15 Março 2023
Todos esperavam uma homilia dedicada aos dez anos de pontificado, um balanço desse caminho entre “bispo e povo” com algumas críticas aos cardeais da Cúria Romana, que concelebraram com ele. Mas o Papa Francisco, durante a missa presidida ontem [13-03-2023] de manhã na capela da residência Santa Marta, onde mora desde que foi eleito, em seu comentário após a leitura do Evangelho, concentrou-se na passagem do evangelista Lucas e na primeira leitura, tirada do segundo livro dos Reis, sem entrar nas questões mais espinhosas do Vaticano, mas lembrando aos presentes, como relatam alguns dos presentes na missa ao Il Giornale, que vivam o sacerdócio de modo silencioso, sem transformar em espetáculo.
A reportagem é de Fabio Marchese Ragona, publicada por Il Giornale, 14-03-2023. A tardução é de Luisa Rabolini.
Uma missa reservada, sem câmeras e fotógrafos, com a transcrição das palavras proferidas de improviso pelo pontífice que não foi entregue à imprensa, como geralmente acontece em todas as outras celebrações. Precisamente por essa opção de um clima reservado (desejada pelo Papa), muitos tinham presumido que Francisco tinha intenção de soltar o verbo, sobretudo a quem, nestes dez anos, não perdeu oportunidade de o criticar ou de remar contra ele, mais ou menos abertamente. “Preciso de vocês, mesmo que tenham 80 anos (idade canônica que exclui os cardeais do conclave, ndr)”, disse o Papa no final da missa, depois de agradecer pela presença a todos os cardeais. “Sempre preciso de seus conselhos”, acrescentou, “conselhos que vocês são obrigados a dar ao Papa como cardeais”. E voltou a pedir aos presentes que vivessem o sacerdócio animados por três sentimentos: compaixão, misericórdia e ternura, sinais que recordam o estilo de Jesus.
“Foi um momento muito bonito”, conta um dos cardeais que concelebrou a missa, animada por um pequeno grupo de cantores da Capela Sistina, “um grande momento de unidade da Igreja: nós cardeais junto com Pedro, que guia e nos guia no barco muitas vezes em meio à tempestade. Mas embora as ondas muitas vezes sejam altas e insidiosas, no final estamos sempre juntos, superamos todo desentendimento, como um pai faz com seus filhos”. O cardeal Giovanni Battista Re, decano do colégio cardinalício, que esteve no altar com o cardeal argentino Leonardo Sandri para a liturgia eucarística, leu um breve agradecimento em nome de todos, dedicando palavras de estima e afeto ao papa pelo serviço prestado realizou nesta década, que realiza e continuará realizando para a Igreja Universal. E Bergoglio, por sua vez, sempre no final da celebração, quis se entreter pessoalmente, logo à saída da sacristia, com cada um dos presentes, presenteando a todos os cardeais um livro do padre Antonio Spadaro, coirmão jesuíta e diretor da revista da Companhia de Jesus, a Civiltà Cattolica.
“O clima era realmente familiar”, relata outro cardeal, “estávamos todos presentes, nós que vivemos no Vaticano ou em Roma. A capela estava quase lotada - continua - estávamos nós, chefes de dicastério, mas também outros coirmãos, como o cardeal Gerhard Müller, arcipreste da Basílica de São Pedro, o cardeal Gambetti ou os mais idosos, como o cardeal Camillo Ruini, que apesar dos 92 anos chegou pontualíssimo. Antes de sair, quando já tínhamos tirado os paramentos sagrados, o Papa então brincou com cada um de nós”. - Pode nos contar o que ele lhe disse? “Aqui o conteúdo se torna mesmo reservado, são assuntos pessoais!”.
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A Missa com os cardeais: “Unidade e silêncio” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU