Adeus ao teólogo Hans Küng

Foto: Muesse | Wikimedia Commons

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08 Abril 2021

A morte do teólogo suíço Hans Küng (nascido em 1928) torna o mundo cristão órfão de um estudioso atento, crítico e profundo. É impossível lembrar em detalhes o que ele fez e o que escreveu. Diremos que estudou filosofia e teologia na Gregoriana, ensinou dogmática, se tornou especialista em Vaticano II e, sobretudo, soube lembrar as responsabilidades da fé cristã para com o mundo moderno e a necessidade de dar vida ao diálogo inter-religioso. Küng foi um dos maiores teólogos do século XX e uma autoridade moral para os fiéis contemporâneos. Ordenado sacerdote em Roma em 1954, não se perdeu em pesquisas típicas da teologia politicamente comprometida, mas soube se fazer perguntas fundamentais sobre a existência de Deus, sobre a infalibilidade do Papa, sobre o que se deve entender quando se fala de Igreja, sobre as relações entre fé e ciência. Estudou profundamente os três monoteísmos - Judaísmo, Cristianismo e Islã - e não poupou nada ao Magistério Romano. Não é por acaso que foi afastado, devido às suas posições doutrinárias, do cargo de professor.

A reportagem é de Armando Torno, publicada por Il Sole 24 Ore, 06-04-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.

Projeto de uma ética mundial

Livros como “Deus existe? Resposta ao Problema de Deus na Idade Moderna" ou "Vida Eterna?" (em tradução livre, ed. Mondadori) permanecem clássicos; uma obra como “Projeto para uma ética mundial. Uma moral ecumênica para a sobrevivência humana” (Rizzoli) é indispensável para compreender as questões do presente. Grande conhecedor do fugaz mundo das notas e da importância que ele desempenha, ele o demonstrou em “Música e religião. Mozart, Wagner, Bruckner” (Queriniana).

Firmeza perante os pontífices Pio XII, João Paulo II e Bento XVI

Com Küng, acabamos por nos perder. Mesmo falando apenas das propostas que ele apresentou para a renovação e mudança da Igreja, poderíamos listar uma bibliografia sem fim. Mais ainda, deveríamos lembrar sua firmeza diante dos pontífices desde Pio XII até os dias de hoje, especialmente com João Paulo II e Bento XVI. Encontrou-se com este último em Castel Gandolfo em 24 de setembro de 2005. Embora tivessem trocado sorrisos, Küng não poupou nada ao pontífice teólogo, chegando até mesmo a criticá-lo pelos abusos sexuais que explodiram durante seu pontificado (um exemplo: o artigo publicado no "Repubblica" em 18 de março de 2010 com o título "Ratzinger recita o mea culpa sobre a pedofilia").

Inflexível e combativo

Inflexível, combativo, buscando obstinadamente uma verdade que parecia ter perdido seus pastores, Küng foi um gigante em uma época de teólogos cada vez mais em crise. Encantador conversador, lembro-me de um jantar com ele e Giovanni Reale em Milão, no qual os dois falaram com maestria da filosofia antiga. Küng citava Platão diretamente em grego, Reale não ficava atrás. Um teólogo que também foi grande nisso.

 

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