13 Junho 2022
Certamente a resposta é "não". Talvez se crie confusão com o fato de alguns leigos prepararem um livro que fala das três encíclicas do pontificado tentando construir um entrelaçamento orgânico do magistério de Francisco.
A reportagem é publicada por Il Sismografo, 11-06-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Na quarta-feira, 29 de junho, será o nono ano da primeira das três encíclicas do Papa Francisco, a Lumen fidei, lembrada como "escrita em parceria" porque, na realidade, uma parte significativa do documento havia sido elaborada e escrita por Bento XVI antes de sua renúncia efetiva a partir das 20h do dia 28 de fevereiro de 2013. Depois vieram as outras duas Encíclicas de Francisco: Laudato Si' (24 de maio de 2015) e Fratelli tutti (3 de outubro de 2020).
Agora, depois da avalanche de indiscrições e hipóteses sobre a renúncia do Papa, tema saboroso mas muito friável, estão colocando em circulação outra hipótese, sem fundamento nem indícios: o Papa Bergoglio estaria prestes a iniciar a redação de sua quarta encíclica.
De todas as fontes autorizadas consultadas, a resposta é apenas uma: um decidido "não" com reações de surpresa e incredulidade. Muitos dos procurados, após nossas perguntas, porém, recordaram de quando se soube que o Papa Francisco estava preparando sua terceira encíclica (Fratelli tutti - 2020). Naquela época dizia-se que seria um documento com referência especial à doutrina social da Igreja, aliás, centrado nesse relevante tema.
No final as coisas tomaram outro rumo e se chegou à estrutura final do Fratelli tutti que, na verdade, é uma espécie de resumo ou antologia - muito bem elaborada e escrita - do que já era conhecido publicamente na época como o encorpado magistério do Papa Francisco. Um detalhe nada pequeno confirma essa leitura. Essa encíclica tem 288 notas e pelo menos metade cita documentos deste magistério precisamente porque Francisco cria raciocínios e associações que dão um corpo orgânico aos seus ensinamentos, mantendo firme o horizonte último: a fraternidade humana.
Talvez seja possível dizer que a verdadeira encíclica social do Pontífice seja a Laudato Si', que ele mesmo definiu assim, embora focada em um tema hegemônico: nosso planeta, nossa casa comum. Na abertura, Francisco explica claramente: "Mais de cinquenta anos atrás, quando o mundo estava oscilando sobre o fio duma crise nuclear, o Santo Papa João XXIII escreveu uma encíclica na qual não se limitava a rejeitar a guerra, mas quis transmitir uma proposta de paz. Dirigiu a sua mensagem Pacem in terris a todo o mundo católico, mas acrescentava: e a todas as pessoas de boa vontade. Agora, à vista da deterioração global do ambiente, quero dirigir-me a cada pessoa que habita neste planeta. Na minha exortação Evangelii gaudium, escrevi aos membros da Igreja, a fim de os mobilizar para um processo de reforma missionária ainda pendente. Nesta encíclica, pretendo especialmente entrar em diálogo com todos acerca da nossa casa comum."
Para muitos estudiosos e conhecedores do magistério de Francisco, no entanto, é verdade que teria sido decisiva uma encíclica social aberta a todas as questões que a doutrina social da Igreja não atualiza há alguns anos. A última reflexão social doutrinária, orgânica, articulada e atualizada é do Papa Ratzinger (2005 - Deus caritas est), em que, no entanto, decidiu não abordar todos os novos temas no aguardo de maiores desenvolvimentos.
Desde então, nestes 17 anos, o mundo mudou radicalmente em muitas coisas e hoje, com a agressão russa em curso contra a Ucrânia, muitas outras coisas continuam a mudar e tudo isso afetou e afetará a esfera social que a Igreja, e sua perspectiva da "promoção humana", deve constantemente registrar, monitorar e classificar. Os Papas nos últimos anos falaram sempre que mudanças de qualquer tipo envolveram a doutrina social e a moral, mas parece evidente que teria sido uma contribuição significativa do magistério papal oferecer um corpo de ensinamentos codificados e legíveis neste campo, algo que teria ajudado e ajudaria ainda a discernir as consequências - negativas e positivas - das chamadas sociedades líquidas.
Ouvimos observadores e analistas do papado que pensam que o Papa Francisco quis deliberadamente descartar uma sua encíclica social específica, atualizada e pontual, sobretudo porque acredita que a rigidez doutrinária aplicada a processos sociais profundos, inclusive em andamento, atrapalha a criatividade e as respostas consensuais e, em particular, engessa o dinamismo eclesial.
Se sim, é um pensamento interessante que levanta outras questões e que ainda deixa tudo em aberto.
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Uma nova encíclica do Papa Francisco? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU