A recente Assembleia Geral da Conferência Episcopal Italiana (CEI), de 23 a 27 de maio, a 76ª da série, passará para os anais pela eleição do novo presidente, o cardeal Matteo Zuppi, arcebispo de Bolonha. Desde os tempos da radical reforma do Concílio, os nomes dos presidentes são os dos cardeais Urbani, Poma, Ballestrero, Poletti, Ruini, Bagnasco e Bassetti.
O comentário é de Lorenzo Prezzi, publicado em Settimana News, 04-06-2022. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O evento começou, como nas assembleias recentes, com o encontro com o Papa Francisco. Costuma-se repetir o vínculo particular do episcopado italiano com o papa, mas também é preciso dizer que o diálogo, de mais de duas horas, não foi livre de algumas tensões.
Um bispo perguntou se as reiteradas críticas aos bispos e à sua pompa não deveriam ser completadas com o apoio e o encorajamento a um “ofício” que se torna cada vez mais pesado.
Uma pergunta envolveu a ausência do papa no encontro de Florença sobre a paz no Mediterrâneo (fevereiro de 2022), justificada pelo pontífice devido às dificuldades de saúde e à presença de personagens envolvidos na questionável gestão da imigração da África.
Foi solicitada uma avaliação dos resultados da fusão das dioceses in persona episcopi (há 12 casos).
Falou-se também da Ucrânia, da China, do pacifismo e da saúde do papa, que não quer se submeter a uma operação no joelho devido às imprevisíveis reações à anestesia.
E também se discutiu sobre o presidente que devia ser eleito. Quando questionado sobre a sua indicação a favor de um cardeal e a possível candidatura de apenas duas púrpuras com a interrogação sobre o sentido da terceira candidatura prevista, Francisco mencionou a preferência do cardeal Bassetti por Dom Erio Castellucci, qualificando este último como um bom bispo e um bom teólogo, mas dando entender que não o nomearia.
No dia seguinte, na primeira votação, o nome do bispo de Modena já estava em evidência, e o interessado reconfirmou a sua indisponibilidade devido ao compromisso de acompanhar o Sínodo como vice-presidente da CEI. Ele fez isso com desenvoltura e diversão, mas, na assembleia, era perceptível um pouco de resmungos.
Na entrevista ao Corriere della Sera (3 de maio) ressoava uma afirmação pontifícia de muita importância: “Muitas vezes, encontrei uma mentalidade pré-conciliar que se disfarçava de conciliar. Em continentes como a América Latina e a África, foi mais fácil. Na Itália, talvez seja mais difícil. Mas há bons padres, bons párocos, boas freiras, bons leigos”.
A terna votada pela assembleia contou com os nomes dos cardeais Matteo Zuppi e Paolo Lojudice, e o bispo Antonio Raspanti, e a posterior escolha de Francisco em relação a Zuppi.
No dia seguinte à nomeação (24 de maio), a imprensa indicava uma significativa abertura de crédito em relação ao eleito. Foram lembradas as suas raízes romanas e a sua participação desde o início na Comunidade de Santo Egídio, a sua atividade como pároco, o seu surpreendente empenho nos “tabuleiros” da paz, particularmente em Moçambique, a atenção aos pobres e uma rara capacidade de diálogo com as instituições e as pessoas.
Do seu episcopado em Bolonha, há um mérito reconhecido por todos: o fato de ter aberto portas e janelas em uma Igreja cada vez mais fechada e incapaz de interlocução positiva com a cidade e o território. E, novamente, a atenção às questões sociais e uma presença pontual nos espaços dentro e fora da Igreja.
Para encontrar alguns resmungos, é preciso ouvir alguns padres e leigos, não necessariamente conservadores, segundo os quais – usando uma imagem automobilística – há uma má correspondência entre o giro do motor e o movimento efetivo das rodas, as comunidades. Ou é preciso recorrer à narrativa, sempre crítica, de Sandro Magister em seu blog, no qual, em 12 de outubro de 2021, escrevia: “A astúcia dos homens de Santo Egídio é de não tomar partido publicamente sobre temas mais verdadeiramente controversos na Igreja, sobretudo quando tocam nos fundamentos da doutrina, mas navegar em águas tranquilas e de benefício midiático certo, como os simpósios para a paz e a mãe Terra, assim como as atividades caritativas com os pobres”.
O interessado, cardeal Zuppi, tem total consciência da aleatoriedade do apoio da mídia, da oportunidade – garantida pelo papa – de escolher o secretário da CEI e dos desafios nada pequenos que o aguardam. Alguns, herdados de seus antecessores, outros em grande parte sobre os seus ombros.
Deixando de lado a redução das dioceses – também no que diz respeito à funcionalidade de uma Conferência Episcopal engolfada em números pouco consoantes com as decisões discutidas e rápidas –, as tarefas das Conferências Episcopais regionais e o trabalho dos escritórios centrais, restam algumas emergências evidentes. No front social, as atividades eclesiais são numerosas, enquanto o diálogo com o mundo político é mais frágil.
O “entrismo” do Comunhão e Libertação e o “frontismo” dos neocatecumenais se mostraram menos criativos e duradouros do que a tradição católico-democrata, que, no entanto, vê a extinção das suas gerações mais numerosas.
O cardeal Bassetti se concentrou muito na retomada da política “mística” de La Pira com os congressos em Bari (2020) e em Florença (2022). O fechamento apenas aos bispos do Mediterrâneo, no primeiro caso, e o evidente distanciamento do Papa Francisco no segundo enfraqueceram eventos que poderiam se mostrar promissores. O maior convívio do cardeal Zuppi com os protagonistas da política será útil.
