24 Outubro 2022
A fase final do Sínodo sobre a Sinodalidade agora será dividida em dois encontros, em outubro de 2023 e em outubro de 2024.
A reportagem é de Christopher Lamb, publicada em The Tablet, 20-10-2022. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O Papa Francisco fez uma “surpresa sinodal” no domingo passado, quando anunciou que a fase final do Sínodo sobre a Sinodalidade, prevista para outubro de 2023, agora será dividida em duas reuniões, das quais a segunda será um ano depois, em outubro de 2024.
A decisão de estender o Sínodo global por mais um ano é significativa. Uma fonte em Roma me disse que isso indica que o papa pretende permanecer no cargo até pelo menos o fim de 2024.
Por outro lado, existe a possibilidade de um conclave ocorrer no meio do processo, da mesma forma que o Concílio Vaticano II foi iniciado por um papa (João XXIII) e levado até sua conclusão por outro (Paulo VI).
A extensão do Sínodo sugere três coisas.
Primeiro, ressalta que se trata de um processo, e não de um evento único: Francisco quer que a sinodalidade se torne o que ele chama de parte “constitutiva” da Igreja.
A decisão de estender a fase final do Sínodo em duas sessões mostra que ele acredita que é necessário mais tempo para que o caminho sinodal seja incorporado na vida da Igreja e é um reconhecimento implícito da resistência ao processo. Também procura enfrentar a mentalidade de alguns ambientes de que o Sínodo estará “superado” em breve.
Em segundo lugar, reconhece-se que as mudanças na disciplina e os desenvolvimentos no magistério precisam de um processo cuidadoso de assimilação e não podem ser apressados.
O papa fez seu último anúncio dois dias depois de se encontrar com a equipe de liderança da Secretaria do Sínodo e de ter lido a síntese daquilo que as Igrejas locais e as comunidades em todo o mundo vêm dizendo. Pedidos de papéis expandidos para as mulheres, de inclusão dos católicos LGBT e para que o problema do clericalismo seja enfrentado aparecem com destaque. Todas essas questões provavelmente serão muito contestadas.
Os “frutos do processo sinodal em curso são muitos”, disse Francisco no domingo passado, mas ainda precisam chegar à “plena maturidade”.
Terceiro, ao estender a fase final do Sínodo ao longo de dois anos, é menos provável que ele fique atolado em um confronto ideológico. Em vez de procurar dar a última palavra, a reunião de outubro de 2023 será um passo importante em uma jornada mais longa.
Algo semelhante ocorreu durante o Sínodo sobre a Família em 2014 e 2015: o tempo adicional permitiu que os bispos encontrassem uma solução para a contestada questão da Comunhão para os católicos divorciados e recasados, levando o papa a abrir um caminho para que isso ocorresse, em seu documento magisterial Amoris laetitia.
Também é possível que, quando Francisco se reunir com os bispos no Vaticano em 2023 e 2024, ele procure demovê-los de votarem em questões específicas, mas, em vez disso, busque um consenso sobre os princípios de uma Igreja sinodal.
Ao longo deste pontificado, o Sínodo dos Bispos tornou-se o veículo por meio do qual o papa implementou sua agenda pastoral. A estrutura, no entanto, está evoluindo, e, em 2018, no documento Episcopalis communio, Francisco abriu a possibilidade de o Sínodo exercer uma autoridade magisterial formal.
Embora o papa tenha a palavra final, a autoridade do Sínodo foi significativamente reforçada.
Outra evolução se deu em nome da estrutura sinodal, que, na constituição de Francisco para a Cúria Romana, Praedicate Evangelium, é chamada de “Sínodo” em vez de “Sínodo dos Bispos”. Isso sugere um desejo de um órgão que inclua todo o Povo de Deus e não apenas a hierarquia, embora sejam principalmente os bispos que se reúnem em assembleia no Vaticano.
Com sua maior autoridade e um maior período de tempo, alguns compararam o Sínodo global a um “Vaticano III”. Um sínodo, no entanto, não é um concílio ecumênico, e o Sínodo global é uma tentativa de implementar as reformas do Vaticano II, não de convocar um sucessor.
A estrutura do Sínodo dos Bispos, no entanto, foi estabelecida pelo Papa Paulo VI em 1965 no fim do Vaticano II, para dar continuidade à experiência conciliar. A mudança para uma Igreja sinodal poderá levar, eventualmente, em longo prazo, a um Vaticano III?
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Sinodalidade: qual o significado da última surpresa do papa? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU