03 Junho 2023
O artigo é de Julio Pernús, doutor em filosofia pela Universidad de La Habana, comunicador da Companhia de Jesus na República Domincana, redator da revista Amor y Vida, publicado por Religión Digital, 29-05-2023.
"A liderança inaciana não é apenas gestão, mas um desperdício de vida interior focada na realidade, algo que tem a capacidade de convencer e arrastar." Com esta frase do jesuíta José María Guibert, quero iniciar este diálogo para compartilhar algumas das principais características que a Companhia de Jesus propõe para transformar uma pessoa em um bom líder.
Durante uma aula de humanidades que leciono em uma universidade jesuíta na República Dominicana, perguntei aos alunos sobre alguns líderes mundiais que, pelo seu modo de proceder, teriam chamado a atenção deles. Vários faziam referência a cantores, políticos, empresários, mas o ponto comum era que a menção ao nome de Ignacio de Loyola não aparecia entre eles. Sei que os nascidos na Azpétia em 1491 não se importariam se esquecessem o seu legado, mas com este artigo propus-me mostrar que os conhecimentos do fundador dos jesuítas podem ser muito úteis para qualquer líder mundial, mesmo no século XXI.
Com mais de quinhentos anos de peregrinação, a espiritualidade inaciana nos mostra que um bom líder precisa ter um profundo conhecimento interior, e a grande ferramenta que Inácio propõe para alcançar esse desejo é a oração. Ela nos levará a um lugar privilegiado para o cultivo do nosso ser, seguindo como paradigma a pessoa de Jesus. A proposta é que nos deixemos olhar por Ele para que a sua presença nos revele a nossa verdade mais profunda.
Aa cinco características de um bom líder inaciano são: ser uma pessoa agradecida, com vontade de amar mais e melhor, generosa e livremente; lúcida e atenta à sua liberdade interior, procurando libertar-se do medo, dos apegos ou da imagem; livre de fundamentalismos e maniqueísmos, capaz de trabalhar com mediações concretas que vão além do angelismo e das evasivas; protagonista e responsável, mas que se deixa acompanhar pessoalmente e em grupo; humilde, que busca confirmação e que aceita que pode errar, sem se acreditar infalível.
Um elemento importante da liderança inaciana é o amor. Aquele amor que se infiltra nas histórias, nos acontecimentos e nas pessoas, que procura buracos onde possa continuar criando, gerando vida. Um bom líder inaciano gera diversos espaços nos quais surge a esperança e onde o sofrimento não derrota; lugares onde as pessoas permaneçam com dignidade, mesmo em situações de injustiça.
Num bom líder inaciano deve prevalecer a indiferença, que para o carisma jesuíta é um convite contínuo a libertar-se dos apegos do coração e das ameaças externas, para servir apenas a Deus e à sua causa. Santo Inácio tem uma expressão que é considerada a regra de ouro da vida interior dos jesuítas: “sair do próprio amor, desejo e interesse, como chave do crescimento pessoal e da busca do sentido da vida”. Sair de si mesmo é a chave que a espiritualidade inaciana propõe para o desenvolvimento pessoal. A partir desse desapego, a busca pelo sentido da vida será mais edificante e também a base para poder acompanhar e liderar.
Humberto Maturana, biólogo chileno candidato ao Prêmio Nobel e que escreveu sobre a biologia do conhecimento, entre outras coisas, afirmou que “o amor é a única emoção que aumenta a inteligência. O amor nos faz relacionar com os outros. Fazer o que se ama e amar o que se faz é o ideal”. A palavra líder vem de uma raiz indo-europeia que significa sair, avançar, avançar. A espiritualidade inaciana nos convida a sermos os capitães do nosso destino, exercendo continuamente nossa espiritualidade com a oração e colocando nas mãos de Deus o nosso desejo de transformar a realidade.
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Liderança Inaciana - Instituto Humanitas Unisinos - IHU