17 Março 2023
O Papa Francisco adotou uma abordagem disruptiva em relação à questão ambiental, quando outros poderiam ter ficado quietos.
O comentário é de Vanessa Nakate, ativista climática da Uganda e embaixadora da boa vontade do Unicef. Inspirada pela ativista sueca Greta Thunberg, ela foi a primeira jovem militante climática da Uganda e fundou o Rise Up Movement, um movimento de jovens que protestam pela ação climática em toda a África.
O artigo foi publicado por National Catholic Reporter, 16-03-2023. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O 10º aniversário do papado do Papa Francisco é uma oportunidade para refletir sobre seu legado até agora. Como ativista climática, acredito que sua luta contra o colapso climático e ambiental – as questões mais importantes do nosso tempo – é uma grande conquista.
O Papa Francisco adotou uma abordagem disruptiva, quando outros poderiam ter ficado quietos.
Em junho de 2015, alguns meses antes da COP-15, a cúpula climática das Nações Unidas que gerou o Acordo de Paris, o Papa Francisco publicou a Laudato si’, sua encíclica sobre os desafios das mudanças climáticas e as ameaças à nossa casa comum. Sua intervenção, sem dúvida, contribuiu para o ímpeto diplomático que fez com que o Acordo de Paris ultrapassasse a linha de chegada no fim daquele ano. Desde então, ele regularmente tem feito declarações sobre a ameaça representada pela degradação ambiental.
A franqueza do papa é vital. Um relatório da ONU de outubro passado sugeriu que estamos no caminho para um mundo mais quente em 2,8ºC - excedendo em muito o limite de “bem abaixo de 2ºC de aquecimento” acordado em Paris.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, chama isso de “catástrofe climática”. Esse aquecimento levaria ao colapso da produção agrícola, escassez de água e ondas de calor, secas e tempestades mais extremas em todo o mundo.
Na África oriental, de onde eu venho, estamos experimentando o começo brutal desse colapso climático. A Oxfam estima que 6 milhões de crianças da região sofrerão ou já estão sofrendo de desnutrição aguda.
Em setembro, eu visitei o condado de Turkana, no Quênia, uma região que sofre com uma seca devastadora, em grande parte como resultado de cinco estações chuvosas fracassadas. Certa manhã, encontrei uma criança em um hospital para onde são encaminhados os casos de desnutrição mais grave. O menino não conseguiu receber o tratamento de que precisava a tempo e, quando o sol se pôs naquela noite, ele faleceu.
Diante de tanto sofrimento, pode ser difícil continuar pensando e falando sobre as mudanças climáticas.
Tornei-me ativa no ativismo climático em 2019, como parte da Sextas-Feiras pelo Futuro, um movimento de jovens em greve pelo clima em todo o mundo. Houve muitos momentos desde então em que eu achei tudo isso opressor.
Às vezes, as lutas que enfrentamos – a obstrução de interesses estabelecidos, a falta de urgência dos líderes políticos – parecem muito difíceis de superar. Se eu confiasse apenas na esperança humana, acho que não estaria mais lutando. Mas a minha fé me fez continuar.
Espero que o Papa Francisco tenha dado a mesma inspiração a milhões de pessoas em todo o mundo.
Sou uma cristã renascida, membro do Phaneroo Ministries International em Uganda. Minha relação com Deus me dá esperança, a expectativa de algo bom. Isso me permite crer em algo que ainda não vi.
Em tempos de crise, devemos revelar o coração de Cristo, devemos revelar o amor de Deus. Devemos revelar a graça de Deus para com a humanidade. Devemos usar nossas vozes. Devemos usar nossas plataformas. Devemos defender nossos valores e fazer algo pelas comunidades que estão na linha de frente da crise climática.
Devemos refletir a natureza de Deus. Porque fomos feitos à imagem de Deus, podemos assumir a responsabilidade pelos peixes no mar, pelos pássaros no ar, pelos animais, pelas pessoas e pela própria Terra. Devemos aprender a fazer o bem. Devemos trabalhar pela justiça. Devemos ajudar quem está na linha de frente.
As lideranças religiosas têm uma influência significativa sobre as comunidades que lideram e têm a responsabilidade de prestar atenção à maior ameaça que o nosso mundo enfrenta. As comunidades religiosas podem desempenhar um papel crucial na transição das nossas sociedades para longe dos combustíveis fósseis e de outras fontes importantes de poluição. A fé pode fornecer a determinação necessária para acreditar que podemos mudar o mundo para melhor.
No 10º aniversário do papado do Papa Francisco, reflitamos sobre como podemos contribuir para salvar a Terra com a qual fomos abençoados para as gerações atuais e futuras.
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Vanessa Nakate, ativista da Uganda fala sobre as contribuições do Papa Francisco à luta contra as mudanças climáticas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU