25 Março 2022
Cerca de 210 pessoas participaram da Aula Inaugural, cujo tema foi: “Fraternidade: uma forma de vida com sabor de Evangelho”, uma parceria entre CNBB e UNICAP.
A reportagem é de Osnilda Lima, assessora das Pastorais Sociais e da 6º Semana Social Brasileira, enviada por e-mail ao Instituto Humanitas Unisinos - IHU.
“Fraternidade: uma forma de vida com sabor de evangelho” foi o tema da conferência inaugural de abertura do Curso de Especialização em “Dimensão Social da Fé”. A atividade ocorreu ontem (23/3), na modalidade on-line. A reflexão foi conduzida pelo teólogo e professor Francisco Aquino Junior, à luz da Carta Encíclica Fratelli tutti do Papa Francisco. Aproximadamente 210 pessoas participaram da aula.
Integrou a mesa de abertura, o pró-reitor comunitário da Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP), padre Delmar Cardoso, que manifestou alegria pelo início do curso, por se tratar de um processo que estabelece conexões. “É um curso que constrói pontes, não só entre a Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP) e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), mas principalmente com as pessoas que serão atingidas, que vão multiplicar os trabalhos que forem realizados”, afirmou. O pró-reitor desejou que o curso “nos torne pessoas melhores, pessoas que lutam por um mundo melhor”.
Foto: Divulgação
O secretário-geral da CNBB, dom Joel Portella, também compôs a mesa de abertura e manifestou alegria pelo início da experiência formativa e por perceber as pessoas interessadas em investir, em se formar, em buscar conhecimento, “aprofundando racionalidade e a verdade que brota da fé, em um tempo com tantas notícias falsas e desinformações”. Dom Joel ressaltou a importância de trabalhar a “Dimensão Social da Fé” e percorrer um processo religioso, que “não é a busca de interesses próprios, que não são conchavos de gabinetes, mas uma fé que busca e que sonha um mundo diferente, um mundo igual, de irmãs e irmãos”. Ele lembrou que “estamos num processo de construção, pois estamos vivendo um esgotamento civilizacional. O mundo do jeito que ele vem se organizando, ao longo dos últimos séculos, chegou ao esgotamento. Ele já não tem mais folego para responder aos desafios que crescem a cada dia, com inúmeras sequelas: humanas e ambientais”. Dom Joel reforçou que este Curso, e qualquer processo formativo, “deve contribuir para a construção de um novo ethos a conduzir os rumos do mundo a partir da valorização da vida: a vida das pessoas, a vida do planeta, com atenção especial às situações de vulnerabilidades”. Por fim, o secretário-geral, ressaltou a importância da parceria profética na proposição do Curso, que vai além da individualizações e polarizações, mas busca a construção do mundo novo. E finalizou: “Razões para a alegria, razões para os sonhos, razões para o compromisso, nós temos bastante”.
Também participaram da mesa de abertura: dom Giovane Pereira de Melo, bispo da Diocese de Tocantinópolis (TO), e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para o Laicato da CNBB; Frei Olavio Dotto, assessor da Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Sociotransformadora da CNBB; Padre Paulo Adolfo Simões, secretário-executivo do Centro Nacional de Fé e Política dom Helder Câmara (CEFEP); Professor Daniel Seidel, coordenador-geral da formação em “Dimensão Social da Fé” e secretário-executivo da Comissão Brasileira Justiça e Paz da CNBB (CBJP). Conduziu a mesa da aula inaugural, a professora Mariza Sposito, assessora da pró-reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação para Cursos Latto Sensu da UNICAP.
“Fraternidade: uma forma de vida com sabor de evangelho” – O professor Francisco Aquino Junior iniciou a aula saudando as pessoas presentes e fazendo memoria de Santo Óscar Romero, que neste 24 de março recorda-se os 43 anos de seu assassinato. Na memoria de Romero, Aquino convidou à comunhão com as vítimas das guerras que estão correndo hoje, em pelo menos 28 países do mundo.
O professor conduziu a aula a oferecer chaves de leitura a partir da Carta Encíclica Fratelli tutti sobre a fraternidade e a amizade social, do Papa Francisco. Ele ressaltou que o documento “trata-se de uma proposta, antes de tudo. A fraternidade e a amizade social não são um dado natural, nem algo que se pode se impor por autoridade ou pela força, mas uma possibilidade que pode ser apropriada ou recusada pelas pessoas ou pela sociedade”.
“Para Francisco, não está apenas em jogo um aspecto pontual dentro de um sistema saudável, que a gente possa corrigir. Para Francisco, está em jogo uma forma de conceber e configurar a vida humana e todas as suas dimensões dinamizadas pela lógica do mercado como absoluto, como lei e como norma absoluta”, disse. Aquino salientou a necessidade de reforma estrutural, ou seja, dar outro rumo, pois a forma de organizar a vida, segundo a lógica do mercado – em que tudo é mercadoria e só vale à medida que tem valor comercial –, se mostra perversa. Diante disso, o professor lembra que há quem diga que Francisco tem uma postura radicalmente antissistêmica, “pois não se trata de fazer uma correção dentro do capitalismo, pois essa lógica não tem ‘salvação’”, observou.
À vista disso, afirma o professor, é preciso construir um novo padrão civilizatório, uma nova sociedade, uma nova forma de viver, de estar nesse mundo: “a fraternidade como forma de vida, essa é grande novidade que a Fretelli tutti apresenta”, apregoa Aquino. “A lógica da fraternidade pode regulamentar e organizar a sociedade na sua atividade econômica, na sua organização política, na sua dinâmica cultural”, ressalvou.
Aquino lembrou a expressão usada por dom Pedro Casaldáliga (1928-2020), “Nem por humanidade, nem muito menos por fé religiosa podemos nos render e aceitar essa lógica perversa e assassina do mercado. Por Deus, e pela humanidade, nós precisamos engajar as nossas vidas para transforma a sociedade”.
O professor finalizou a aula com a fala de Santo Óscar Romero, um dia antes de sua morte: “Irmãos, os senhores são parte integrante de um mesmo povo, e matam seus próprios irmãos. Lembrem-se de que, diante da ordem dada por um homem, prevalece a Lei de Deus, que diz: Não matarás [...]. Em nome de Deus e desse povo sofrido […] peço-lhes, rogo-lhes, ordeno-lhes em nome de Deus, cessem a repressão”. E concluiu dizendo aos cursistas que a atividade formativa que estão a iniciar é para qualificar a missão no mundo. É para ajudar na construção de um mais justo e fraterno. “Isso é, certamente uma atividade social, politica, econômica, e sim, mas em última instância para nós cristãos, é uma atividade de fé. Está em jogo, o projeto de salvação anunciado e inaugurado por Jesus”, sentenciou.
O Curso em “Dimensão Social da Fé” é uma proposição da Comissão Episcopal Pastoral para Ação Sociotransformadora da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CEPAST-CNBB), da Comissão Brasileira Justiça e Paz (CBJP) e do Centro Nacional de Fé e Política Dom Helder Câmara (CEFEP), em parceria com a Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP).
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CNBB e entidades parceiras promovem aula inaugural do Curso de pós-graduação em “Dimensão Social da Fé” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU