22 Fevereiro 2023
Quando dezenas de bispos católicos da Oceania se reuniram em Suva, Fiji, no início deste mês, os planos para realizar um rito de oração próximo ao oceano foram prejudicados pelo tempo tempestuoso, oferecendo uma ilustração natural de como o próprio local da reunião evidenciou uma das preocupações mais urgentes da região: a crise ambiental.
A reportagem é de Christopher White, publicada em National Catholic Reporter, 21-02-2023. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
“O próprio fafijito de a reunião ter sido realizada em uma dessas pequenas nações do Pacífico, Fiji, que está sendo afetada em certas áreas pelas mudanças climáticas, foi realmente útil para aumentar a conscientização sobre como tais mudanças são muito reais e, portanto, pedem uma resposta global”, disse o cardeal Soane Patita Paini Mafi, de Tonga.
Embora a reunião de 5 a 10 de fevereiro tivesse três temas oficiais – o cuidado com os oceanos; tornar-se uma Igreja mais sinodal; e a formação para a missão – a declaração final do encontro apresentou um consenso unânime de que “a crise ecológica é uma ameaça existencial para o nosso povo e as nossas comunidades”, à qual a Igreja deve responder.
“Portanto, uma de nossas esperanças nesta reunião em Suva é de que nossas vozes dessas pequenas nações insulares na Oceania estejam em uníssono para anunciar uma mensagem comum de escuta do clamor da Mãe Terra e de atenção para salvar nosso planeta e casa comum”, disse Mafi.
Hoje, esses clamores são uma legião: o rápido aumento do nível do mar desencadeou uma onda de refugiados do clima em busca de novas pátrias devido ao fato de várias pequenas ilhas do Pacífico se tornarem inabitáveis. Um aumento dos ciclones provocou estragos na economia da região e levou a uma enorme perda de vidas e cultivos, e a migração induzida pelo clima ameaçou novos conflitos em terra e no mar.
Mas, para os organizadores da assembleia, não bastava apenas falar sobre as ameaças das mudanças climáticas. Isso tinha que ser testemunhado.
A pedido do arcebispo de Suva, Peter Loy Chong, foram organizadas duas visitas oficiais para ver os efeitos das mudanças climáticas no vilarejo vizinho de Togoru, onde um cemitério local estava submerso, e para avaliar a forma como a indústria extrativa começou a destruir o ambiente local na aldeia Mau.
“Todos nós podemos ler as estatísticas, todos nós as entendemos, mas, quando você vê em primeira mão os rostos da população local e as linhas de preocupação marcadas em seus rostos, e quando você ouve suas preocupações bastante racionais em relação ao futuro, isso de alguma forma marca profundamente sua resposta”, disse Susan Pascoe, que ocupou vários cargos importantes no governo e na Igreja australianos e participou da reunião em Suva.
“Isso vai além do nível intelectual e, de alguma forma, toca seu sistema de valores e suas crenças principais”, acrescentou Pascoe.
Além das visitas, membros de várias comunidades ambientalmente vulneráveis em Fiji prepararam uma apresentação de duas horas com música, histórias e dança, com o objetivo de apresentar sua cultura local e também destacar as formas como a crise climática ameaça sua existência.
O cardeal Mafi, cuja terra natal, Tonga, foi abalada por uma erupção vulcânica no ano passado, que deixou toda a ilha debaixo de um manto de cinzas e efetivamente cortou a comunicação com o restante do mundo, disse que as apresentações exibiam “os gritos das ilhas baixas da Oceania e de seus povos, para que, esperançosamente, o mundo escute e responda”.
“Eles estão desesperados, porque veem que o nível do mar está subindo”, disse Pascoe, acrescentando que os moradores locais podiam sentir que havia “uma base de poder em seu meio” que poderia e deveria defendê-los.
Segundo o bispo Michael Dooley, de Dunedin, Nova Zelândia, há uma “consciência crescente” entre os católicos de que as preocupações ecológicas devem ser uma questão prioritária para os fiéis. Dooley, que era membro do comitê executivo que planejou a reunião, disse que a encíclica do Papa Francisco de 2015 intitulada Laudato si’, sobre o cuidado da casa comum, foi “profética” a esse respeito e ajudou a criar um impulso entre as lideranças da Igreja para reconhecerem a crise ecológica.
A cada quatro anos, os bispos de toda a Oceania se reúnem, e, à medida que o planejamento tomava forma para a reunião de 2023, Dunedin disse que “o oceano estava na vanguarda das nossas mentes”.
Essa preocupação, disse ele, se insere no processo sinodal da Igreja em andamento, no qual os bispos redigiram sua resposta ao documento de trabalho da fase continental do Sínodo durante suas reuniões em Fiji.
O Pe. Gerard Burns, da Arquidiocese de Wellington, Nova Zelândia, que também participou das reuniões, disse que, com base em suas observações da assembleia, mesmo que um bispo não fosse anteriormente um defensor ativo da Laudato si’, os eventos climáticos extremos que a região experimentou nos últimos anos levou a uma verdadeira unidade entre os bispos ao discutirem a resposta da Igreja ao cuidado da criação.
“Todo mundo percebe aquilo que está sendo falado aqui”, disse Burns, citando uma declaração final da reunião que pede uma “conversão ecológica mais profunda”.
O cardeal jesuíta Michael Czerny, que dirige o Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral do Vaticano, dirigiu-se aos bispos da Oceania durante a assembleia, dizendo-lhes para confiar no processo sinodal para navegar no caminho à frente.
“Pensem nos pobres que sofrem as piores consequências da poluição e nas empresas que poluem, mas empregam a população”, disse Czerny no dia 5 de fevereiro. “Um pastor é um pastor de todos. Como ele deve apascentar? Como navegar em águas tão traiçoeiras? Somente um processo sinodal pode nos ajudar a discernir e a caminhar juntos.”
Na conclusão da reunião, Pascoe disse acreditar que os bispos da Oceania têm uma “absoluta solidariedade episcopal em toda a região” e que, à medida que o processo sinodal avança, ela espera que suas preocupações regionais sejam comunicadas à Igreja universal, para que ela também possa se unir em solidariedade.
“O que acontece na Oceania”, advertiu Pascoe, “pode acontecer em qualquer lugar.”
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Assembleia dos bispos da Oceania debate e experimenta a crise climática - Instituto Humanitas Unisinos - IHU