09 Fevereiro 2021
Como os protocolos para retardar a pandemia de covid-19 silenciaram muitos concertos e restringiram o uso de canto congregacional em muitas igrejas, o Papa Francisco pediu aos músicos para usarem esse tempo para escutar.
A reportagem é de Cindy Wooden, publicada por National Catholic Reporter, 05-02-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Boa música como qualquer tipo de comunicação efetiva, precisa tanto do som quanto do silêncio, disse o papa em uma videomensagem de 04 de fevereiros aos participantes do Encontro Internacional do Conselho Pontifício para a Cultura sobre a Igreja e a música.
Reconhecendo o impacto que a pandemia teve sobre músicos de todo o mundo, o Papa Francisco expressou sua simpatia aos “músicos que viram suas vidas e profissões transtornadas pelas demandas de distanciamento social; àqueles que perderam seus empregos e contato social; àqueles que precisaram enfrentar, em difícil contexto, as necessidades de treino, educação e vida comunitária”.
Mas ele também reconheceu como muitos deles, dentro e fora da Igreja, “tem dedicado importantes esforços para continuar a oferecer o serviço musical dotado de nova criatividade”, tanto online ou em locais ao ar-livre.
A conferência internacional de 04 e 05 de fevereiro também ocorreu online devido à pandemia e teve como tema “Texto e contexto”.
“Na liturgia, nós somos convidados a ouvir a Palavra de Deus”, afirmou o papa aos participantes. “A Palavra é nosso ‘texto’, o texto principal” e “a comunidade nosso ‘contexto’”.
A pessoa de Jesus e as sagradas Escrituras iluminaram e guiaram o caminho da comunidade reunida para orar, afirmou. Mas a história da salvação precisa ser narrada “em idiomas e linguagens que possam ser bem entendidos”.
Música, afirmou o papa, “pode ajudar textos bíblicos a ‘falar’ em novos e diferentes contextos culturais, então a Palavra divina pode efetivamente encontrar mentes e corações”.
O Papa Francisco elogiou os organizadores da conferência por prestarem atenção às “mais diversas formas musicais”, que refletem uma variedade de culturas e comunidades locais, “cada uma com seu próprio ethos. Estou pensando particularmente nas civilizações indígenas, nas quais a abordagem da música é integrada com os outros elementos rituais de dança e celebração”.
Quando a música e as culturas locais interagem dessa forma, disse ele, “podem surgir narrativas envolventes a serviço da evangelização. Na verdade, a experiência integral da arte musical inclui também a dimensão da corporeidade”, porque, como dizem alguns, “estar bem é cantar bem, e cantar bem é estar bem!”.
A música também constrói comunidade e une as pessoas, criando um senso de família, disse ele.
A pandemia tornou isso difícil, continuou, mas “espero que este aspecto da vida social também possa renascer, que possamos voltar a cantar e tocar e desfrutar de música e cantar juntos. Miguel de Cervantes em Dom Quixote disse: ‘Donde hay música, no puede haber cosa mala’ [Onde há música, não pode haver nada de ruim]”.
Ao mesmo tempo, disse o papa, “um bom músico conhece o valor do silêncio, o valor da pausa. A alternância entre som e silêncio é fecunda e permite a escuta, que desempenha um papel fundamental em todo diálogo”.
O papa pediu aos músicos que pensassem sobre a pandemia e se perguntassem: “O silêncio que vivemos é um vazio ou estamos em processo de escuta?” e, “depois, vamos permitir o surgimento de uma nova música?”.
“Que vozes, instrumentos musicais e composições continuem a expressar, no contexto atual, a harmonia da voz de Deus, levando a uma ‘sinfonia’, isto é, à fraternidade universal”, disse ele no Dia Internacional da Fraternidade Humana da ONU, uma celebração do diálogo inter-religioso.
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Papa Francisco aos músicos: usar a pandemia para ouvir e construir a unidade - Instituto Humanitas Unisinos - IHU