07 Março 2023
Centenas de pessoas se reuniram, neste domingo, em 18 cidades de todo o país [Espanha] para apoiar as reivindicações das feministas católicas pelo 8M. Convocadas pela plataforma Revuelta de las mujeres en la Iglesia, as participantes entoaram lemas como “caminhamos juntas pela igualdade e a dignidade na Igreja”, “com voz, com voto, assim Deus nos quer” e “nós somos a mudança”.
A reportagem é de M. M. Collado, publicada por Público, 05-03-2023. A tradução é do Cepat.
Como faz desde o ano 2020, a associação de feministas religiosas encheu as portas de algumas das mais importantes igrejas com lenços e velas roxas. Concretamente, em Madri, cerca de 200 pessoas se reuniram na Catedral de Almudena, onde tiveram acesso a uma apresentação que visibilizou, com cartazes e faixas, os trabalhos, oficinas e estudos realizados pelas integrantes Revuelta de las mujeres en la Iglesia, ao longo deste ano.
Além disso, explica ao Público Pepa Torres, porta-voz da plataforma, a apresentação buscou recuperar as genealogias de mulheres que marcaram e transformaram a Igreja e a Teologia. Sob esta ideia, retratos de figuras como Simone Weil, Teresa de Jesus e Edith Stein presidiram o evento. “Todas são referências, reformadoras, cuja memória nos lembra que a contribuição das mulheres para a Igreja nos faz avançar para um lugar melhor”, expressa Torres.
Durante a apresentação, as ativistas se juntaram às lutas “das mulheres do mundo” e se concentraram na feminização da pobreza, nos assassinatos machistas e no ecofeminismo. Nesta linha, lembraram “todas as mulheres que se veem forçadas a atravessar fronteiras porque o sistema econômico mundial empobrece seus países” e aquelas cujas vidas foram roubadas por aqueles que “deveriam ter sido seus companheiros, cúmplices e amigos, mas foram para elas seu maior inferno e seus predadores”.
Torres considera que a Igreja é “um dos grandes bastiões do patriarcado” e, apesar de ter avançado “em muitos outros aspectos”, as mulheres “ainda não têm acesso a todas as tarefas eclesiais”. A porta-voz da plataforma aponta que “no feminismo e no cristianismo não há contradição”, já que “as práticas libertadoras de Jesus com as mulheres” foram “absolutamente transgressoras do patriarcado”.
Algo semelhante é a opinião de Maria Frechilla, outra integrante da Revuelta: “Consideramos humilhante como deturpam os versos e os textos evangélicos. Por exemplo, como Maria Madalena é recuperada na história no século IV como uma prostituta, sendo que era uma mulher poderosa a quem Jesus de Nazaré enviou a mensagem explícita de evangelizar”. Frechilla lamenta que a história da religião católica “foi afastando e invisibilizando as mulheres”.
Em meio a esse contexto patriarcal e machista, as feministas católicas defendem a atualização das instituições religiosas e sua adequação “aos tempos atuais, em que a sociedade civil conseguiu enormes avanços em matéria de igualdade entre homens e mulheres”. Dentro da própria Igreja, em particular no Estado espanhol, “há mais de 40 anos, muitas mulheres cristãs feministas avançam com as teologias feministas”, defendeu Torres.
A associação reivindica que em todas as estruturas as vozes das mulheres tenham representação própria, maior presença. Também insistem na necessidade de que os documentos e materiais de formação eclesiástica sejam revisados para que nenhum deles fomente a subordinação das mulheres. Em definitiva, lutam para incorporar outros imaginários que escapem do patriarcado.
“Lutamos para que não se repita a cena do sepultamento de Bento XVI, onde só havia homens, corpos masculinos. Acreditamos que os corpos femininos também são adequados para a representação do divino. Precisamente, a religião nasce justamente da comunidade, não subordinando as mulheres”, conclui Torres.
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Espanha. Feministas católicas se opõem ao machismo da Igreja - Instituto Humanitas Unisinos - IHU