26 Setembro 2022
Pesquisa elucida as complexas realidades das mulheres católicas, as formas como expressam sua fé e suas relações com a Igreja institucional.
A reportagem é publicada por La Croix International, 22-09-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Uma comunidade on-line que trabalha para criar espaço para diálogo e pesquisa teológica entre mulheres católicas em todo o mundo produziu uma extensa pesquisa que relata como as mulheres valorizam sua identidade católica apesar de lutarem contra as instituições e estruturas da Igreja.
A rede Catholic Women Speak produziu o International Survey of Catholic Women – ISCW (Pesquisa Internacional de Mulheres Católicas, em tradução livre) para preparar uma apresentação ao Sínodo dos Bispos como parte do processo consultivo do Sínodo 2021-2023 iniciado pelo Papa Francisco.
A pesquisa, idealizada e gerenciada por acadêmicos, foi publicada em inglês, francês, polonês, italiano, mandarim, alemão, espanhol e português, e distribuída entre 8 de março (Dia Internacional da Mulher) e 26 de abril de 2022.
Atraiu mais de 17 mil respostas de 104 países.
O objetivo do ISCW foi coletar avaliações sobre as experiências e percepções de mulheres católicas de todo o mundo.
Os tópicos incluíram identidade católica, questões significativas de preocupação e pontos de vista sobre a reforma da Igreja e o impacto da covid-19 na fé e na prática das mulheres.
“O grande número de respostas indica claramente o desejo de muitas mulheres de compartilhar suas visões, aspirações e frustrações, e fazer com que seus pontos de vista sobre a situação atual das mulheres na Igreja sejam conhecidos do Sínodo”, segundo um release de imprensa da Catholic Women Speak.
O relatório apresentado ao Sínodo inclui citações das respostas abertas que, juntamente com o panorama estatístico, refletem as diversas perspectivas e preocupações das mulheres católicas.
Uma percepção importante extraída do estudo é que as mulheres católicas não constituem um grupo homogêneo, mas refletem os diversos contextos culturais nos quais sua fé é vivenciada.
No entanto, é uma área de preocupação que essa diversidade seja raramente representada em documentos oficiais da Igreja, com o resultado que muitas mulheres lutam para ver a relevância de alguns ensinamentos da igreja para as realidades complexas de suas vidas, disse.
Quase 90% dos entrevistadas afirmaram sua identidade católica de praticar sua fé e se envolver com paróquias e comunidades católicas, mas têm lutas consideráveis com instituições e estruturas católicas e a Igreja institucional.
Uma segunda descoberta importante é que a reforma é mais bem-vinda na Igreja Católica, especialmente, mas não exclusivamente, no que diz respeito ao papel e representação das mulheres.
Outras questões incluíam os ensinamentos da Igreja sobre sexualidade, respeito pela liberdade de consciência e o lugar das pessoas LGBTQIA+ dentro da Igreja; os papéis de liderança das mulheres nas instituições e cultos da Igreja, incluindo, para algumas, a ordenação de mulheres ao sacerdócio e/ou diaconato, e novo casamento após o divórcio civil.
Uma minoria de entrevistadas rejeitou a reforma e, em vez disso, expressou uma preferência para que a Igreja voltasse a um modelo pré-conciliar de autoridade e sacerdócio.
Uma terceira descoberta importante é que as entrevistadas identificaram os abusos sexual, físico e emocional contra mulheres, crianças e outras pessoas vulneráveis como uma questão dominante e que uma maioria substancial estava preocupada com a prevalência de abusos, racismo e sexismo nos contextos da Igreja.
Outra descoberta relevante é que as mulheres católicas estão profundamente preocupadas com a transparência e a responsabilização na liderança e governança da Igreja, identificando o clericalismo como tendo um impacto negativo na vida da instituição.
Houve também um alto nível de concordância de que era urgentemente necessário um modelo de Igreja menos hierarquizado e autoritário, com maior colaboração e partilha de responsabilidades entre o clero e os leigos.
“Embora o ISCW não pretenda ser representativo de todas as católicas, ele fornece uma visão rica sobre as complexas realidades da vida delas, as maneiras pelas quais expressam a fé e suas relações com a Igreja institucional”, diz a nota divulgada.
As descobertas substanciais devem, portanto, informar mudanças duradouras e genuínas nas instituições, estruturas e práticas da Igreja, com base em todos os princípios da sinodalidade, afirma a organização.
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Pesquisa Internacional de Mulheres Católicas oferece “ricas percepções” ao Sínodo dos Bispos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU