11 Mai 2022
"Uma radiografia rápida do que é o Brasil atual revela manchas crescentes da perda de direitos, na tentativa de naturalizar o racismo, a violência de gênero, na entrega das empresas nacionais e no aumento sucessivo da devastação", escreve Ivânia Vieira, jornalista, professora da Faculdade de Informação e Comunicação da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), doutora em Comunicação, articulista no jornal A Crítica de Manaus, co-fundadora do Fórum de Mulheres Afroameríndias e Caribenhas e do Movimento de Mulheres Solidárias do Amazonas (Musas).
É tênue a linha que segura a constitucionalidade brasileira. Os ensaios da desordem oficial avançam diante da dificuldade do posicionamento mais firme do conjunto das instituições que não aceitam manter o enredo do golpe contra as eleições deste ano. A inconstitucionalidade cultuada se apresenta e ganha corpo na aposta pela ruptura.
A performance dos ataques ao sistema eleitoral do Brasil aprofunda a raiz enquanto dirigentes do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tateiam na busca de respostas capazes de enfrentar as estratégias de ataque e de tentativas de fragilizar o modelo. A atuação de representantes das forças armadas nessa área – sistema eleitoral - produzindo questionamentos e cobrando respostas é um dado no mínimo estranho à função desse setor. Muito há para ser feito pelas forças armadas e uma das missões é zelar pela própria integridade e se pautar pela garantia da lei e da ordem.
O nível de bagunça criado em torno das eleições deste ano envolve rede de mentiras de longe alcance, setores de levado poder econômico com atuação direcionada ao apoio de determinados grupos de poder entre os quais no executivo e no legislativo a partir do Congresso Nacional e do Governo Federal. São braços nacionais e internacionais, como demonstrado recentemente nas eleições norte-americanas, dispostos a qualquer ato para fazer valer suas teses.
No Brasil, alguns caminhos possíveis no enfrentamento dessa tática são o posicionamento nas ruas e nas redes sociais da sociedade em eco maior que o ora feito pelos estrategistas e articuladores da campanha contra o sistema eleitoral nacional. Significa também lidar no cerco dos exércitos de robôs a serviço dessa ação; promover esclarecimentos criativos no imenso território de audiência da desinformação; mobilizar os diferentes coletivos sociais para pautarem posicionamentos em favor das eleições, do sistema eleitoral do País e da democracia.
O jornalismo, se bem feito, é o outro espaço. Até agora, parcela expressiva da grande mídia tem sido cúmplice da conduta antidemocrática de autoridades públicas. Em nome de interesses mais específicos repete posturas arriscadas porque são parte do esteio de sustentação das agressões oficiais aos princípios constitucionais e na contínua realização de retrocessos no Brasil. O jornalismo exercido com responsabilidade é prestação de serviço e uma forma importante de pedagogia.
Todos e todas necessitamos de informações confiáveis e de veículos que tenham na credibilidade um dos elementos norteadores. A informação atua na tomada de posição mais livre por parte da cidadania. Quando esta é parcial e deturpada, o jornalismo atua na construção de anomalias político-econômica-social.
Uma radiografia rápida do que é o Brasil atual revela manchas crescentes da perda de direitos, na tentativa de naturalizar o racismo, a violência de gênero, na entrega das empresas nacionais e no aumento sucessivo da devastação. A inflação elevada, taxa de juros mais alta, salário mínimo com maior defasagem dos últimos anos – cinco vezes menor que o valor necessário; incentivo à indústria de armas de fogo e ao armamento da população – são mais de 1 milhão de pessoas amadas. Não é esse perfil do País que a maioria dos brasileiros quer. Os que defendem um Brasil menor, acossado e brutalizado não têm compromisso com a nação, movem-se em torno dos seus interesses criminosamente restritos.
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A constitucionalidade do Brasil precisa do povo e do bom jornalismo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU