‘Decifra-me ou devoro-te’. A guerra na Ucrânia. Artigo de Eduardo Hoornaert

Foto: Ministério da Defesa da Ucrânia | Flickr cc

05 Abril 2022

 

"Parece que as pessoas acreditaram nas palavras do papa, pois o apelo do papa esteve na origem de inúmeras vidas humanas vitimadas, ao longo de séculos, em sucessivas cruzadas. Hoje, o Presidente do país mais poderoso do mundo convoca a uma nova guerra santa, desta vez a favor da ‘democracia’. Em 1095 como em 2022, palavras designativas põem em movimento guerras, ódios, oposições. Movimentam multidões. São fáceis de serem rebatidas, mas funcionam. Não são de teor ético, não elucidam, não apontam a saída do labirinto das palavras. Decifra-me ou devoro-te", escreve Eduardo Hoornaert, historiador, ex-professor e membro fundador da Comissão de Estudos da História da Igreja na América Latina (CEHILA).

 

Eis o artigo.

 

Na Grécia antiga, na entrada do Templo de Apolo em Delfos, o visitante se defrontava com uma esfinge que tinha cabeça de mulher, corpo de leão e asas de águia. Uma figura enigmática e ameaçadora. A tradição diz que ela desafiava qualquer visitante com as seguintes palavras: decifra-me ou devoro-te.

 

Será que a atual guerra na Ucrânia se apresenta como uma esfinge que nos coloca diante de um enigma a ser decifrado? Compartilho com você algumas considerações a respeito.

 

Como sair do labirinto?

 

A impressão que se tem, ao ver a avalanche de comentários divulgados acerca da guerra na Ucrânia, é que estamos num labirinto de informações desencontradas e não raramente contraditórias. Está na hora de se lembrar que surgiu, no século passado, um pouco por toda parte, uma nova filosofia, a filosofia linguística, a tentar levar as pessoas a uma análise acerca do modo em que se costuma falar. Apareceram nomes como Bakhtin, Ricoeur, Bagno, Frege, de Certeau, Gadamer, Habermas, Manfredo de Oliveira, Propp, Popper, Vygotski e Walter Benjamin, mas não se pode dizer que esses nomes causaram um grande impacto, nem nas universidades, nem – muito menos – na opinião geral.

 

Embora tratando, direta ou indiretamente, da guerra, um fenômeno que deixou marcas profundas no século XX, esses filósofos continuam sendo ‘vozes que clamam no deserto’, com a exceção – talvez – de uns poucos, como o norte-americano Noam Chomsky. Guias teimosos no caminho para fora do labirinto das palavras em que a maioria das pessoas se encontra, eles dizem - dos mais variados modos - que a guerra é, sim, uma esfinge que nos desafia: decifra-me ou devoro-te.

 

Isso contrasta flagrantemente com as falas da maioria dos líderes políticos que lidam com os acontecimentos na Ucrânia e que dão a impressão que a guerra não é enigma nenhum, mas - em determinadas circunstâncias - uma necessidade: si vis pacem, para bellum (se quiseres a paz, prepara a guerra). Os beligerantes dizem que querem a paz, mas que precisa aumentar as armas. Para lutar a favor da democracia contra a autocracia, a favor do povo oprimido contra um ‘nazismo’ renascente. Não se sente a necessidade de responder ao desafio da esfinge de Delfos.

 

Como alcançar a verdade?

 

Convido você a me acompanhar numa apresentação de algumas reflexões que retiro do pensamento de um dos mais penetrantes filósofos linguistas do século passado, o austríaco Ludwig Wittgenstein (1889-1951), a respeito do tema aqui abordado.

 

Em 1945, impactado pela terrível Segunda Guerra Mundial (por motivos que não apresento aqui, para não alongar este texto), ele publica suas Investigações filosóficas (Vozes, Petrópolis, 2005; 4a ed.), que ele mesmo apresenta como um ‘álbum’, um livro de folhas soltas em que se podem inserir fotos, desenhos e observações. Ele escreve: é como uma viagem por uma paisagem nova, com impressões novas. Trata-se de uma coletânea, aparentemente desconexa, de 693 ‘observações’, cuja finalidade consiste em nos fazer descobrir como nosso modo de raciocinar é deficiente e (usando uma palavra dele) primitivo.

 

A guerra é uma esfinge, sim, um enigma que temos de ‘decifrar’, sob a pena de sermos ‘devorados’ por ele. Eis o que - mutatis mutandis (mudando o que precisa mudar) - Wittgenstein repete, embora nunca se refira diretamente à guerra, incansavelmente e dos mais variados modos, ao longo de seus 693 aforismos.

 

As observações do mestre austríaco, à primeira vista, se apresentam desconexas. O nexo aparece a quem se aprofunda nos aforismos. Trata-se de responder à pergunta: ‘quando tenho certeza, quando alcanço a verdade?’. Já na primeira das 693 Investigações, Wittgenstein contesta a ideia, comum entre filósofos, de procurar a verdade nas palavras e, portanto, distinguir entre palavras verdadeiras e palavras falsas. Wittgenstein reage com vigor a esse modo de pensar: eis uma representação primitiva do modo em que a linguagem funciona (op. cit., p. 17). Pois a palavra, em si, não significa nada. Ela só funciona ‘em contexto’. A palavra é uma ‘peça’ num jogo de xadrez. Isolada, posta ao lado do tabuleiro, nada significa. Só ganha significado no momento em que é colocada no tabuleiro. O que dá sentido à palavra é seu funcionamento dentro de um jogo de interação. Em si, a palavra não tem ‘substância’.

 

Com isso, Wittgenstein (com os demais filósofos linguistas) contradiz frontalmente a clássica epistemologia ocidental, herdada dos gregos. Ele segue do ditado do filósofo alemão Frege, que, em 1884, escreveu: somente no contexto de uma sentença, as palavras significam algo (Veja: Oliveira, M. A., Reviravolta linguístico-pragmática na filosofia contemporânea, Loyola, São Paulo, 1997, pp. 59-69). É com razão que se diz que, com essa frase, nasceu a reviravolta linguística do século XX. Wittgenstein visitou Frege na Alemanha e com ele aprendeu a ver claro nessa questão.

 

Wittgenstein lutou, na vida toda, para que suas considerações fossem aceitas, ou pelo menos discutidas, entre seus colegas na Universidade de Cambridge, na Inglaterra. Entre os anos 1905 e 1910, sendo discípulo preferido de Bertand Russel, ele batalhou bravamente contra a ‘conceituação’ como modo de se alcançar a verdade.

 

O conceito pretende ‘prender’, ou ‘captar’, a realidade. Do mesmo modo em que a mão ‘prende’ um objeto. A língua alemã tem um substantivo expressivo a respeito: ‘Begriff’. Derivado do verbo ‘greifen’, que significa ‘pegar’, o substantivo dá a impressão que a realidade vai ‘presa’ no domínio do conceito, como se fosse um objeto preso na mão humana. O poeta indiano Rabindranath Tagore, ao rememorar o domínio da Inglaterra sobre a Índia, descreve o absurdo desse modo de pensar:

 

Já pensaram quanto de conquistador,
Para não dizer de ladrão ou assaltante,
Há na palavra ‘conceito’?
Ora, é com essa atitude que nos dirigimos ao mundo.

(Citado em: Jung, C., Civilização e Transição, Petrópolis, Vozes, 1993, 226-227).

 

Conceitos como ‘civilização’, ‘evangelização’, ‘educação’, ‘cristianização’, amplamente usados, serviram e continuam servindo como meios de ‘assaltar’ civilizações inteiras.

 

Tudo isso ainda não é consenso. Não se pode dizer que o ‘princípio do contexto’ já tenha conseguido direitos de cidadania nas culturas ocidentais, nem na política, nem na universidade, nem entre a população em geral. A autoridade dos filósofos clássicos está abalada, mas não de todo superada (leia: Monk, R., Wittgenstein, o dever do gênio, Companhia das Letras, São Paulo, 1995).

 

 

Sob o império do discurso designativo

 

Hoje vivemos sob o império de discursos designativos, e isso significa – em última instância – uma negação do princípio do contexto. O império designativo se alarga a cada dia, pela facilidade em que os atuais meios de comunicação fazem com que todos e todas estamos em condições de ‘designar’ o ‘outro’, ou seja, de apontá-lo com dedo indicador e declarar: ‘você é isso, você é aquilo’. Sem censura, sem justificativa. Basta ativar o Whatsapp. Os novos e maravilhosos meios de comunicação nos possibilitam despejar designações por todo canto, aleatoriamente, por vezes com muito sucesso.

 

O que pode ajudar a ver claro nesse labirinto é a seguinte percepção: em sua maioria, os discursos, em sua maioria, só são designativos por aparência. E aqui volto para Wittgenstein. Como já comentei acima, em suas Investigações filosóficas, ele critica incansavelmente o império de um discurso aparentemente designativo, mas que na realidade não tem nada a ver com designação. Ele não se cansa em repetir: nem toda enunciação é designativa ou indicativa. Pelo contrário, a maioria das enunciações expressa ‘uma ordem, um desejo, uma exortação, um sentimento, uma intuição, uma imaginação, um xingamento, uma poesia, um cálculo, um pedido, um agradecimento, uma oração etc.’ (Investigações, Edição Vozes, p. 27).

 

A frase ‘bom dia!’ não diz nada acerca do dia, assim como ‘creio em Deus!’ não designa Deus. Alguém, num sinal de trânsito, me diz ‘tenho fome’. Ele não ‘declara’ nada. Esses são exemplos simples. Mais complicado é interpretar o significado do agir das pessoas, em fisionomias, modos de andar, baixar ou levantar de olhos, gestos, entonações, inclinações do corpo, enfim, nos mais variados sinais pretensamente ‘declaratórios’. Isso pertence ao dia-a-dia da vida e nem sempre é fácil de ser destrinchado.

 

É de se lamentar que grandes filósofos, como Platão, Aristóteles, Agostinho, Tomás de Aquino, e mais tarde Descartes, por exemplo, não tenham abordado esse tema com a atenção que ele merece. Descartes fala em ideias claras e precisas, enquanto as enunciações e insinuações do dia-a-dia não costumam ser nem claras nem precisas. E o que dizer de Aristóteles, que ridiculariza Homero, quando este canta (sim, Homero canta!) que o sol da manhã toca o horizonte com dedos dourados?

 

‘Sim, Aristóteles, o sol não tem ‘dedos’, muito menos ‘dedos dourados’. E não ‘toca o horizonte’. Mas isso não significa que Homero diz bobagens. Você diz que o sol não vive tocando horizontes, mas eu respondo que, quando você diz que ‘um gato é um gato’ e gosta de calcular, organizar e ordenar palavras, você ‘agarra’ coisas tiradas do universo caótico e tenta ordená-las num mundo compreensível, por meio de conceitos. Você é um matemático, Aristóteles. Homero não ‘agarra’ nada, não define nada, mas penetra fundo no drama da vida humana’.

 

O que está em jogo, aqui, é o entendimento dos discursos que correm o mundo. Ao seguir Aristóteles, vamos encontrar as enunciações conceituais que predominam nos discursos da maioria de nossos líderes políticos de hoje. Eles gostam de definir o teor das atuais lutas mundiais em termos genéricos e conceituais:

 

‘A’ democracia contra ‘o’ autoritarismo;
‘A’ defesa ‘da’ propriedade privada;
‘A’ defesa ‘da’ família;
‘A’ defesa ‘da’ religião;
‘A’ segurança pública;
‘A’ liberdade, etc.

 

Expressões que evocam guerras sagradas do passado:

 

‘O’ catolicismo contra ‘o’ protestantismo;
‘A’ cruz de Cristo contra ‘o’ islã (as cruzadas);
‘A’ ortodoxia contra ‘a’ heresia (a inquisição);
‘A’ tradição contra ‘a’ inovação (a queima de bruxas);
‘O’ ensino religioso contra ‘o’ secularismo, etc.

 

E as pessoas vagando num labirinto, do qual não conseguem sair, exatamente por procurar saídas por caminhos apontados por seus líderes, que são caminhos que não levam a nada. Como moscas dentro de uma garrafa aberta. Voam de lá para cá, não encontram o gargalho.

 

Wittgenstein verificou - principalmente nos anos em que lidou com doentes num hospital londrino, no decorrer da Segunda Guerra Mundial (1940-1945) - que as pessoas se deixam facilmente prender nas redes de discursos artificiais, fabricados com a intenção de defender interesses particulares, no que hoje chamamos ‘Fake News’.

 

O que diria Wittgenstein hoje, ao ler, por exemplo, a recente estatística, feita por pesquisadores do Massachusetts Institute of Tecnology (MIT), nos Estados Unidos, que constata que a chance de uma notícia falsa ser repassada é consideravelmente maior que a de uma verdadeira? Foram analisadas 126 mil notícias, e percebeu-se que a probabilidade de se repassar uma informação falsa é 70% maior do que a de se repassar uma notícia verdadeira.

 

É por estar convencido que precisa cavar fundo para encontrar a saída do labirinto dos significados que Wittgenstein se distancia de uma tradição filosófica que tem a pretensão de ‘agarrar’ ou ‘definir’ o que acontece por meio de conceitos. Uma tradição que reduz tudo a um só registro, o cognitivo ou indicativo, que rejeita ‘fábulas’ e poesias, que promulga que ‘um gato é um gato’ e que reveste todas as palavras de uma mesma farda, que nem soldados em marcha.

 

A filosofia linguística desloca a epistemologia do universo da palavra em si para o universo do processo de comunicação. Acontece que poucos se fazem ideia do que significa essa filosofia, na realidade uma reviravolta no modo de pensar e olhar o mundo. Pelo contrário, com a explosão dos meios de comunicação via eletrônica e algorítmica, entramos num império, sem precedentes, de afirmações designativas.

 

O fluxo incessante de aforismos e pensamentos do filósofo austríaco, pronunciados por ocasião de cursos, conferências, participações em grupos de discussão ou simples conversas com grupos de estudantes, até poucos dias antes de sua morte em 1951, expressa sua ânsia em tirar as pessoas do labirinto das palavras. A sua tenacidade é baseada numa convicção: a filosofia conceitual é um balão inflado. Basta uma alfinetada para lhe retirar o ar e fazer com que caia no chão.

 

Um abrigo para porcos

 

No início destas considerações, escrevi: ‘A impressão que se tem, ao ver a avalanche de comentários divulgados acerca da guerra na Ucrânia, é que estamos num labirinto de informações desencontradas e não raramente contraditórias’. Não é que faltam comentários, mas eles deixam as pessoas perplexas. Afinal, quem tem razão: Biden ou Putin? Enquanto isso, o enigma continua ameaçando: decifra-me ou devoro-te.

 

Fiquei surpreso em ler, em meu velho dicionário da língua grega, que o significado original do vocábulo ‘ethos’ (ou ‘èthos’) é: abrigo para animais pequenos. Para porcos, por exemplo. Eis um termo, em meu dicionário, que ecoa coisas que nos vêm das profundezas dos tempos e desenha um cenário que não nos é de todo estranho. Ao limpar terrenos para fazer roça e lavrar a terra, o homem dos tempos neolíticos passa a domesticar e dar abrigo a animais que lhe são úteis. Camelos, por exemplo. Logo, percebe que a boa fazenda necessita igualmente de animais que se apresentam repulsivos ou fedorentos, como o porco e o bode, por exemplo. Mas que são capazes de fornecer alimentos aos humanos.

 

Logo, esse agricultor inteligente passa a construir abrigos, não só para seus animais de estima, mas igualmente para os menos estimados. Ele limpa o terreno para que esses animais ‘inferiores’ encontrem pasto ou solo onde focinhar, ciscar, procurar alimento. Eis uma sabedoria de milênios: ‘não só cuidar do maior, mas igualmente do menor’. Desse modo, dos horizontes mais remotos da memória nos vem uma senha que permite decodificar, por exemplo, o conflito ucraniano.

 

O que escrevo aqui fica mais claro quando se acompanha o posterior trato linguístico dado ao morfema ‘ethos’. Com o tempo, intelectuais como Aristóteles, Políbio e Plutarco passam a usar o adjetivo ‘ethikos’ (ou èthikos), que passa a significar aquilo que corresponde a um comportamento inteligente, ou seja, um comportamento que corresponde ao que realmente é. Com isso, o termo ganha dimensões morais, comportamentais. Esses intelectuais lembram o respeito fundamental ‘pelo que é’ (‘id quod est’, em latim) que vem das origens da revolução neolítica.

 

Há de se cuidar, não só do maior, mas igualmente do menor. Numa terceira evolução do morfema, aparece o substantivo ‘ética’, que aparece no título de um dos escritos de Aristóteles. Nele se pondera que, ao considerar ‘aquilo que é’ (id quod est), nem sempre nos defrontamos com situações que são de nosso agrado, ou de nosso interesse. Assim surge um imperativo: O ‘ético’ vai para além de meus projetos de poder, enriquecimento ou vaidade. Mas é fundamental para a vida. A ética se torna um imperativo de comportamentos.

 

Tem-se a impressão que a ética, entre os grandes comunicadores de hoje, circula como um ‘elefante escondido’, um elefante de Wittgenstein. Certa feita, ao discutir questões filosóficas com um colega num gabinete da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, Wittgenstein, com sua conhecida impetuosidade, gritou: Há um elefante na sala. Um óbvio colossal, uma evidência perambula pelos discursos de nossos comunicadores. Não é percebido, mas onipresente. Assim, a carruagem dos tempos vai invariavelmente empurrada pelo lento e pesado passo do elefante invisível de Wittgenstein, como recorda o escritor português José Saramago em seu Ensaio de Cegueira (1995): as pessoas o veem, mas não o ‘enxergam’.

 

De modo ainda mais premente, no conto A roupa nova do Rei, o escritor dinamarquês Hans Christian Andersen (1837) narra que o alfaiate do rei, ao confeccionar uma nova roupa, nunca vista, para o rei, adverte: só os inteligentes conseguirão enxergar a nova roupa do Rei. Desse modo, o rei passeia pelado pelas ruas e ninguém ousa dizer nada, para não parecer estúpido. Até o momento em que uma criança grita: o rei está nu.

 

Permita-me, você que me acompanha até aqui, terminar com mais uma evocação histórica, que parece pertencer a um passado ‘que não volta mais’, mas é de premente atualidade. No dia 27 de novembro de 1095, em Clermont, na França, o Papa Urbano II convocou os cristãos do Ocidente a uma guerra santa contra os infiéis. Razão alegada: proteger o Santo Sepulcro de Jesus dos ataques muçulmanos. A Primeira Cruzada saiu sob um lema de teor tipicamente designativo: Deus quer (Deus vult).

 

Parece que as pessoas acreditaram nas palavras do papa, pois o apelo do papa esteve na origem de inúmeras vidas humanas vitimadas, ao longo de séculos, em sucessivas cruzadas. Hoje, o Presidente do país mais poderoso do mundo convoca a uma nova guerra santa, desta vez a favor da ‘democracia’. Em 1095 como em 2022, palavras designativas põem em movimento guerras, ódios, oposições. Movimentam multidões. São fáceis de serem rebatidas, mas funcionam. Não são de teor ético, não elucidam, não apontam a saída do labirinto das palavras. Decifra-me ou devoro-te.

 

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