09 Março 2021
Embora muitas vezes seja difícil de avaliar imediatamente o impacto das viagens papais, tais precauções significam pouco para o líder da Igreja Católica local do Iraque, que rapidamente proclamou a visita do Papa Francisco ao seu país, entre os dias 5 e 8 de março, como um “milagre”.
A reportagem é de Inés San Martín, publicada por Crux, 08-03-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
“A mentalidade e a cultura começaram a mudar”, disse o cardeal Louis Raphael Sako aos jornalistas no domingo, enquanto esperava a chegada do Papa Francisco em Qaraqosh, vindo de Mosul, duas cidades devastadas pelos terroristas do Estado Islâmico entre 2014 e 2017.
“Primeiro, a espera pelo papa e, depois, a sua presença fizeram um milagre”, disse Sako.
Ele argumentou que a situação para os cristãos no Iraque, onde o ISIS perpetrou um genocídio e onde aqueles que seguem a Jesus sofrem discriminação há muito tempo, muitas vezes tratados como cidadãos de segunda classe, está mudando.
“A situação já mudou. Todos estão falando sobre nós agora, sobre a história dos cristãos no Iraque e no Oriente Médio, dizendo que ‘a terra era deles, nós chegamos depois’, usando uma linguagem completamente diferente de respeito aos cristãos, encorajando os cristãos a ficar, a construir confiança”, disse ele.
O arcebispo Youhanna Jihad Mtanos Battah, arcebispo siríaco de Damasco, concordou que todos ficaram muito felizes em receber o papa, e “esta viagem é muito importante para o diálogo. É uma carta pela paz”.
“O Iraque sofreu muito”, disse ele aos repórteres. “Eles viveram muitas guerras. Então, um pouco de força, um pouco de coragem é necessária para esse povo que espera reconstruir o Iraque. É uma visita muito importante.”
Battah acrescentou que a Síria também está aguardando o papa, porque “a guerra está quase no fim”.
Os dois prelados falaram separadamente aos jornalistas na Igreja da Imaculada Conceição, em Qaraqosh, a maior cidade cristã do Iraque, localizada na planície de Nínive, um trecho de terra entre o norte do Iraque e o Curdistão, a região autônoma do norte. Eles estavam dentro da igreja, mas saíram juntos dela rumo ao pátio para tirar uma foto um com o outro, claramente felizes ao se verem.
Mtanos estava em Qaraqosh, a cerca de 320 quilômetros da fronteira com a Síria, exclusivamente para a visita do papa e definiu a estada de Francisco nessa cidade como um “Domingo de Ramos antecipado”.
Questionado sobre a possibilidade de o cristianismo desaparecer do Oriente Médio, uma ideia muitas vezes levantada por líderes cristãos, especialmente desde a ascensão do ISIS, o sírio rejeitou fortemente a ideia.
“Já estivemos aqui e vamos permanecer aqui”, disse ele. “O Oriente Médio sem os cristãos se torna muito perigoso. A comunidade internacional precisa ajudar os cristãos a permanecer em seus próprios países. Isso é muito importante.”
“Nós estamos aqui. Somos poucos, mas estamos aqui. Isso é importante”, insistiu ele, lembrando que os cristãos podem ser “pontes” com os muçulmanos, como no caso de Sako, que “convidou o papa, uma pessoa importante, e ele veio ao Iraque. E isso é importante para todo o Iraque”.
Ele também exortou a comunidade internacional a ajudar os cristãos a permanecer no Oriente Médio em vez de migrar, dizendo, brincando, que é “menos custoso”.
Sobre uma possível visita à Síria, Mtanos disse que “todos nós aguardamos a visita do Papa Francisco. O Papa João Paulo II veio em 2001. É possível, não vejo por que não”.
Depois que um repórter ressaltou que, quando o papa polonês estava na Síria, não havia uma guerra em andamento – como é o caso agora, com um conflito que já dura quase 10 anos –, o arcebispo argumentou que os combates só continuam ainda no nordeste, mas cidades como Damasco e Aleppo são pacíficas.
“Estamos quase no fim da guerra”, disse ele. “E a visita nos daria paz. Todos amam este papa, porque ele é aberto. Até os muçulmanos acolheram o papa.”
Sako acrescentou que a alegria por esta visita histórica em um momento tão complicado é palpável em todo o Iraque, entre cristãos, muçulmanos e pessoas de outras religiões.
“Ele nos trouxe conforto, esperança, mas também fraternidade”, disse ele. “Todos estão comovidos.”
Referindo-se a outro momento histórico da viagem, o encontro de Francisco com o líder xiita Ali al-Sistani, Sako disse que o grande imã havia dito ao pontífice que não havia sido capaz de receber políticos corruptos na cidade de Najaf, considerada sagrada para os xiitas, mas que a visita papal foi “histórica”, reiterando que “a fraternidade entre cristãos e muçulmanos é necessária”, assim como pensar na juventude, “porque eles são o futuro do mundo”.
Segundo o cardeal, Francisco disse que se tratava de uma “peregrinação de paz”, que era “necessário que todos se convertessem a Deus e pensassem na humanidade, não no sectarismo”.
O Papa Francisco encerrou sua visita ao Iraque entre os dias 5 e 8 de março com uma missa em Erbil, capital do Curdistão. Com uma multidão estimada em 10.000 pessoas, que tinha pouca ou nenhuma intenção de respeitar as medidas anti-Covid-19, ele prometeu que o Iraque “sempre permanecerá comigo no meu coração”.
“Peço a todos vocês, caros irmãos e irmãs, que trabalhem juntos em unidade por um futuro de paz e prosperidade que não deixe ninguém para trás e não discrimine ninguém. Asseguro-lhes as minhas orações por este amado país”, disse ele. “De modo particular, rezo para que os membros das várias comunidades religiosas, junto com todos os homens e as mulheres de boa vontade, cooperem para estreitar laços de fraternidade e solidariedade a serviço do bem comum e da paz.”
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Líder católico iraquiano define a viagem do Papa Francisco como “um milagre” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU