19 Julho 2022
António Guterres disse aos governantes que “metade da humanidade está em zona de perigo”, enquanto países batalham contra o calor extremo.
A reportagem é de Fiona Harvey, publicada por The Guardian, 18-07-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Incêndios florestais e ondas de calor causando estragos em várias partes do globo mostram a humanidade enfrentando um “suicídio coletivo”, alertou o secretário-geral da ONU, enquanto governos de todo o mundo lutam para proteger as pessoas dos impactos do calor extremo.
António Guterres disse a ministros de 40 países reunidos para discutir a crise climática na segunda-feira: “Metade da humanidade está na zona de perigo, de inundações, secas, tempestades extremas e incêndios florestais. Nenhuma nação está imune. No entanto, continuamos a alimentar nosso vício em combustíveis fósseis.”
Ele acrescentou: “Nós temos uma escolha. Ação coletiva ou suicídio coletivo. Está em nossas mãos.”
Os incêndios florestais ocorreram no fim de semana na Europa e na América do Norte. Na América do Sul, o sítio arqueológico de Machu Picchu foi ameaçado pelo fogo. O calor extremo bateu recordes em todo o mundo nos últimos meses, quando ondas de calor atingiram a Índia e o sul da Ásia, as secas devastaram partes da África e ondas de calor sem precedentes em ambos os polos surpreenderam simultaneamente os cientistas em março.
No Reino Unido, um alerta de calor extremo foi emitido com as temperaturas mais altas já registradas no Reino Unido esperadas na segunda-feira e máximas acima de 40 °C previstas em alguns lugares.
Os ministros reunidos em Berlim para uma conferência climática de dois dias, conhecida como Diálogo Climático de Petersberg, discutirão o clima extremo, bem como o aumento dos preços dos combustíveis fósseis e dos alimentos e os impactos da crise climática. A reunião, convocada anualmente nos últimos 13 anos pelo governo alemão, marca uma das últimas oportunidades para chegar a um acordo entre os principais países antes da cúpula climática da COP-27 da ONU no Egito em novembro.
Alok Sharma, que presidiu a cúpula climática da ONU em Glasgow, a COP-26, em novembro passado, estará ausente da conferência de Berlim, embora participe de várias sessões virtualmente. Ele deve ficar em Londres para votar na disputa pela liderança do Partido Conservador, que determinará quem assumirá o cargo de primeiro-ministro do Reino Unido de Boris Johnson. O Reino Unido ainda detém a presidência das negociações da ONU até que o Egito assuma a responsabilidade, e a ausência de Sharma levantou desconfiança entre alguns participantes.
As perspectivas para a COP-27 diminuíram consideravelmente nos últimos meses, à medida que os aumentos dos preços da energia e dos alimentos envolveram os governos em uma crise inflacionária do custo de vida, provocada em parte pelo surgimento gradual da pandemia de covid-19 e exacerbada pela guerra na Ucrânia.
Na COP-26, os países concordaram em limitar o aquecimento global a 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais, mas os compromissos assumidos ainda eram inadequados para fazê-lo. Todos os países concordaram em apresentar este ano planos nacionais aprimorados para emissões de gases de efeito estufa, conhecidos como contribuições determinadas nacionalmente (NDCs).
Frans Timmermans, vice-presidente da Comissão Europeia, que lidera o bloco da UE nas negociações climáticas da ONU, diminuiu as expectativas para a conferência em entrevista ao Guardian. “Não vejo tantas novas NDCs no horizonte, francamente”, disse ele, apontando para a Austrália, com seu novo governo, como uma rara exceção.
Sameh Shoukry, ministro das Relações Exteriores do Egito e presidente da COP-27, participará das negociações de Berlim nesta semana, mas sua presença será ofuscada por preocupações com a NDC recentemente apresentada pelo Egito. O plano decepcionou muitos observadores, que esperavam níveis muito maiores de ambição, para dar o exemplo a outras economias emergentes.
Guterres também criticou duramente os “bancos multilaterais de desenvolvimento”, instituições como o Banco Mundial que são financiados pelos contribuintes do mundo rico para prestar assistência aos países pobres.
Ele disse que eles não eram adequados para fornecer o financiamento necessário para a crise climática e que deveriam ser reformados.
Ele disse: “Como acionistas de bancos multilaterais de desenvolvimento, os países desenvolvidos devem exigir a entrega imediata dos investimentos e assistência necessários para expandir as energias renováveis e construir a resiliência climática nos países em desenvolvimento. Exija que esses bancos se tornem adequados. Exija que eles mudem suas estruturas e políticas cansadas para assumir mais riscos… Vamos mostrar aos países em desenvolvimento que eles podem confiar em seus parceiros.”
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Novo Regime Climático. Humanidade enfrenta “suicídio coletivo”, alerta o secretário-geral da ONU - Instituto Humanitas Unisinos - IHU