05 Agosto 2021
O fascismo usou a ciência para definir as leis raciais. Não foi uma colaboração diante de uma emergência.
O comentário é do jornalista e escritor italiano Mattia Feltri, em artigo publicado em L’HuffingtonPost.it, 04-08-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Com um novo artigo no jornal La Stampa, o filósofo Giorgio Agamben, nessa quarta-feira, 4, tenta especificar o paralelo entre as leis emergenciais de contenção da Covid e aquelas que levaram à Shoá.
Não é uma equiparação, escreve ele – e seria uma equiparação anormal –, mas sim a tentativa de estabelecer como, a décadas de distância e em condições totalmente diferentes, a relação entre ciência e política produz efeitos semelhantes sobre o direito e, portanto, sobre a liberdade.
Agamben lembra que as leis raciais de 1938 foram precedidas pelo manifesto no Giornale d’Italia em que dez preclaros cientistas afirmaram, com bases “puramente biológicas”, que a humanidade está indubitavelmente dividida em raças, e a raça judaica é estranha à raça itálica.
Temo que, assim, a lógica de Agamben não funciona ou, para funcionar, precisa de mais um passo, pequeno, mas irremediável. Porque as leis raciais não foram determinadas pelo manifesto dos cientistas, mas, ao contrário, o manifesto foi solicitado ou, melhor, imposto por Benito Mussolini para entregar às leis raciais uma fundamentação científica. Portanto, a ciência foi o pretexto usado pela política – e por uma ditadura, é preciso lembrar.
Para que a lógica de Agamben funcione, caberia pressupor que a Covid também é um pretexto, e não uma emergência diante da qual todo o mundo, democrático ou não, busca soluções de olhos vendados, ou quase, e com a colaboração da ciência.
Caberia pressupor que a Covid foi criada em laboratório para promover as condições de assujeitamento da humanidade a uma ditadura sanitária ou, pelo menos, que a Covid foi a oportunidade certa aproveitada. Então sim, então a política teria usado o vírus e a ciência como pretexto para um desígnio diferente, infinitamente mais amplo e tremendo, da proteção à saúde. Somente assim a lógica de Agamben encontraria a medida exata.
Mas às custas de partir de um postulado que introduz ao mundo dominado pelos reptilianos.
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Passaporte vacinal: a lógica de Agamben e um pequeno passo ausente - Instituto Humanitas Unisinos - IHU