“Alarga o espaço da tua tenda”. Documento continental do sínodo reconhece as pessoas LGBTQIA+ como uma questão pastoral urgente

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28 Outubro 2022

O Vaticano divulgou ontem o último documento de trabalho para o Sínodo sobre a Sinodalidade, que incluiu questões LGBTQIA+ em dois pontos. O documento é um sinal para que católicos e aliados LGBTQIA+ continuem participando do processo sinodal.

A reportagem é de Robert Shine, publicada por New Ways Ministry, 27-10-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.

O documento de trabalho de 56 páginas, “Alarga o espaço da tua tenda (Is 54, 2)”, é o culminar da primeira fase de escuta local do Sínodo realizada desde outubro de 2021. É compilado a partir das sínteses desta fase recebidas de 112 das 114 conferências episcopais do mundo, além de outros relatórios, como os de dicastérios do Vaticano e congregações religiosas.

Abrangendo o escopo das questões abordadas e enfatizando fortemente uma igreja inclusiva, as questões LGBTQIA+ são mencionadas explicitamente em dois pontos. No parágrafo 39, o texto observa que as pessoas LGBTQIA+ estão entre aquelas que sentem “uma tensão entre pertencer à Igreja e seus próprios relacionamentos amorosos”. A necessidade de abordar as relações entre pessoas do mesmo sexo aparece explicitamente na mesma seção:

39. Entre aqueles que pedem um diálogo mais incisivo e um espaço mais acolhedor, encontramos também aqueles que, por diversas razões, notam uma tensão entre a pertença à Igreja e as próprias relações afetivas, como por exemplo: os divorciados recasados, as famílias monoparentais, as pessoas que vivem num casamento polígamo, as pessoas LGBTQIA+, etc. As sínteses mostram como este pedido de acolhimento interpela muitas Igrejas locais: ‘As pessoas pedem que a Igreja seja um refúgio para quem está ferido e caído, não uma instituição para os perfeitos. Querem que a Igreja encontre as pessoas onde quer que estejam, que caminhe com elas em vez de as julgar e construa relações reais por meio do cuidado e da autenticidade, não com sentido de superioridade’ (CE USA). Deixam também emergir incertezas quanto ao modo de dar respostas e exprimem a necessidade de um discernimento por parte da Igreja universal: ‘Há um fenômeno novo na Igreja que é uma novidade absoluta no Lesoto: as relações entre pessoas do mesmo sexo. [...] Esta novidade representa um motivo de perturbação para os católicos e para quantos consideram isso um pecado. Surpreendentemente há católicos no Lesoto que começaram a praticar este comportamento e esperam que a Igreja os acolha, bem como o seu modo de se comportarem. [...] Trata-se de um desafio problemático para a Igreja, porque estas pessoas se sentem excluídas’ (CE Lesoto). Também os que deixaram o ministério ordenado para se casarem pedem maior acolhimento e disponibilidade para o diálogo”.

No parágrafo 51, que se concentra na necessidade de a Igreja ser sensível aos contextos culturais, o documento cita o seguinte da conferência episcopal sul-africana:

“[...] ‘A África austral sofre também o impacto das tendências internacionais da secularização, do individualismo e do relativismo. Temas como o ensinamento da Igreja sobre o aborto, a contracepção, a ordenação das mulheres, os padres casados, o celibato, o divórcio e a passagem a novo casamento, a possibilidade de receber a comunhão, a homossexualidade, as pessoas LGBTQIA+ foram referidas em todas as Dioceses, tanto rurais como urbanas. Foram referidos pontos de vista diferentes e não é possível formular uma posição definitiva da comunidade sobre nenhuma destas temáticas’ (CE África do Sul)”.

No parágrafo 40, o documento observa que, apesar das diferenças, “existem semelhanças notáveis entre os vários continentes em relação aos que são percebidos como excluídos, na sociedade e também na comunidade cristã”. Entre eles estão pessoas discriminadas por causa de “raça, etnia, gênero, cultura e sexualidade”.

Francis DeBernardo, diretor executivo do New Ways Ministry, elogiou este documento como representando um “novo momento” na discussão da Igreja sobre gênero e sexualidade. Em comunicado, ele explica:

É uma ótima notícia que o novo documento do Vaticano sobre o sínodo global menciona que a marginalização das pessoas LGBTQIA+ é uma forte preocupação pastoral relatada por muitas conferências episcopais nacionais. Este documento é uma evidência de que estamos em um novo momento de conversa sobre questões LGBTQIA+ na Igreja Católica”.

DeBernardo acrescenta:

O documento reconhece que as questões LGBTQIA+ se tornaram centrais para as discussões católicas hoje. Durante décadas, esses tópicos mal foram mencionados e, se foram levantados, foram em um espírito de condenação, não de preocupação pastoral”.

O fato de que a inclusão LGBTQIA+ foi levantada neste documento indica que este é um tópico de preocupação global, não apenas uma brincadeira de algumas nações ocidentais. O documento menciona especificamente que o questionamento do ensino da Igreja sobre questões LGBTQIA+ foi amplamente levantado, por exemplo, em contextos africanos, incluindo ‘dioceses rurais e urbanas’”, explica.

DeBernardo atribuiu dois fatores que levaram à inclusão de sexualidade e gênero no relatório: a forte participação de católicos LGBTQIA+ e aliados na fase local do processo sinodal; e a liderança do escritório do Sínodo do Vaticano claramente ouvindo os fiéis levantarem tais questões. DeBernardo conclui: “Esperamos que essa mudança de curso continue com uma escuta, discussão e diálogo mais profundos e profundos”.

O próximo passo do processo sinodal é a Fase Continental. Este passo começa com a reflexão sobre o novo documento de trabalho a nível diocesano, depois passa para as assembleias episcopais continentais. Por fim, a partir de março de 2023, o escritório do Sínodo do Vaticano divulgará mais um documento para preparar a reunião do Sínodo dos Bispos em Roma em outubro próximo.

 

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