28 Mai 2017
Quem é Michel De Certeau? “Para mim, o maior teólogo para os dias de hoje”, respondeu o Papa Francisco, no dia 2 de março de 2016, aos delegados do Movimento dos Poisson Roses. Justamente no ano passado, completavam-se os 30 anos da morte desse jesuíta poliédrico, apaixonado por antropologia e espiritualidade, linguagem e psicanálise, história e ciências sociais.
A nota é do sítio da Pontifícia Universidade Gregoriana, 19-05-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Um aniversário coroado pela publicação dos seus escritos inéditos, reunidos em Fabula mistica II. XVI-XVII secolo (Jaca Book, 352 páginas). “Esperamos 30 anos para ter esse texto editado pela sua discípula e executora testamentária Luce Giard”, explica o editor da edição italiana, Silvano Falcioni. “Trata-se de um volume em plena continuidade com o primeiro, em cujo centro da narrativa apareceram novos personagens, caros a Certeau, como Cusa, João da Cruz e Pascal. Contudo, respeitou-se a vontade do autor de nunca publicar coisas incompletas.”
O livro foi apresentado na quarta-feira, 24 de maio, às 17h, na Pontifícia Universidade Gregoriana. Falaram os jesuítas Giuseppe Riggio (Aggiornamenti Sociali, autor de uma recente biografia de De Certeau), Fausto Gianfreda (Faculdade Teológica da Itália Meridional, Seção San Luigi – Nápoles) e Paul Gilbert (Faculdade de Filosofia – Gregoriana), além de Edoardo Prandi (professor, membro do grupo de estudo “Prendere la Parola”) e Giuseppe Bonfrate (Faculdade de Teologia – Gregoriana), moderados pela Prof.ª. Stella Morra (Faculdade de Teologia – Gregoriana).
Justamente a Prof.ª. Morra, editora de algumas edições italianas de De Certeau, ajuda-nos a compreender a importância desse autor. “De Certeau fez-se radicalmente a pergunta sobre a plausibilidade do crer hoje. Um homem contemporâneo, com as sensibilidades intelectuais e emocionais próprias deste tempo, pode razoavelmente dizer que crê? E, se sim, como?.”
Os dois volumes de Fabula mistica concentram-se sobre os autores, especialmente místicos, que moldam uma nova linguagem para narrar a fé, depois do impacto do mundo medieval com o mundo científico. “Nessas vozes – continua Morra – provavelmente encontramos o centro dos múltiplos interesses de De Certeau, ou seja, a história da espiritualidade.”
E conclui: “Os autores abordados por ele aceitaram que a fé não é só um problema de saber e que, portanto, era necessária uma linguagem capaz de falar não só aos intelectuais. Nisso, o Papa Francisco tem uma grande consonância”.
Para o padre Elmar Salmann, monge beneditino, “com De Certeau, abrimo-nos a cenários novos: há uma visão capaz de ler o pós-moderno, que olha também para aqueles que estão fora da Igreja. Há, na minha opinião, a ideia de uma ‘gramática do cristianismo’, que se expõe ao anonimato e ao mistério da ausência de Deus”.
“Até poucos anos atrás – continua –, nas universidades pontifícias, ele era visto quase como um autor marginal e ‘esotérico’. Era quase impossível pensar na ideia de um doutorado sobre De Certeau. Hoje, ao contrário, há uma total redescoberta desse autor, graças à sua ‘errância’ nos saberes e à sua arte de ter criado uma gramática capaz de compreender, em certo sentido, a situação social e religiosa do cristianismo minoritário na Europa.”
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Quem é Michel De Certeau? "Para mim, o maior teólogo para os dias de hoje" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU