17 Mai 2023
"Mês passado assisti ao documentário produzido pela Disney, “Amén. Francisco responde”. Fiquei positivamente impactado com o diálogo realizado entre Papa Francisco e jovens provenientes de diferentes nações. É evidente que sua atitude cristã se centra na Compaixão. Além disto, mais do que as perguntas, provocativas e atuais, tocou-me a metodologia das respostas. Quem sabe, o modo de responder do Papa seja um daqueles sinais dos tempos mais eloquentes e inspiradores para uma primavera em nossa Igreja, sobretudo para o nosso ministério de jovens presbíteros. Resumo o meu parecer em três aspectos", escreve Ademir Guedes Azevedo, padre, missionário passionista e mestre em teologia fundamental pela Pontifícia Universidade Gregoriana, de Roma.
Eis o artigo.
Uma reviravolta linguística: por séculos, os papas escreviam encíclicas para propor temas de relevância. Hoje, quem poderá se debruçar na leitura de uma encíclica, a não ser os estudantes de teologia? Como seria possível compactuar as metanarrativas da linguagem do magistério com a rapidez e brevidade das mensagens digitais das redes sociais e dos aplicativos mensageiros? O Papa parece está interessado, como um idoso, em transmitir mais ensinamentos de sua vida do que escrever encíclicas. Por isso, ele se deslocou do centro para uma periferia de Roma e ali sentou-se para um diálogo aberto, sem nenhum receio das perguntas. O seu semblante demonstrava paciência e respeito. Enquanto os jovens levantavam as suas perguntas, ele não se apressava em responder, permanecia calado e atento ao seu interlocutor. Ele reflete primeiro e depois propõe.
A arte da maiêutica: Maia, a mãe de Sócrates, era uma parteira. Ajudava a dar à luz. Sócrates é apresentado por Platão em seus diálogos como um maiêutico: provocava seu interlocutor a dar à luz ele mesmo ao conhecimento que está dentro de cada um e fazia isso sempre levantando perguntas. O Papa é também como uma parteira e ao invés das velhas respostas da casuística, ele com seu modo perspicaz de responder ia conduzindo os jovens a tomar a estrada da compaixão e da ternura. Ele é um parteiro da bondade, daquela fé que não etiqueta a ninguém com rótulos religiosos e morais. Isto era tão forte na seção do diálogo sobre homossexualidade, pornografia e aborto. A melhor resposta será sempre o perdão e a acolhida, ou seja, o estilo de proximidade do Deus de Jesus.
Estilo samaritano: quem de nós está acostumado a sair da rotineira zona sacramental para ir além dos muros da religião e ter com aqueles que não sabem o nosso credo? A nossa formação nos acostuma a estudar e preparar homilias para as cômodas eucaristias do final de semana. Elas são importantes, pois também ali as pessoas encontram consolação para o peso da cruz. Imaginemos, contudo, que é possível um novo estilo de vida cristã (que venha incluso também a vida sacramental) a partir de gestos e atitudes, ou melhor, de ações samaritanas sem guerras religiosas. Para isto, talvez tenhamos que voltar o olhar mais para as ruas e o dia a dia, onde exatamente se cruzam as histórias e os rostos das pessoas, onde está o choro e o riso, a fé e a incredulidade, onde enfim a vida grita. O que este documentário me fez refletir foi: não basta só tocar na carne sacramental de Jesus e transcurarmos a sua carne no cotidiana da história, pois ali Ele também está encarnado.
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No movimento da Compaixão. Artigo de Ademir Guedes Azevedo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU