“Precisamos do Papa Francisco para ter esperança.” Entrevista com Enzo Fortunato, frei franciscano do Sacro Convento de Assis

Foto: Vatican News

Mais Lidos

  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • Dilexi Te: a crise da autorreferencialidade da Igreja e a opção pelos pobres. Artigo de Jung Mo Sung

    LER MAIS
  • Às leitoras e aos leitores

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

30 Março 2020

“O Papa Francisco nos deu um motivo para manter viva a esperança.” A voz do padre Enzo Fortunato, diretor da Sala de Imprensa do Sacro Convento de Assis, Itália, está abalada pela emoção, quando perguntado sobre a solitária e histórica bênção Urbi et Orbi na sexta-feira da Quaresma na Praça de São Pedro.

A reportagem é de Giacomo Salvini, publicada em Il Fatto Quotidiano, 29-03-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Ele e os franciscanos de Assis a assistiram na TV: “Quando eu o vi, pensei imediatamente em uma imagem do cardeal Henry Newman: ‘cor ad cor loquitur’, o coração do papa falou ao coração de Deus, e o coração de Deus falou ao coração do papa, que, naquele momento, representava as batidas da humanidade”.

Eis a entrevista.

O que mais o impressionou?

O pontífice nos assegurou de que Deus não nos deixará sozinhos neste momento de tempestade. Mas me impressionaram principalmente duas passagens. A primeira na qual ele recorda quando nos sentíamos “fortes em um mundo doente”: pois bem, antes desse vírus, não nos dávamos conta das feridas da humanidade e da Terra. Não escutamos o grito dos pobres, continuamos fazendo guerras e cultivando injustiças.

E depois?

Quando ele disse: “As pessoas começam a passar fome”. Ele nos levou para o outro lado desta tragédia, o dos últimos. Há pessoas que terão grandes dificuldades econômicas e começarão a não ter o que comer. O pontífice colocou a nudez do ser humano diante do Senhor: a do pobre que precisa de ajuda e a do rico que não tem mais certezas. As pessoas precisam do papa e da espiritualidade. As suas imagens dramáticas entraram nas vidas das pessoas: primeiro o papa que caminha pelo centro de Roma e, depois, que, como Moisés, implora a Deus, com as mãos levantadas, para que ajude o ser humano a vencer e a superar este momento.

As igrejas estão abertas, mas sem ritos.

Decidimos utilizar as redes sociais, porque queremos levar às suas casas o espírito e a palavra de São Francisco. Já fazíamos isso antes da epidemia, mas hoje, em Assis, fortalecemos o modo de comunicar a fé. Começamos a dialogar com jornalistas, artistas, sociólogos e teólogos para entender o que está acontecendo e para dar uma palavra de esperança. Como o telefonema de Renato Zero, que dialogou com os nossos seguidores: que canções podem falar com os nossos idosos? A vida deles não é um “suco”, é uma memória, disse Renato. Aquelas rugas, aquelas mãos calejadas devem ser o nosso guia todos os dias.

O que gostaria de dizer a eles?

Aos idosos, eu diria: “Eu os quero bem”. Devemos dizer isso a eles, devemos lhes agradecer. Hoje, somos levados a pensar que eles se tornaram démodé, que devem ser jogados fora.

E aos jovens que gostariam de sair de casa?

Eu digo: sejam rebeldes e obedientes, como São Francisco.

O que isso significa?

Rebeldes contra um mundo que não é bom para nós e obedientes porque o respeito pelas regras nos torna maiores.

Vamos nos reerguer?

É um momento dramático, mas também uma oportunidade, porque nos fará redescobrir as relações entre nós e Deus. Estou convencido de que vamos nos reerguer, mas, para isso, precisaremos dos anticorpos espirituais contra o vírus: esperança, respeito e coragem.

Como o governo [Giuseppe] Conte [primeiro-ministro italiano] está agindo?

Eu imagino o sofrimento deles: são chamados a tomar decisões muito difíceis, mas estou certo de que o governo está agindo pelo nosso bem. Eu o ouço e rezo por aqueles que estão tomando as decisões.

O primeiro-ministro está se tornando um guia para muitos.

Sim, precisamos ouvir a voz do presidente Conte e seguir a sua direção. Depois, há a espiritualidade de cada um de nós.

Ou seja?

Olhando para o céu destes dias, todos percebemos que ele está mais limpo. E não é apenas pelo smog que não existe mais: é pela profundidade das nossas perguntas e pelo anseio da nossa espiritualidade que nos ajudará a superar esta tragédia.

Leia mais