13 Janeiro 2021
A primeira turnê midiática no início do ano terminou com uma entrevista ao Tg5 na noite de domingo. A mensagem é clara: o fechamento do mundo, catalisado pelo coronavírus, se supera com a abertura ao outro.
A reportagem é de Marco Grieco, publicada por em Domani, 11-01-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.
Em três formas diferentes, o papa lançou assim um convite revolucionário ao mundo laico. Não é por acaso que o tema escolhido para a celebração da primeira mensagem papal de 2021 está orientado para a "cultura do cuidado como via para a paz".
Muda o ano e muda o roteiro da comunicação do Papa Francisco visto que, nos primeiros dias de 2021, o Pontífice escolheu a Sportweek, a Vanity Fair Italia e a Vogue Italia como fóruns inusuais para expressar, preto no branco, suas reflexões sobre a humanidade. A primeira turnê midiática no início do ano terminou com uma entrevista Tg5 na noite do último domingo. A mensagem é clara: o fechamento do mundo, catalisado pelo coronavírus, se supera com a abertura ao outro.
Tendo alcançado o que se espera ser a fase final da pandemia graças às vacinas em distribuição mundial, o Papa se pergunta se essa trágica "ausência de fronteiras" que semeou doenças e mortes não possa ser transformada em um diálogo amplo. Como sempre faz, Bergoglio se esforça para mostrar que não há diferença real entre o mundo laico e o clerical. Pelo contrário, assume a herança do documento Inter Mirifica (4 de dezembro de 1963) que, em decorrência do Concílio Vaticano II, admitia o potencial de uma comunicação de massa que não divide, aliás, une. Com palavras com as quais todos, crentes ou não crentes, podem se identificar, o Papa se apoia nos valores comuns de um "povo no qual as diferenças se harmonizam dentro de um projeto comum" (Evangelii Gaudium, 221), porque como recordou em Querida Amazônia, uma identidade só é rica se enriquece os outros.
A partir disso, tomou forma a chamada encíclica laica sobre o esporte, que apareceu no primeiro número do ano da Sportweek, sob a forma de uma entrevista com o diretor Pier Bergonzi. Tudo começou no passado mês de junho quando, a convite do padre maratonista Dom Marco Pozza, o pontífice enviou uma mensagem ao atleta paraolímpico Alex Zanardi, hospitalizado em condições gravíssimas: “Não era uma mensagem dirigida só a Zanardi, mas a todo o mundo” explica Dom Pozza, que então propôs ao papa a iniciativa com a Sportweek e Gazzetta dello Sport.
Segundo Bergoglio, o esporte é uma bagagem de sete valores - lealdade, empenho, sacrifício, inclusão, espírito de equipe, ascese, resgate - que traçam um substrato comum a todos os homens. A mensagem é, sem dúvida, uma novidade na comunicação de um pontífice que, embora enraizado numa visão cristã do mundo, a transcende para permitir que todos se identifiquem com ela: “Este é o ano das Olimpíadas de Tóquio 2020, celebraremos o 125º aniversário da nascimento das Olimpíadas modernas: o esporte se torna a gramática para interpretar a vida cotidiana, a melhor forma de se encaminhar para um reinício comum”, ressalta Dom Pozza.
E se à parada de 2020 se segue o recomeço de 2021, o diferencial é a marcha a ser engatada. Nos discursos proferidos no ano passado, o papa denunciou a solidão de nosso mundo, um mal latente que a pandemia apenas exacerbou. Agora seu apelo é superar tudo isso com uma linguagem que aprofunde para redescobrir a relação. Este é o sentido da capa da Vanity Fair Italia: um Bergoglio rodeado pelo lema "Irmãos e Irmãs", que não é mais o gélido título de uma encíclica de outrora, mas um convite urgente e universal, tanto que foi traduzido para todas as línguas. A escolha de se dirigir não apenas aos membros da igreja, mas a todos os homens, explica a ausência de referências explícitas a Cristo, que seriam dadas como certas em uma carta dirigida ao mundo leigo. A mensagem do pontífice para a revista é, no entanto, uma reformulação da bênção urbi et orbi do Natal passado.
Para o Papa Francisco, quando se decide percorrer a estrada juntos, não existem compromissos para facilitar, mas se coloca em jogo a própria identidade por inteiro. Sua carta à Vanity Fair se despoja da linguagem militante de um líder religioso para fornecer uma base comum de ação para um diálogo autêntico e inclusivo. “Sua Santidade tinha lembrado que de uma crise como esta não sai igual, se sai melhores ou piores. Não sei se vamos sair melhores, mas tenho certeza que devemos fazer todo o possível para não acabarmos piores”, escreve a diretora Simone Marchetti no editorial de abertura.
Assim como a metáfora do barco foi usada para traçar o mundo nas ondas da pandemia, assim o vírus se torna uma alegoria negativa do individualismo a ser superado: “O sucessor de Pedro nos convidou a curar um grande vírus, o da injustiça social, da desigualdade de oportunidades, da marginalização e da falta de proteção dos mais fracos”, escreveu Andrea Tornielli em sua contribuição ao semanário.
Também na Vogue. Reconhecer a situação que vivemos abre o caminho para contextos muito mais amplos nos quais podemos despender nossos esforços. Esta é a mensagem papal implícita nas palavras do padre Antonio Spadaro publicadas no primeiro número do ano da Vogue Italia: “O Papa Francisco costuma repetir que tudo está conectado: o mundo é um tecido de fios, e sem laços não há vida”, explica. o editor Emanuele Farneti, que ao fazer do primeiro número da Vogue uma dedicatória ao mundo animal, lança um desafio a uma visão antropocêntrica voraz: “Acredito que, até mesmo para uma revista de moda, falar de animais ignorando a mensagem de Francisco seria hoje impossível”, fala Farneti. “Este mês queríamos muito falar sobre esta rede de vínculos, da qual o homem não pode pretender ser o fulcro. Queríamos fazer um exercício para colocar à prova a perspectiva antropocêntrica. E fazê-lo utilizando diferentes linguagens: a ciência e a biologia são úteis, mas não bastam. Então tentamos fazer com que falassem a poesia e as emoções. E foi realmente uma grande satisfação que a esse discurso tenha participado, através do relato de Spadaro, também a palavra de Francisco. Palavra mais uma vez capaz de uma mensagem universal de abertura e inclusão que, se for lícito comparar, são os grandes desafios que também a moda, um mundo tradicionalmente ligado às elites, colocou no centro do seu processo de crescimento”.
Em três formas diferentes, o papa lançou assim um convite revolucionário ao mundo laico em face da mãe de todas as tentações: a normalidade do conflito. Não é por acaso que o tema escolhido para a celebração da primeira mensagem papal de 2021 esteja orientado para a "cultura do cuidado como via para a paz". Em um nível concreto, um marco será alcançado em 22 de janeiro, quando entrará em vigor o Tratado sobre a proibição de armas nucleares, no qual Bergoglio despendeu tantos esforços. Um pequeno passo para dar uma rota humana ao mundo que virá.
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A estratégia de comunicação pop do papa que agrada às pessoas que agradam - Instituto Humanitas Unisinos - IHU