12 Junho 2023
Nestes mais de 10 anos de pontificado, sempre que o Papa Francisco teve problemas de saúde – que aumentam já que passou dos 76 para os 86 anos - três grandes questões apareceram: a renúncia do Papa, o vácuo de poder no topo da Igreja e, finalmente, os tumores que as muitas fantasias espalhadas por todos os cantos colocaram no cérebro, no intestino, no fígado e onde mais for. Essa dinâmica substancialmente midiática sempre existiu, inclusive no caso de outros Pontífices. A saúde e a renúncia dos Papas estão entre os temas que mais atraem a imprensa. Neste sentido, o Papa Bergoglio, juntamente com o Papa Wojtyla, são os Papas mais 'populares'.
A reportagem é publicada por Il sismógrafo, 10-06-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
No caso do Papa Francisco, deve-se ressaltar que ele, pessoalmente, ajudou a alimentar deliberadamente muitas fantasias, previsões, controvérsias e revelações sobre os três temas mencionados. O Papa argentino é de todos os Bispos de Roma, desde São Pedro até hoje, o que mais falou sobre sua saúde e sua renúncia. Inclusive inspirou um livro de grande sucesso sobre a saúde dos Papas do escritor-médico argentino Nelson Castro que, na verdade, queria escrever sobre a morte dos Pontífices. Francisco o fez mudar de ideia. ("A saúde dos papas. Medicina, tramas e fé de Leão XIII a Francisco" - Piemme, 2021)
No caso do terceiro tema recorrente – a mudança de liderança da Igreja, a Sede vacante e o Conclave – Francisco sempre foi muito cauteloso, mesmo que algumas vezes tenha tocado na questão. Certa vez, fez isso após sua hospitalização em 2021: "Alguns me queriam morto ...” "Eu sei que houve até encontros entre prelados que pensaram que o estado do papa era mais grave do que estava sendo dito" (Eslováquia, setembro de 2021).
No caso desta última internação para correção do problema de hérnia abdominal, duas novidades notáveis foram registradas: a primeira é a prontidão e transparência das informações vaticanas (dentro dos limites impostos pela privacidade) e a segunda, por ter dado voz aos médicos que assinaram comunicados clínicos e puderam, por meio do chefe da equipe médica, dr. Sergio Alfieri, se comunicar com a imprensa sem manipulações, em total liberdade.
Essa mudança – momentânea ou definitiva? – foi possível por dois motivos.
1) A pressão de uma importante parte da imprensa que tinha chegado ao limite por demasiadas imprecisões, meias-verdades – e até mentiras! – comunicadas ou sugeridas pelo Vaticano a algum jornalista alistado e não muito livre, no caso, por exemplo, da internação de Francisco por “bronquite infecciosa”. Definir a hospitalização de um Papa que chegou em "código vermelho" como "controles agendados" foi a gota d’água.
2) A consciência tardia, mas sempre útil dos erros cometidos de forma infantil, inexplicável na comunicação dirigida diretamente pelos gabinetes da Secretaria de Estado. Erros que colocaram em dúvida a real competência do aparato burocrático que assiste o Papa.
Neste caso, fala-se da comunicação ligada à saúde do Papa e não da comunicação vaticana em geral. Nenhuma consequência pode ser tirada dessas observações circunscritas para todas as informações do Vaticano, que continuam sendo algo enigmático e muito problemático. É um capítulo aberto. Temos que esperar ainda e bastante.
Por enquanto só sabemos duas coisas verdadeiras e definitivas:
- A frágil saúde de ferro de Jorge Mario Bergoglio é relativamente boa e ele - fato importante - consegue reagir bem diante das patologias da idade.
- o Pontífice não tem nenhuma neoplasia, nenhum tumor e, portanto, essas elucubrações podem terminar.
São considerações que o Pontífice, num futuro próximo, quando voltar a falar sobre a última internação, certamente confirmará tudo em benefício de uma janela de transparência que se abriu nos últimos dias. Não se deve desperdiçar essa pequena grande conquista de fundamental importância para um pontificado que há tempos vem perdendo credibilidade entre muitos católicos e não católicos.
Atualização. Das declarações de sábado, 10 de junho, por volta das 13 horas, do dr. Sergio Alfieri, o cirurgião que operou o Papa na quarta-feira passada, também se observa que o pontífice não tem e nunca teve patologias cardíacas. E isso desmente outras confabulações que circulavam há muitos anos.
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Renúncia, sede vacante e tumores... os mantras da imprensa sempre que o Papa Francisco passa mal. É sempre melhor a verdade - Instituto Humanitas Unisinos - IHU