20 Junho 2017
Padre Luigi Ciotti, fundador da Associação Libera, que visa sensibilizar a sociedade civil e as instituições contra o crime organizado, na última quinta-feira passou o dia inteiro no Vaticano para participar da Conferência organizada pelo cardeal Peter Appiah Turkson, o prefeito do novo Dicastério para o desenvolvimento humano integral. E ali, no decorrer da Conferência, nasceu a ideia de avaliar a possibilidade de excomunhão para mafiosos e corruptos, anunciada pela Sala de Imprensa do Vaticano.
A entrevista é de Maria Antonietta Calabrò, publicada por Huffington Post, 17-06-2017. A tradução é de Luisa Rabolini.
Como surgiu esta proposta?
Discutimos com grande profundidade, éramos cerca de 50, leigos e religiosos, magistrados, italianos e estrangeiros. Quem sugeriu essa proposta foi o Arcebispo de Monreale, Michele Pennisi, que tem em seu território os municípios de San Giuseppe Jato e de Corleone. Pennisi recapitulou os pronunciamentos dos vários Pontífices, o forte apelo de João Paulo II no Vale dos Templos, até os enérgicos posicionamentos assumidos pelo Papa Francisco a partir do encontro com os familiares das vítimas inocentes da máfia, na primavera de 2014. Ele enfatizou a importância de verificar a possibilidade, com base na doutrina jurídica da Igreja, da aplicação de um decreto de excomunhão a mafiosos e corruptos. Será indispensável também a opinião dos canonistas da Cúria romana e do Tribunal da Penitenciaria Apostólica.
O senhor e os demais relatores, como reagiram?
Houve um reconhecimento, e nós concordamos que iríamos continuar a trabalhar conforme as indicações do Cardeal Turkson. É preciso lembrar que, já em 1944, os bispos sicilianos tinham especulado a excomunhão contra os membros de grupos criminosos. João Paulo II lembrou aos mafiosos o juízo de Deus. O Papa Francisco, em 21 de junho de 2014, em Cassano allo Jonio declarou: "Aqueles que em suas vidas seguem esta estrada do mal, como os mafiosos, não estão em comunhão com Deus: estão excomungados!" E, no encontro com os familiares das vítimas inocentes da máfia, suplicou com grande humildade: "Peço de joelhos: convertam-se, senão acabarão no inferno".
Agora a excomunhão poderia ser estendida aos corruptos. É mais um passo...
Sim, porque quem corrompe é alguém que já descriminalizou o seu crime dentro de sua consciência, minimiza-o, justifica-o. A corrupção é o saguão de entrada também para a criminalidade mafiosa. O corruptor não tem senso de culpa, por isso não pode ser perdoado, e é nesse sentido que deve ser entendida a excomunhão, por que corrompe a pessoa, ou como diz o Papa Francisco, cheira mal, cheira a morte.
Mas como se pode realmente combater a corrupção?
É preciso uma revolução cultural, ética e social que não parta apenas de cima, mas que se origine de baixo, principalmente de baixo e, mais ainda, de dentro. A partir de dentro de nossas consciências. Devemos ter cuidado para que as palavras "luta contra a corrupção" e "legalidade" não se tornem "ídolos" que levam à complacência e à cobertura, a uma legalidade maleável e sustentável, ou seja, até certo ponto. A legalidade é uma ferramenta para alcançar a justiça. É a justiça (ou seja, o empreendedorismo saudável, o trabalho, a dignidade e a esperança das pessoas) que queremos seja possível. Em Sibari, o Papa Francisco falou dos mafiosos como adoradores do Mal. Mas, também o corrupto adora o dinheiro e o poder. O dinheiro e a posse. E, nesse sentido, que se deve entender a excomunhão, ou seja, o fato de que a pessoa que pratica a corrupção coloca-se fora de vida, do bem e da vida da Igreja. O Evangelho é incompatível com as máfias e com qualquer forma de corrupção. A fé não pode ficar em silêncio, indiferente ou inerte frente ao mal e às injustiças.
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"Vou explicar como surgiu a ideia da excomunhão de mafiosos e corruptos". Entrevista com Luigi Ciotti - Instituto Humanitas Unisinos - IHU