Um segundo desafio diz respeito ao clero. Em particular à sua formação permanente e inicial. Na assembleia, voltou a ressoar a constatação do declínio do sistema dos seminários de origem tridentina e a oportunidade de experimentar novos caminhos ao presbiterado e ao ingresso no ministério. A redação da nova Ratio formationis seria uma oportunidade preciosa.
O desafio mais relevante é a renovação da pastoral. O Papa Francisco lançou a ideia de um Sínodo nacional por ocasião do congresso eclesial em Florença em 2015. O apelo por um renovado protagonismo das comunidades cristãs em um contexto social não mais de “cristandade”, embora nunca formalmente contrariado, não recebeu o consenso e o impulso necessários para começar, devido também à pandemia. Somente em 2021 é que se deu início ao trabalho, cujos dois primeiros anos serão dedicados à escuta das comunidades e dos não crentes interessados.
A assembleia verificou os resultados do primeiro ano de escuta: 206 dioceses envolvidas, 40.000 grupos sinodais e cerca de meio milhão de pessoas. Dos 400 referenciais diocesanos, 32 compareceram à assembleia. Com um moderado otimismo, após a assembleia dos referenciais em meados de maio e a da CEI, está prevista para o início de julho a publicação de um texto programático para o próximo ano (2022-2023).
São quatro os “canteiros de obras” para os próximos meses de escuta: corresponsabilidade e formação dos agentes de pastoral (espera-se, em particular, um maior interesse do clero); escuta dos “mundos” (pobres, jovens, mulheres, profissionais etc.); racionalização das estruturas eclesiais; e um quarto “canteiro de obras” que é deixado à escolha de cada diocese.
A maior atenção da mídia diz respeito à resposta da Igreja aos abusos do clero. Crescem as pressões por um compromisso mais convicto, pela publicação dos dados, por comissões de pesquisa independentes por parte das associações de vítimas, mas também de teólogos, revistas católicas e grupos de diversas orientações.
A escolha da CEI foi a de não seguir o exemplo dos bispos da França, onde a comissão Ciase estimou as vítimas em 230.000 de 1950 a 2020, mas de prosseguir com uma investigação sobre os resultados dos tribunais eclesiásticos, das procuradorias e sobre os arquivos da Congregação para a Doutrina da Fé.
O primeiro relatório sobre os últimos dois anos será publicado em 18 de novembro. Está prevista em breve uma pesquisa sobre os 20 anos, de 2001 a 2021, sobre os dados dos arquivos vaticanos retrabalhados por dois institutos universitários independentes. Um relatório anual está programado a partir de 2023.
A CEI, não sem resistências, entrou como convidada permanente no Observatório para o Combate à Pedofilia e à Pornografia Infantil do Ministério para as Políticas da Família, que aprovou no dia 5 de maio o plano nacional de prevenção e combate ao abuso sexual. Nesse âmbito, é possível que nasça uma investigação nacional sobre o conjunto do problema em todas as esferas sociais, incluindo a Igreja.
Se isso não ocorrer, o trabalho eclesial interno, ainda que apreciável, será insuficiente. “Essas investigações conduzidas objetivamente e publicadas são absolutamente úteis. E também seriam necessárias na Itália, é claro, para olharmos a realidade de frente e não continuarmos a negar algo que é continuamente desmentido, isto é, que na Itália não há abusos sexuais na Igreja”: assim afirmou o Pe. Hans Zollner ao jornal La Stampa de 21 de janeiro passado. A suspeita de inadequação das iniciativas em andamento já foi levantada pela coordenação Italy Church Too e por Lucetta Scaraffia, coautora do livro “Agnus Dei. Gli abusi sessuali del clero in Italia”.
A “dupla via” (CEI e ministério) pode ser uma resposta original ao problema na Itália, mas a verificação estará na escuta real das vítimas e na transparência do problema também nessas áreas não alcançáveis pelos instrumentos eclesiásticos. Os números fornecidos pelos tribunais não são suficientes.
Mais complexo e não menos grave é o compromisso do observatório com a pornografia infantil e com a função de introdução à sexualidade dos sites pornográficos na internet. Em nível global, 30% das crianças de 11 a 12 anos veem pornografia online. Na Itália, 44% dos adolescentes entre 14 e 17 anos.
Uma exposição regular a imagens pornográficas induz a percepção da mulher como objeto sexual, a comportamentos mais agressivos, a disponibilidade ao sexting (compartilhamento de imagens íntimas), a problemas de disfunção sexual. Tudo isso agravado pela extrema dificuldade em normatizar o acesso à internet para crianças e jovens.
Duas notas finais sobre elementos significativos. Em primeiro lugar, a aprovação de uma nota que recebe as indicações vaticanas sobre os ministérios (abertos a homens e mulheres) de leitor, acólito e catequista. Introduzindo o tema dentro do caminho sinodal.
Em segundo lugar, a questão econômica. A progressiva queda de arrecadação do oito por mil [porcentagem do imposto de renda que os contribuintes podem doar para uma religião ou para programas de assistência social do Estado italiano], a desvalorização do patrimônio imobiliário da Igreja, a redução das ofertas com a pandemia e a crise econômica, a exposição ao endividamento de inúmeras dioceses anunciam anos de “vacas magras”. Mais uma razão para agir em reformas estruturais urgentes.