02 Setembro 2022
Os incêndios florestais são uma ameaça à integridade e biodiversidade das florestas [1] e ao armazenamento de carbono da floresta amazônica e às funções do ciclo hidrológico [2-6]. As fontes de ignição de incêndios florestais na Amazônia são o resultado de ações antrópicas, como queimadas em florestas recém-desmatadas próximas ou para manutenção de pastagens ou para corte e queima da agricultura familiar, enquanto a extração seletiva (ESM) desempenha um papel importante na tomada de a floresta vulnerável à entrada e propagação de fogo [7-13]. SL tem sido apontado como um dos fatores para a propagação de incêndios florestais mesmo em locais distantes dos principais focos de desmatamento [14-17].
A reportagem é de Paulo Eduardo Barni, Anelícia Cleide Martins Rego, Francisco das Chagas Ferreira Silva, Richard Anderson Silva Lopes, Haron Abrahim Magalhães Xaud, Maristela Ramalho Xaud, Reinaldo Imbrozio Barbosa e Philip Martin Fearnside, publicada por Amazônia Real, 31-08-2022.
Eventos de seca prolongada causados pela frequência crescente de eventos severos de El Niño têm um efeito direto na propagação de incêndios florestais na Amazônia [18-22], assim como os efeitos das mudanças no uso e cobertura da terra e exploração madeireira predatória [10-11]. A frequência de incêndios florestais tem aumentado em áreas que (até recentemente) eram consideradas imunes ao fogo devido à umidade natural da floresta; no entanto, os fatores que atenuam ou amplificam a ocorrência de incêndios ainda são pouco estudados [2, 23-25].
A Amazônia fornece serviços ambientais essenciais (por exemplo, [3]), e conservá-los requer a compreensão das interações entre fenômenos climáticos e atividades humanas e seus efeitos na degradação da biomassa florestal. O mapeamento sistemático é uma das ferramentas de sensoriamento remoto de grande importância para o entendimento da distribuição espacial e do comportamento de propagação dos incêndios florestais e é uma forma inteligente de fornecer subsídios para o aprimoramento de políticas públicas de combate ao uso indiscriminado do fogo.
O mapeamento sistemático pode fornecer estimativas de emissões de gases de efeito estufa (GEE) em grande escala e contribuir para melhorar os cálculos que representam a biomassa e o carbono afetados por fogo e desmatamento [18, 26]. O atual Inventário Nacional de Emissões de GEE do Brasil [27] não considera as emissões de incêndios florestais no sub-bosque ao calcular as emissões de mudanças no uso da terra e silvicultura. Este fato persiste, em parte, devido ao pequeno volume de trabalhos realizados nesta área do conhecimento e às grandes incertezas envolvidas no cálculo dos fatores de emissão.[28]
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[27] Brasil, MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação), 2020. Estimativas Anuais de Emissões de Gases de Efeito Estufa no Brasil. Quinta edição. MCTI, Brasília, DF. 108 pp.,
[28] Esta série é uma tradução parcial de Barni, P.E., A.C.M. Rego, F.C.F. Silva, R.A.S. Lopes. H.A.M. Xaud, M.R. Xaud, R.I. Barbosa & P.M. Fearnside. 2021. Logging Amazon forest increased the severity and spread of fires during the 2015-2016 El Niño. Forest Ecology and Management 500: art. 119652.
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Exploração madeireira e incêndios florestais: Incêndios e a perda de serviços ambientais - Instituto Humanitas Unisinos - IHU