canto litúrgico; uma programação cuidadosa e responsável – bem como a criativa – que fosse fiel à pessoa, á comunidade e ao evento celebrado; uma animação concreta, válida e incisiva da assembleia que celebra com o canto e a música” (p. 163).
No Apêndice (p. 169-194) são apresentados algumas fichas de caráter monográfico inerentes:
1) ao lugar dos ministros do canto (p. 173-175);
2) aos atores do canto: papéis presidenciais, solistas, corais e da assembleia (p. 175-177);
3) o canto e o rito: a relação entre beleza artística e funcionalidade litúrgica (p. 177-180);
4) Melos e Logos: relação entre canto e texto (p. 180-183);
5) aos instrumentos (p. 183-186);
6) à língua (p. 186-189);
7) ao saber distinguir-escolher entre o que é sacro e o que profano (p. 189-194).
O Anexo à edição brasileira traz um texto do Padre José Weber no qual aborda – A música litúrgica no Brasil a partir do Concílio Vaticano II: avaliando e corrigindo o rumo (p. 195-215). Nota que o “Brasil se destaca entre outros países na música litúrgica e na liturgia após o Concílio Vaticano II. Isto porque a CNBB assumiu como prioridade essas duas disciplinas e sempre teve assessores para cultivar e incentivar a ambas. Nesta caminhada de renovação, caminhamos muito bem. De vez em quando aconteceram pequenos desvios de rota, mas agora é tempo de corrigirmos e voltarmos ao caminho que o Concílio nos indicou. Uma boa crítica construtiva é importante para melhor seguir com segurança e conhecimento neste caminho aberto pelo Concílio” (p. 195).
Nestas páginas, o objetivo dos autores é colocar em foco, de modo bastante claro, a importância da presença do canto e da música na liturgia, com a finalidade de obter uma participação sempre mais ativa da assembleia cristã na celebração litúrgica. Notam que “canto e música são parte necessária e integral da liturgia, não simplesmente pelo fato de que a liturgia se torna mais bonita e mais solene, mas sobretudo porque, graças à sua particular carga simbólica, colocam o fiel em comunhão com Deus, como nenhuma outra linguagem humana sabe fazer” (p. 165).
Assim sendo esta obra é destinada à formação dos animadores musicais das celebrações cristãs. É um guia simples, mas bem fundamentado, sobre os critérios para escolher a músicas e os cantos adequados de modo a se tornarem parte integrante da liturgia. José Weber qualifica esta obra dizendo que “é um livro abrangente e que aborda todos os aspectos da música litúrgica: a história da música na liturgia, as elaborações do Concílio Vaticano II, o aspecto pastoral da música litúrgica, bem como os avanços e retrocessos do pós-concílio. Assim, Cantar a Liturgia pode ser vista como uma publicação que se coloca na esteira de continuidade com o pensamento e uma prática consolidados no Concílio Vaticano II, graças à ação de pioneiros como o Padre Joseph Gelineau, que influenciou, com seu pensamento e obra, textos tão importantes para a liturgia com a Constituição Sacrosanctum Concilium e a Instrução Musicam Sacram”.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Cantar a liturgia: perfil histórico-teológico e indicações pastorais. Artigo de Eliseu Wisniewski - Instituto Humanitas Unisinos - IHU