06 Abril 2023
Se a sinodalidade tem a ver com a renovação no Espírito Santo, então uma renovação da liturgia é uma das formas que a sinodalidade deve assumir.
A reflexão é de Thomas O’Loughlin, presbítero da Diocese de Arundel e Brighton e professor emérito de Teologia Histórica da Universidade de Nottingham, na Inglaterra.
O artigo foi publicado por La Croix International, 28-03-2023. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Quando pergunto aos “católicos comuns” o que eles pensam de todas as discussões sobre a sinodalidade e o chamado do Papa Francisco para que nos tornemos uma Igreja sinodal, geralmente recebo olhares vagos. Alguns assumem que eu sou um daqueles tipos acadêmicos que gostam de fazer perguntas irrelevantes; outros simplesmente dizem que não têm a menor ideia do que eu estou falando.
É melhor enfrentarmos uma verdade incômoda: enquanto teólogos e clérigos estão irrequietos em relação à sinodalidade – alguns ansiosos, outros desdenhosos –, para uma porção muito grande do Povo de Deus, é apenas uma nova ideia complicada que faz pouco sentido.
É melhor esclarecer o que eu quero dizer com “católico comum”. Refiro-me a alguém que não é clérigo, nem membro de algum grupo especial dentro da Igreja (como um grupo de oração, ou o coral, ou o conselho paroquial), e que provavelmente não assina nenhum serviço especial de notícias religiosas, seja o La Croix ou a The Tablet – e que provavelmente apenas passa em frente dos vários panfletos, revistas e jornais diocesanos que ficam na parte de trás dos edifícios da igreja.
Assim, surge a pergunta: o que chegará até esse grande grupo de irmãs e irmãos? Como sua experiência como discípulos será tocada e aprimorada pela nossa virada para a sinodalidade?
Se todo esse movimento deve ser mais do que apenas palavras, ele deve dar aos discípulos uma experiência litúrgica mais rica. Isso porque é na liturgia que a maioria dos católicos comuns faz a experiência do que significa ser Igreja.
Essa experiência, de alguma forma, deve fazer três coisas:
1) Deve envolvê-los como indivíduos dentro de uma comunidade.
2) Para ser fiel à visão fundamental da sinodalidade, deve envolver uma escuta mais profunda da palavra de Deus e uns dos outros.
3) Deve levar a um maior senso da própria dignidade como irmãos e irmãs no batismo, chamados como povo a oferecer louvor e ação de graças ao Pai.
Se a sinodalidade tem a ver com uma renovação no Espírito, então uma renovação da liturgia é uma das formas que a sinodalidade deve assumir.
Veja esta fotografia tirada em uma celebração da Eucaristia na Paróquia Universitária em Leuven, Bélgica.
A Begijnhofkerk foi reorganizada para mostrar que nos reunimos para ouvir a Palavra de Deus cada vez que celebramos. (Foto: Frank Bruggeman)
Nessa disposição, a Palavra de Deus está sendo partilhada entre as pessoas reunidas. A assembleia está organizada de modo que seja um evento comunitário de escuta. As pessoas não estão consumindo uma mensagem que está sendo distribuída lá na frente de um auditório.
Nós somos o povo da memória. Somente quando recordamos “as ações poderosas de Deus” é que podemos reconhecer a nossa identidade como discípulos do Cristo.
Escutar não é apenas ouvir palavras; é dar às palavras uma chance de penetrarem em nós. No entanto, a maioria dos católicos comuns está disposta em fileiras de bancos, como crianças em uma sala de aula antiquada. Agora, sabemos que um auditório só funciona como um local de comunicação para aqueles que já estão altamente envolvidos, mas (60 anos após a reforma litúrgica) esse formato, embora muito melhor, é estranho para a maioria dos católicos.
Vale a pena notar que, nessa igreja, eles não fizeram nenhum trabalho elaborado de reforma arquitetônica – eles apenas dispuseram as cadeiras mais ou menos em círculo, porque isso permite que as pessoas sintam que são uma comunidade e ajuda a focar as pessoas em sua escuta.
A grande mudança na liturgia no Vaticano II foi uma mudança da noção de um presbítero que celebra em nome dos batizados para o reconhecimento de que, como filhos e filhas de Deus, nós todos estamos celebrando a bondade de Deus. Somos todos celebrantes.
Mas como o católico comum consegue ter uma experiência disso?
Olhem esta fotografia:
A Begijnhofkerk foi reorganizada para que todos possam ficar em pé ao redor da mesa do Senhor (Foto: Frank Bruggeman)
Não somos consumidores na Eucaristia. Somos convidados.
Essa fotografia permite-nos recordar as palavras da Primeira Oração Eucarística: “Lembrai-vos, ó Pai, dos vossos filhos (famuli) e filhas (famulae) e de todos os que circundam este altar (omnes circumstantes)...”.
Somos uma comunidade celebrante.
Para criar raízes, a sinodalidade exigirá uma experiência de solidariedade no discipulado. E é em uma disposição como essa que a solidariedade pode se tornar uma experiência semanal.
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A sinodalidade, a liturgia e os católicos comuns. Artigo de Thomas O’Loughlin - Instituto Humanitas Unisinos - IHU