27 Mai 2022
Não uma Igreja de partido, mas para todos e de todos. E junto com uma voz que volta a se manifestar sobre as questões mais delicadas da sociedade italiana. Esse poderia ser o slogan que distingue o programa da Igreja italiana com Matteo Zuppi como presidente do episcopado.
A reportagem é de Paolo Rodari, publicada por La Repubblica, 26-05-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
Não há mais progressistas e conservadores, todos têm o direito de falar e de escutar. Em Bolonha, onde Wojtyla e Ratzinger enviavam bispos "de direita" para contrabalançar a presença "à esquerda" da escola de Dossetti, Zuppi conseguiu unir as mais diversas e distantes sensibilidades, creditando-se como interlocutor confiável e respeitado para todos: quando houve necessidade de falar ele não se esquivou. Se uma temporada pode terminar com ele como presidente, é a das contraposições ideológicas, dos alinhamentos também dentro da comunidade eclesial. E também aquela de uma Igreja que teme intervir nas questões mais geradoras de divisão da sociedade.
Sinodalidade significa também uma liderança comunitária e mais democrática da comunidade eclesial, na escuta de todos, incluindo os leigos que devem ganhar mais peso e de quem está às margens. Esse estilo, afinal, foi um pedido explícito feito em preto e branco pelo Papa Francisco na conferência eclesial em Florença em 2015, embora parcialmente desatendido.
“A missão é a mesma de sempre - disse Zuppi anteontem -: a Igreja que fala a todos e fala com todos. A Igreja que está nas ruas e que caminha, a Igreja que fala uma única língua, aquela do amor, na babel deste mundo”.
As urgências não são apenas internas, mas também de política externa. Zuppi, como a Igreja em seus ramos diplomáticos, trabalha pela paz e novamente pela união onde reinam o ódio e a divisão. "Quanta dor nos últimos anos, primeiro com a pandemia de Covid e agora com a da guerra, inaceitável, a que nunca nos podemos habituar", disse ontem numa saudação enviada pela assembleia da CEI para a bênção de Nossa Senhora de São Lucas em Bolonha. E mais ainda: “Devemos derrotar o ódio, a violência nas palavras e nas mãos, o preconceito, a zombaria, a indiferença que geram tanta divisão e favorecem a guerra”.
As emergências também são italianas, com uma pandemia ainda ativa e que levou várias pessoas a perderem seus empregos. Zuppi em Bolonha doou os dividendos da Faac, multinacional herdada pela diocese na época de Caffarra, para obras de caridade e ajudas aos indigentes. Como presidente da CEI, ele certamente continuará a pressionar a Igreja a apoiar ativamente os últimos, como seus predecessores já fizeram.
Um teste delicado diz respeito à questão da pedofilia do clero. A Igreja italiana ainda não enfrentou completamente suas culpas. Outras Igrejas no mundo agiram com mais rapidez. Na Itália, uma parte dos bispos não quer uma investigação externa segundo o modelo do que a Igreja da França fez. No papel, nem mesmo Zuppi parece ser totalmente favorável. Nos próximos meses, a Igreja jogará parte de sua credibilidade neste ponto, o trabalho de colocar-se do lado das vítimas, ouvindo a voz de todos. Zuppi, como Francisco, sempre pôs em prática uma escuta real às pessoas LGBT e, entre elas, às pessoas LGBT crentes que durante anos se sentiram excluídas da Igreja. A Igreja de Zuppi é a Igreja do Evangelho, ou seja, aberta a todos.
Não haverá compromissos em relação à escuta e ao acolhimento. Serão dois exercícios reais, que colocarão no centro a ideia de uma comunidade que é mãe de todos os seus filhos, sem exceção. Há desafios que a sociedade enfrenta e sobre os quais a Igreja italiana tem suas ideias. Entre essas, por exemplo, o fim da vida. Zuppi nunca evitou escutar e dialogar. Recentemente dialogou com Paolo Flores D'Arcais sobre a eutanásia. Aqui ele disse que uma discussão sobre o assunto é útil porque serve para ajudar a todos a "viver juntos" mesmo entre "visões diferentes". Na sua opinião é "a política que deveria encontrar soluções para todos". Mas quando a política falha, nos entregamos a um referendo deixando que sejam outros a decidir. Para Zuppi, a lei sobre o testamento vital já deixa uma liberdade, enquanto, explicou, o direito à eutanásia “é outra coisa”.
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A Doutrina Zuppi. Mais peso para os leigos e uma Igreja que se faça ouvir - Instituto Humanitas Unisinos - IHU