25 Mai 2022
"O setor editorial católico pareceria estar 'em baixa': livrarias que fecham (a última, a das Paoline de Perugia que fecha suas portas em meados de junho), marcas em sérias dificuldades, um mercado em retração. No entanto, alguns sinais contra tendência estão no horizonte", escreve Lorenzo Fazzini, vice-presidente da Uelci, União dos editores e livreiros católicos, em artigo publicado por Il Foglio, 22-05-2022. A tardução é de Luisa Rabolini.
Deus está morto, Marx também e até o livro religioso não está passando bem. É o que parece. O declínio da participação religiosa, a secularização galopante, a Covid e a diminuição da presença nas igrejas, tudo isso sugeriria que o sinal de "menos" também deve dizer respeito ao pensamento católico colocado no papel.
Em suma, para usar um termo caro a Giuliano Vigini, um grande especialista editorial, o setor editorial católico pareceria estar "em baixa": livrarias que fecham (a última, a das Paoline de Perugia que fecha suas portas em meados de junho), marcas em sérias dificuldades, um mercado em retração. No entanto, alguns sinais contra tendência estão no horizonte. 2021 fechou, para as editoras religiosas, com +13% em relação ao sombrio 2020 da Covid. Em outubro passado, fizeram clamor os livros da Editora Dehoniana de Bolonha, um colosso (no auge) da publicação católica: todos os padres italianos estudaram os textos impressos em Bolonha, a nouvelle théologie que havia sido escrita na França e que havia marcado o Concílio Vaticano II passava por lá, até a melhor Bíblia em circulação (a de Jerusalém, editada pelos frades dominicanos da École Biblique de Jerusalém) tinha a marca Edb. Agora os rumores de um relançamento estão vindo da cidade, o sexagésimo aniversário da editora perfila-se no horizonte e (lemos em um comunicado de imprensa da editora) "vislumbram-se expectativas de renovação da empresa nas mãos de uma nova proprietária".
E precisamente se olharmos para o programa do Salão de Turim, que já está próximo, nota-se um certo desejo católico de expressar a sua opinião e tentar deixar a marca. A Uelci, a associação que coloca on-line 53 editoras e 69 livrarias, além de um estande coletivo que reúne várias editoras e um rico programa de apresentações, quis oferecer ao público do Lingotto três oportunidades para conhecer mais de perto o maior número possível de figuras de cristãs e cristãos do século XX que foram, à sua maneira, "corações selvagens" (título da trigésima quarta edição do evento de Turim), ou seja, expressões de uma ousadia que encontrava sua razão de ser no Evangelho.
Três encontros, seis personagens, três testemunhas. Começa com Dietrich Bonhoeffer, teólogo evangélico morto por ordem direta de Hitler, capaz de pensar Deus em um mundo pós-religioso: seu livro Resistência e rendição é um dos textos mais altos da teologia do século XX. Bento XVI também citou o belíssimo Sequela, e Francisco o indicou várias vezes como um "grande teólogo". Sobre Bonhoeffer, na quinta-feira, irão falar o cardeal de Bolonha Matteo Zuppi e o teólogo Vito Mancuso, que justamente começou a escrever suas contribuições jornalísticas no Foglio.
Mudamos de cenário e vamos para a América Latina: Oscar Romero foi para Bergoglio, que o fez santo, o exemplo supremo de um "pastor com cheiro de ovelha", capaz de desafiar a junta militar em nome dos camponeses mortos por motivos ideológicos. Luigi Ciotti e Vincenzo Paglia, que foi quem favoreceu a canonização de Romero, o apresentam no Lingotto na sexta-feira. Por fim, voltamos para o lado do nazismo, ou melhor, das posições contra Hitler, com a esplêndida figura de Sophie Scholl, uma das garotas da Rosa Branca, grupo de estudantes e jovens universitários que desafiaram o regime nazista com panfletos na Munique da guerra. Lucia Vantini, coordenadora das teólogas italianas, e Davide Prosperi, presidente de Comunhão e Libertação (o Encontro de Rímini dedicou há alguns anos uma esplêndida exposição à Rosa Branca), investigarão o porquê de alguns jovens desarmados assustarem o regime mais sangrento da história humana.
Em suma, até os católicos tentam. E tentam fugir daquela deriva "franzina " ao fazer livros de fé que Alberto Dal Maso, editor-chefe da Queriniana (a marca católica de maior qualidade, hoje na Itália, para livros que falam de Deus e do entorno, segundo vários observadores), anos atrás denunciava como o mal atual do setor editorial religioso, pelo menos na Itália. Onde talvez a distância da teologia do debate público e a distância entre pensamento "secular" e católico, apesar das muitas tentativas de reconciliação, tenham gerado uma afasia que o tempo presente pede para interromper. Não em nome de uma relevância que depois se conta politicamente, mas na consciência de que o ponto de vista religioso sobre os fatos do mundo é uma perspectiva “outra” porque Alta. Aquele de escreve ouviu dizer, anos atrás, por aquele grande gênio editorial que foi Cesare De Michelis: “Veja você, os padres vivem fora do mundo. E talvez às vezes ver as coisas de fora nos faça descobrir aspectos que talvez não vejamos".
Claro, eventos pontuais não são suficientes para voltar ao topo. São necessárias ideias, fundos, pessoas e corações além dos obstáculos. Porque um país sem cultura religiosa acaba encontrando estudantes em universidades como aqueles citados por Massimo Cacciari: “Jesus? Não é aquele cara que escreveu o Evangelho?”.
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O cristianismo no debate público. Tentativas de recomeço - Instituto Humanitas Unisinos - IHU