30 Novembro 2020
E quem diria que o jovem Mauro Gambetti – que aos 28 anos de idade, depois de se formar em engenharia, deixou a namorada e um futuro na empresa da família para entrar na ordem franciscana – se tornaria cardeal menos de 30 anos depois? Além disso, o mais jovem de todo o Colégio Cardinalício, aos seus 55 anos de idade. Primeiro franciscano conventual a receber a púrpura depois de mais de um século (antes dele, foi o frei Antonio Panebianco, criado por Pio IX em 1861).
A reportagem é de Salvatore Cernuzio, publicada por La Stampa, 27-11-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Guardião do Sacro Convento de Assis por cerca de oito anos, durante os quais acolheu o Papa Francisco por quatro vezes em Assis, Frei Mauro receberá o barrete vermelho no consistório do dia 28 de novembro. Com ele, também outros dois franciscanos capuchinhos: o Pe. Raniero Cantalamessa, pregador da Casa Pontifícia, e Celestino Aós Braco, arcebispo de Santiago do Chile.
“Eu já tinha deixado a minha família de origem quando decidi me tornar frade e, com São Francisco, encontrei muito mais de tudo. Não me faltou nada, e, ao contrário, todas as coisas me foram devolvidas em plenitude. Agora, o Senhor me chama a deixar a minha outra família dos frades de Assis, para entrar em uma família maior, a da Igreja universal que abraça os confins da terra. Vejo isso como uma árvore: as raízes estão bem plantadas no solo, mas a folhagem se expande cada vez mais”, comenta o novo cardeal.
Seu mandato como guardião já estava perto do fim. Para ele, já se levantava a hipótese de um cargo de prestígio, por exemplo como arcebispo de dioceses importantes como Bari ou Nápoles. Em vez disso, o papa surpreendeu a todos ao anunciar o seu nome entre o dos novos membros do Colégio Cardinalício.
Rumores persistentes agora o querem à frente de uma Congregação da Cúria Romana ou da basílica papal de São Pedro no Vaticano. Previsões que, neste momento, são prematuras, e que o Pe. Gambetti, figura esquiva com a mídia e distante dos holofotes, pouco importam. Qualquer cargo para ele deve ser enquadrado em uma perspectiva de “serviço”.
“Serviço que – diz ele – na minha experiência é, acima de tudo, se deixar contagiar pela vida dos outros, assumir a situação que o outro vive, os seus sentimentos, desejos, expectativas, sofrimentos. Trata-se de cuidar, mantendo a lucidez para tentar fazer o maior bem possível. Não se pode fazer tudo, mas se pode fazer o maior bem possível.”
O mesmo bem que o ex-guardião tentou realizar nos últimos anos (2013-2020) à frente do secular Convento de Assis, ganhando a estima da comunidade. Uma das cenas mais bonitas – que se tornou viral com um vídeo postado nas redes sociais – foi a dos frades reunidos no refeitório, após o anúncio do papa no Ângelus do dia 26 de outubro, que, na entrada do Pe. Mauro, gritavam: “Viva!” e tocavam as sinetas com as quais se costuma chamar para o almoço. Gambetti, visivelmente emocionado, pedia para não ser gravado e se esquivava das saudações e aplausos.
“Saúdo Assis, realidade única e admirável”, diz ele, “saúdo esta fraternidade onde fui acolhido, que me educou e me ajudou a fazer o bem para a Igreja.”
Como cardeal, a sua esperança é de levar consigo “tudo aquilo que de bom aprendi com São Francisco e que faz parte de minhas fibras: a simplicidade, a humildade, a liberdade, a alegria. Sim, a alegria, porque, dentro da experiência humana de qualquer gênero, existe a possibilidade de haurir nas fontes da alegria, o amor de Deus que nunca é negado, para construir redes de fraternidade”.
No domingo passado, o frade recebeu a ordenação episcopal, como previsto pela regra estabelecida pelo motu proprio de 1962 Cum gravissima, de João XXIII, segundo o qual todos os cardeais devem ser primeiro elevados à dignidade episcopal. A celebração, que, se não fosse pelas restrições da Covid, teria registrado uma participação enorme, ocorreu na Basílica Superior de São Francisco de Assis e foi transmitida ao vivo pelo canal Telepace e no site Sanfrancesco.org, acompanhada pelos comentários do Pe. Enzo Fortunato e de Vania De Luca, vaticanista da RaiNews24.
A celebração foi presidida pelo cardeal Agostino Vallini, legado pontifício para as basílicas papais de Assis, que, dirigindo-se ao “caro padre Mauro”, pediu-lhe que olhasse de agora em diante, como pastor, para “cada pessoa com olhos de um pai bom, simples e acolhedor, pronto para ouvir quem desejar se abrir a ele, um pai humilde e paciente”.
“Um mergulho do trampolim no mar aberto” foi a imagem usada pelo Frei Gambetti para descrever esta série de eventos que o levaram a receber o mais alto grau da hierarquia eclesiástica. “Existem momentos de virada na vida, que às vezes envolvem saltos. Eu considero este momento que eu estou vivendo como um mergulho do trampolim no mar aberto. Para dizer a verdade, não um simples mergulho, mas sim um verdadeiro triplo mortal carpado, em posição livre.”
Outra metáfora foi usada pelo Pe. Mauro Gambetti quando ele soube da notícia de que seu nome figurava entre os dos novos purpurados de 2020: “Brincadeiras do papa”, disse ele, garantindo que acolheria esse reconhecimento do papa “em espírito de obediência à Igreja e de serviço à humanidade em um tempo tão difícil para todos nós”.
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Padre Gambetti, cardeal com a humildade aprendida com São Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU