Ministérios participativos em Igreja Sinodal. Artigo de  Fernando Altemeyer Jr

Foto: Paróquia Bom Jesus

13 Janeiro 2021

"O rosto local deve ser valorizado e cultivado como expressão multifacetada do Espírito de Jesus no mundo. Um verdadeiro mosaico necessário para a beleza do todo da Igreja", escreve Fernando Altemeyer Jr., teólogo leigo, graduado em Filosofia e em Teologia, mestre em Teologia e Ciências da Religião pela Universidade Católica de Louvain-La-Neuve, na Bélgica, e doutorado em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC. Atualmente é professor e integra o Departamento de Ciência da Religião, da Faculdade de Ciências Sociais da PUC-SP.

 

Eis o artigo. 

 

Atualidade da questão

Há evidente insatisfação e mesmo frustração diante de antigos modelos autoritários e clericais, já que o último milênio do cristianismo foi marcado pelo centralismo eclesiástico que atrofiou as ações exuberantes do Povo de Deus. As possibilidades reais de mudança pela emergência de um novo modelo eclesial do Concílio Vaticano II, transcrito na Lumen Gentium e as propostas de Medellín, em 1968 fizeram o sopro do Espírito Santo escancarar as janelas da Igreja. Dados estatísticos hoje indicam que em cada comunidade paroquial há 50 leigos exercendo ministérios para cada presbítero ordenado. Bem poucos são instituídos em sua missão eclesial publicamente (doc. 62 da CNBB § 39). Os padres precisam ser ministérios de síntese e não a síntese dos ministérios (doc. 62 § 87). O clericalismo é ainda uma grave doença que machuca o Corpo Místico de Cristo, sua Igreja.

O Sínodo de 1974 resultou na Exortação Evangelii Nuntiandi que no nº 73 revelou ao mundo o coração da missão eclesial: evangelizar. A Igreja existe como sacramento do Cristo, Luz dos povos. Igreja não existe para si, mas para a vida do mundo (Pro Vita mundi). Mais que hierarquia e laicato, afirma-se como comunhão de carismas e ministérios (doc. 62 § 104 e 105). A Exortação Evangelii Gaudium confirmou os passos do Papa João 23. Francisco reassumiu o espírito conciliar sinodal como o atual bispo de Roma.

O Instrumento de Trabalho do Sínodo Extraordinário da Pan Amazônia reafirma a urgência de pensar o presente e o futuro da Evangelização dos nove países envolvidos no bioma de 8,1 milhões de quilômetros quadrados, 37 milhões de habitantes de culturas e histórias diversas. Aí convivem 2.779.478 aborígenes pertencentes a 390 povos reconhecidos e 137 povos ainda não contatados. São faladas 240 línguas diferentes de 49 ramos linguísticos (cf. Agência Fides 17/10/2017). A coordenação episcopal na região acontece por meio de sete conferencias episcopais, com uma rede amazônica de 2.166 paróquias católicas, centenas de comunidades e capelas. Nessa Igreja missionária atuam 21.660 catequistas, 4.454 irmãs de vida religiosa consagrada, 2.057 irmãos religiosos, 418 diáconos casados permanentes, 3.828 presbíteros diocesanos e do clero religioso, 154 bispos (diocesanos, auxiliares, coadjutores, prelados e vigários apostólicos ativos e eméritos). Como se pode verificar: há desafios gigantescos e urgentes para anunciar Jesus e sua compaixão!

Essas razões históricas e religiosas clamam por uma explosão ministerial nas igrejas. Esse fora o grito de dom Angélico Sândalo Bernardino em 2009: “Eu acredito em uma Igreja explosivamente ministerial para que a paróquia realmente se converta numa rede articulada de comunidades, (CEBs) sem o que realmente nós não teremos a explosão missionária que devemos ter (BERNARDINO, Revista Missões, 2009)”.

Em primeiro lugar a modernidade toca a estrutura eclesial exigindo mais participação dentro das Igrejas. A sinodalidade precisa se expressar em relações circulares.

Em seguida o desafio da organização eclesial clama aos céus: a questão da competência, a equilibrada eficácia operacional e o serviço real aos empobrecidos são pedra-de-toque de nossas Igrejas. A Igreja precisa de servidores e anunciadores competentes. As decisões precisam ser tomadas em colégio e conselhos (consultivos e deliberativos).

Em terceiro lugar emerge vigorosa a questão da formação qualificada do laicato e a pregação intelectualmente sólida e espiritual de presbíteros e diáconos permanentes. O estudo bíblico e pastoral deve ter primazia sobre administração financeira e domínio sagrado.

Enfim, a missão da Igreja, como sacramento de salvação (LG 1), pede ministérios e estruturas visíveis como expressões críveis da Igreja invisível feita de mártires, liturgia eucarística, louvores, compromissos sociais que envolvam batismo, cruz, contemplação e graça superabundante do Espírito. Os ministérios e a missão global de libertação precisam tocar as pessoas sem exclusão nem submissão à idolatria.

É preciso repensar e repropor novos (e valiosos) tipos de serviços pastorais que organizem o testemunho eficaz do Cristo, na dimensão profética e ecumênica. Se a injustiça é organizada, a caridade também deve ser. Uma questão teológica importante é o cuidado em repensar a estrutura da Igreja nas dioceses e na Cúria Romana. A comunhão de igrejas particulares, dos patriarcados e mesmo das igrejas de outras denominações, por meio do ecumenismo, são sementes da graça de Deus no mundo. Os ministérios concretos dos bispos, presbíteros (celibatários e casados), dos diáconos casados permanentes e das diaconisas pede que se repensem os cargos e funções, inclusive as de núncios, bispos auxiliares, leitores, animadores, profetas, catequistas e missionários leigos.

 

 

Há “o” Ministério da Igreja (desde as pequeninas Comunidades Eclesiais de Base até a Igreja Universal) e há “os” ministérios na Igreja. As CEBs procuram ser uma Igreja toda ela ministerial. A Igreja Universal precisa ser ela também um celeiro de vocações ministeriais. Retoma-se assim a relação entre sacerdócio comum de todo/a batizado/a e o sacerdócio ministerial (ordenado). Entre Igrejas locais e Igreja Universal. O rosto local deve ser valorizado e cultivado como expressão multifacetada do Espírito de Jesus no mundo. Um verdadeiro mosaico necessário para a beleza do todo da Igreja.

O Instrumento de Trabalho do Sínodo da Amazônia diz em seu parágrafo 110: “Uma Igreja com rosto amazônico, em seus pluriformes matizes, procura ser uma Igreja “em saída” (cf. EG, 20-23), que deixa atrás de si uma tradição colonial monocultural, clericalista e impositiva, que sabe discernir e assumir sem medo as diversificadas expressões culturais dos povos. O referido rosto nos alerta para o risco de “pronunciar uma palavra única [ou] propor uma solução que tenha um valor universal” (cf. OA, 4; EG, 184). Sem dúvida, a realidade sociocultural complexa, plural, conflituosa e opaca impede que se possa aplicar “uma doutrina monolítica defendida sem nuances por todos” (EG, 40). Por conseguinte, a universalidade ou catolicidade da Igreja se vê enriquecida pela “beleza deste rosto pluriforme” (NMI, 40), das diferentes manifestações das Igrejas particulares e de suas culturas, formando uma Igreja poliédrica (cf. EG, 236)”.

Escreveu o eminente teólogo dos ministérios, padre Antônio José de Almeida: “Os ministérios não ordenados restituíram à Igreja, depois de vinte séculos de história, o frescor e a vitalidade das primeiras comunidades, que, em sua primeira ‘eclesiogenese’, experimentavam ao vivo o que realmente significa que ‘ a cada um é dada uma manifestação do Espírito para utilidade comum (1Co 12,7) (ALMEIDA, 2015, p. 625)”.

 

 

As raízes na memória cristã

A prática das igrejas locais, com destaque para as dioceses que traçam e vivem seus planos de ação pastoral remetem imediatamente ao equilíbrio entre ausculta do Espírito e uso das ciências humanas e sociais, particularmente psicologia, antropologia, sociologia e visão ecológica ("o nosso conhecimento consiste na construção de versões-de-mundo” dizia Nelson Goodman) o que não pode nem deve desprezar a primazia da Escritura Sagrada compreendida como revelação da pessoa do Cristo e de sua filiação ao Deus Pai Criador. A Palavra viva é a casa, o mapa e o alimento da Igreja e de qualquer ministério eclesial. Na Bíblia Sagrada o conceito “leigo” não existe, mas sempre se apresenta a identidade de uma comunidade (povo) como a chave essencial e constitutiva dos Evangelhos e de cada uma das páginas sagradas.

O próprio estatuto teológico de Jesus nos faz ver como as estruturas atuais necessitam confrontar-se com o modelo original e paradigmático. O ministério de Jesus é anunciar o Reino e cuidar dos corpos feridos nas estradas da Palestina. O modo de organizar o grupo dos doze, a ação e pregação da Igreja querigmática primitiva, as expressões latina e siríaca e mais tarde as inúmeras famílias do Oriente (famílias litúrgicas vigorosas) assumem o fato e acontecimento pascal. A Igreja e os ministérios nascem às margens do império e até mesmo contra o império. A alegria dos cristãos se exprime no serviço das mesas articulando ágape à partilha eucarística. A ação misteriosa do Espírito Santo era visível na pregação missionária e no fortalecimento da fé das testemunhas de Cristo Ressuscitado. O apóstolo Paulo pede que se ouça o Espírito que une a todos e os envia exigindo firme articulação dos ministérios na missão ad Gentes.

Hoje o papel dos bispos, do Sínodo e dos/as teólogos/as e agentes de pastoral é evidente: ampliar horizontes, abrir as mentes, cavar o chão dos povos discernindo o processo de mergulho do Verbo de Deus nas culturas e na alma humana.

Escreveram os bispos do Brasil anos atrás: “O protagonismo do cristão leigo requer profundas mudanças no estilo do governo e no exercício da autoridade por parte da hierarquia, para permitir e encorajar comunhão, a participação e a corresponsabilidade dos leigos na tomada de decisões pastorais, valorizando o voto dos conselhos pastorais e a presença ativa dos fiéis em Sínodos e Concílios particulares, conforme está previsto por documentos oficiais da Igreja (Documentos da CNBB 62, página 127 parágrafo 190).”.

 

 

Ministérios hoje e amanhã

Há uma questão de vocabulário que precisa ser retomada. Que é ser ministro? A quem serve? Como definir a missão diante do Senhor da história? Há centenas de serviços pastorais na ação eclesial. Há presbíteros casados e solteiros na Igreja Católica. Há diáconos casados. Há irmãos e irmãs consagradas na Vida Religiosa e seus votos de amor ao Cristo. Há catequistas educadoras da fé. Há bispos profetas e patriarcas da fé cristã.

Essas servidoras na/da comunidade eclesial exercem cargos relativamente estáveis e são chamadas de ministras, que é um conceito ambíguo hoje no Brasil pelo mau exemplo de Ministros de Estado que se corrompem e manipulam os aparelhos de Estado em benefício próprio. Somado a isso há o forte machismo, a autocracia clerical e uma estrutura misógina na Igreja.

 

 

Ao estudarmos os conceitos envolvidos vemos que existem três importantes:

1. múnus - munera: cargo ou função que pesa.

2. officium - tarefa: obrigação a cumprir.

3. servitium: obediência ao mandatário. Uma discussão inovadora sobre a identidade e a função de novos ministérios funda-se no ministério global da própria Igreja (cf. Ef 4,12).

Paulo entende os ministérios conectados diretamente aos carismas, que são as dádivas e presentes do Cristo Ressuscitado. Não há ministério que não seja fruto e ação da Graça do Espírito Santo. Sempre válido recordar a imagem do corpo como articuladora dos diferentes órgãos para a vida da pessoa humana. Assim: “como os membros dos corpos são diversos, assim também os serviços (Rm 12,3; 1Co 12,4).” Dentro dessa visão holística, o missionário e apóstolo Paulo propõe cinco ministérios bem específicos na Carta aos Efésios: “E ele designou alguns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres… (Ef 4,11)”. É curioso notar que nas listas paulinas não há menção a sacerdotes. O modelo para Paulo são os profetas e anciãos.

Também por conta da ação sistólica da ação missionária Paulo valoriza enormemente os evangelistas e mestres, que anunciam o Evangelho e ensinam as comunidades a manter-se fiel ao Cristo vivo na doutrina dos Apóstolos (At 2,42). Nos séculos seguintes novas tarefas e ministérios vão surgindo: bispos, presbíteros e diáconos (cf. At 20,28). Vê-se claramente o hibridismo e conflito entre dois modelos de organização: o judaico com um colégio de anciãos (1Tm 4,14), como se lê: “De Mileto mandou a Éfeso chamar os anciãos da Igreja (Atos 20,17)”.

No modelo da diáspora há o ministério da supervisão (epíscopos). Podemos ler: “Convém que o bispo seja irrepreensível, como despenseiro da casa de Deus, não soberbo, nem iracundo, nem dado ao vinho, nem espancador, nem cobiçoso de torpe ganância; mas dado à hospitalidade, amigo do bem, moderado, justo, santo, temperante; retendo firme a fiel palavra, que é conforme a doutrina, para que seja poderoso, tanto para admoestar com a sã doutrina, como para convencer os contraditores (Carta de Paulo a Tito 1, 7-9)”. Os dois modelos não negam a graça e o chamado de Deus para a missão que sempre precede a função. A tensão se manteve entre a perspectiva cúltica e a místico-pastoral: ambas mistagógicas.

Todo ministério é‚ antes de tudo, uma prática coerente, comunitária e reconhecida pela comunidade (cf. ANTIOQUIA, Inácio de. Carta aos Efésios, p. 63).

O centro da reforma ministerial é a missão assumida como prioridade. Essa foi a redescoberta central dos padres conciliares em 1964: ministérios são sinais do Cristo que atua no mundo. São serviços da comunidade dos fieis na estrada da missão peregrina. Não há ministro superior nem inferior. Pelo batismo e pela confirmação todo cristão é engajado e convocado a participar de um ministério insubstituível: o dever de evangelizar. O ministério é fundamentalmente: “o carisma que assume a forma de serviço à comunidade e à sua missão no mundo e na Igreja e que, por esta, é como tal acolhido e reconhecido.” (doc. 62 da CNBB § 83).

 

 

São três os eixos bíblicos ou notas essenciais do exercício ministerial: profético, sacerdotal e real, todos vividos no corpo de Cristo. Importante citar que o Conselho Mundial de Igrejas propôs estas notas complementares às apostólicas notas una, santa, católica e apostólica. Incluiu a dimensão martirial, a diaconal, a comunitária e a litúrgica.

Há os serviços ocasionais, bem como os ministérios habituais e enfim os ministérios ordenados (ditos sagrados). A questão da jurisdição clerical e dos conflitos com uma visão comunitário-participativa, indicada explicitamente no documento de Puebla não foi resolvida até o momento. Há ministérios reconhecidos (confiados) e mesmo instituídos (leitor e acólito) e há atualmente três ordenados (diácono, presbítero, bispo). Bem sabemos que o laicato está ligado ao tempo secular, ao mundo, às famílias para santificá-las (cf. LG 7 e 31, AA 3, GS 32, UR 2, EN 70, CIC 225, CEC 897). O texto mais exemplar da ação ministerial do laicato: “... gozam de aptidão a serem designados pela hierarquia para algumas funções eclesiásticas a serem exercidas para um fim espiritual (LG 33)”.

O campo de ação dos ministérios eclesial em uma Igreja sem Fronteiras é imenso. A base canônica central se encontra na Carta Apostólica de santo papa Paulo VI intitulada Ministeria Quaedam de 15/08/1972. No interior da Igreja e no coração da sociedade, na política, nas instituições, nos movimentos, nas ruas, nas artes e nas pastorais, pois ‘para isto existe a Igreja: para o Reino de Deus’ (doc. 62 da CNBB § 76).

 

 

Não é adequado “pensar a repartição de tarefas e ministérios, como se alguns devessem dedicar-se exclusivamente à vida interna da Igreja e outros se encarregassem da presença no mundo, reproduzindo, numa forma nova, o velho esquema dos ‘dois gêneros de cristãos’ (doc. 62 da CNBB § 90)”.

Há certamente questões práticas: Quem chama e quem escolhe os/as ministros/as? Qual deve ser a formação prévia e complementar para exercer sua missão? Que ministro para que tipo de Igreja? Qual é a remuneração justa e qual deve ser gratuita e voluntária? Quem avalia? Quanto tempo? Qual projeto pastoral? São as Igrejas locais em comunhão com o bispo de Roma que irão responder. A Igreja do Brasil assumiu nas Diretrizes Gerais uma ação de raiz e profundidade: “Priorizar pequenas comunidades eclesiais, ao redor da Bíblia, como fruto imediato da visitação missionária. Para tanto, é fundamental a formação de lideranças leigas que possam coordenar, com espírito de mobilização e de oração, essas comunidades (CNBB, Diretrizes Gerais, p. 78)”.

Assim afirma o Instrumento de Trabalho do Sínodo da Amazônia parágrafo 129:

 

“As seguintes sugestões das comunidades recuperam aspectos da Igreja primitiva, quando ela respondia a suas necessidades criando os ministérios oportunos (cf. At 6, 1-7; 1 Tm 3, 1-13): a. Novos ministérios para responder de modo mais eficaz às necessidades dos povos amazônicos:

1. Promover vocações autóctones de homens e mulheres, como resposta às necessidades de atenção pastoral-sacramental; sua contribuição decisiva consiste no impulso para uma autêntica evangelização do ponto de vista indígena, segundo seus usos e costumes. Trata-se de indígenas que apregoem a indígenas a partir de um profundo conhecimento de sua cultura e de sua língua, capazes de comunicar a mensagem do Evangelho com a força e a eficácia de quem dispõe de uma bagagem cultural. É necessário passar de uma “Igreja que visita” para uma “Igreja que permanece”, acompanha e está presente através de ministros provenientes de seus próprios habitantes.

2. Afirmando que o celibato é uma dádiva para a Igreja, pede-se que, para as áreas mais remotas da região, se estude a possibilidade da ordenação sacerdotal de pessoas idosas, de preferência indígenas, respeitadas e reconhecidas por sua comunidade, mesmo que já tenham uma família constituída e estável, com a finalidade de assegurar os Sacramentos que acompanhem e sustentem a vida cristã.

3. Identificar o tipo de ministério oficial que pode ser conferido à mulher, tendo em consideração o papel central que hoje ela desempenha na Igreja amazônica”.

 

 

Uma Igreja ministerial de A a Z

Propor novos ministérios instituídos publica e formalmente em todas as dioceses e prelazias para atender às necessidades da ação evangelizadora. Cargos com tempo, mandato e celebrações litúrgicas específicas.

 

a) Apoiar firmemente o ministério leigo permanente: o matrimônio conjugal, sacramento assumido e realizado pelo casal de noivos.

b) Serviços da caridade eficaz, diante da “imensa massa de deserdados e sofredores, além do mais, provados pela crescente onda de desemprego e a lentidão da Reforma Agrária” (doc. 62 § 16).

c) Os liberados nas pastorais, setores, dioceses, paróquias ou os assessores leigos dos movimentos religiosos.

d) Os agentes de pastoral, animadores, catequistas e membros de Conselhos deliberativos.

e) As/os coordenadores leigos de capelas, CEBs e serviços diocesanos.

f) Responsáveis por equipes e grupos pastorais tais como: liturgia; sacramentos: batismo, juventude, dízimo, menor, operário, AIDS, acolhida, visitação, missões, exéquias, aconselhamento, pastorais sociais, militância política, desempregados, da Sagrada Comunhão, enfermos, etc.

g) Comunidades ministeriais: novo jeito de ser Igreja (ênfase no serviço e na Trindade Santa).

h) Ministérios leigos reconhecidos para agir com autonomia, solidariedade em redes de comunhão.

i) Ministérios leigos femininos: Se houve na história mulheres doutoras (didascalias) na Igreja do passado e mesmo aquelas reconhecidas oficialmente: Catarina de Sena, Teresa d'Ávila, Hildegard de Bingen e Teresa do Menino Jesus - porque não haveria no futuro?

Se houve diaconisas (Febe, nossa irmã, diaconisa, citada por Paulo em sua carta aos Romanos 16,1.2) por que não haveria novamente? Se a partir do século XII o número de mulheres canonizadas supera o de homens, quais as lições que devemos tirar para a estrutura concreta da Igreja no século XXI?

Se houve mulheres chamadas apóstolas como Júnia (Rm 16,7) por que não outra vez? Se houve profetisas, como Miriam, Ana, Noadias, e matriarcas como Sara, Rebeca, Raquel, e líderes guerreiras como Débora, Jael, Dalila, Rute, a mãe dos macabeus, e tantas mártires de nossa América Latina por que não reconhece-las formalmente na Igreja?

Se houve coordenadoras de Igrejas domésticas, como Priscila (1 Cor 16,19), Lídia em Filipos (At 16,15), Júlia (Rm 16,15), Ninfa em Laodicéia (Cl 4,15) e as coordenadoras de grupos de famílias nas ruas, bairros e pastorais diversas, por que não mulheres nas coordenações e na Cúria Romana? As mulheres são ministras da palavra e da coordenação de grande habilidade e compaixão.

Sobre o diaconato feminino há a opinião favorável do eminente teólogo Monsenhor Dr. Roberto Mascarenhas Roxo: “Se a revelação permite o diaconato feminino e a história o comprova, a cultura moderna o exige como resposta coerente da Igreja aos movimentos de valorização da mulher; a pastoral pede o diaconato feminino (ROXO, 1993, p.23-24)”.

j) Ministério do discernimento e da unidade (Conselhos de pastoral, econômicos, equipes de reflexão) (doc. 62 § 162).

k) Ministros da defesa dos agricultores e nações indígenas perseguidos pelo latifúndio e pelo trabalho escravo.

l) Ministério dos pescadores e ribeirinhos na Amazônia.

m) Ministério da benção das mulheres sapienciais das comunidades (benzedeiras).

n) Ministérios bíblicos (Escolas da Fé e CEBI), da Teologia e da Catequese (doc. 62 § 161 e 170).

o) Ministérios do testemunho pessoal e comunitário (líderes de associações de bairro, sindicatos, partidos e luta política urbana) (doc. 62 § 125).

p) Ministério da celebração da palavra (§ 160) e do batismo (§ 164).

q) Ministério da missão popular e construção de grupos de famílias (visitação, aconselhamento, grupos de rua, de reflexão – doc. 62 168-169).

r) Ministério da vida urbana (Vicariatos do povo da rua, dos construtores da sociedade, da comunicação, das mulheres marginalizadas, da moradia, da juventude).

s) Ministério do diálogo da ação ecumênica (CEDRA, MOFIC, CONIC, CF2000 e outras).

t) Ministério da fé e política (Cristãos das classes médias, pastorais sociais, Movimento dos Sem-Terra, acampamentos e assentamentos, marchas, caravanas, MICC etc.).

u) Ministério da solidariedade e da compaixão (AIDS, doentes, deficientes, menores abandonados, FEBEM, exéquias – doc. 62 §166)

v) Ministério das artes, da música e das culturas (afro, catolicismo popular, festas, devoções, músicas populares etc).

w) Ministérios das nações indígenas e seu modo de ver o mundo e Deus.

x) Assessor ou diretor espiritual acompanhante de ministérios leigos (§ 189).

y) Homens casados (viri probati) como ministros da Eucaristia em comunidades remotas.

z) Escolha de novos bispos escolhidos com participação eclesial dos leigos. Bispos com o rosto do povo e cheiro de ovelhas.

 

 

Abrindo o debate com audácia e serenidade

Somos todos co-criadores com Deus, filhos no Filho e aprendizes do Espírito Santo. Somos discípulos, irmãos, santos, eleitos, cristãos, gente do caminho, batizados e missionários compassivos. Assim nos admoesta o papa Leão: “Reconhece, ó cristão, a tua dignidade! (S. Leão Magno, Sermão 21,3)”.

Uma Igreja aliada dos pobres, com ouvidos atentos, eis o que pede o Instrumento de Trabalho do Sínodo da Amazônia n. 144: “Na voz dos pobres se encontra o Espírito; por isso, a Igreja deve escutá-los, são um lugar teológico. Ao ouvir a dor, o silêncio se faz necessidade, para poder ouvir a voz do Espírito de Deus. A voz profética implica uma nova visão contemplativa, capaz de misericórdia e de compromisso. Como parte do povo amazônico, a Igreja volta a definir sua profecia, a partir da tradição indígena e cristã. Mas significa também rever com consciência crítica uma série de comportamentos e realidades dos povos indígenas, que são contrários ao Evangelho. O mundo amazônico pede à Igreja que seja sua aliada”.

 

Bibliografia básica:

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ANTIOQUIA, Inácio de. Carta aos Efésios VII,1. in: SC 10, Lettres, Cerf, Paris, 1944.

BERNARDINO, Dom Angélico Sândalo. Entrevista para Revista Missões.  

BOFF, Leonardo. E a Igreja se fez povo, Eclesiogênese: A Igreja que nasce da fé do povo, Petrópolis: Vozes, 3ª edição.

CASTILLO, José María. Para comprender los ministerios de la Iglesia, Navarra: Editorial Verbo Divino, 1993.

CEBS. Relatório do 4º Seminário Nacional das CEBs, com o tema: A responsabilidade ministerial do Povo de Deus, Ilhéus-BA, mimeo, 28-31 jan. 1999.

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PAPA PAULO VI. Ministeria Quaedam

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PINHEIRO, Pe. José Ernanne. A missão dos leigos rumo ao novo milênio, São Paulo: Paulinas, 1997.

ROXO, Roberto Mascarenhas. O diaconato feminino, in: Revista de Cultura Teológica, ano !, n. 4, São Paulo: Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, 1993, p. 9-24.

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SINODO DA AMAZONIA, Instrumentum Laboris, 2019. 

 

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