Questionamento do pregador da Casa Pontifícia visa "preservar os crentes" e resgatar os que vivem "no verdadeiro 'buraco negro' do universo espiritual".
O comentário é de Patricia Fachin, jornalista, graduada e mestre em Filosofia pela Unisinos.
"Por que falar disto em uma liturgia da Sexta-feira Santa?" A pergunta do pregador da Casa Pontifícia, cardeal Raniero Cantalamessa, depois de sua exposição sobre a morte de Deus, proclamada por Nietzsche, e o niilismo que daí decorre, é mais do que oportuna para a ocasião. E o é, pelo menos, por duas razões.
Primeiro, para lembrar aos cristãos que, muito antes do filósofo, a própria Igreja anunciou, celebrou e celebra esta data. Segundo, para nos lembrar que nós próprios, muitas vezes, na vivência do cotidiano, não proclamamos o anúncio que será feito no domingo, o da ressurreição do Filho de Deus, mas, antes, o matamos mais e mais dentro de nós.
Respondendo à própria questão, na celebração da Paixão do Senhor, nesta Sexta-feira Santa, 07-04-2023, Cantalamessa observou que a pergunta não tem a finalidade de convencer os ateus sobre esta verdade, mas, antes, "preservar os crentes". A observação igualmente não poderia ser mais oportuna em um momento em que muitos, apesar de se autodenominarem cristãos, vivem "no verdadeiro 'buraco negro' do universo espiritual"; não creem nem proclamam a morte e a ressurreição de Deus, tampouco confiam em sua providência.
Mas, para nós, que matamos Deus a cada dia, ainda bem que restam as palavras de Jesus, antes de entregar o espírito:
“Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem!” (Lc 23,34).