13 Outubro 2020
O cardeal, acusado de abusos sexuais e depois absolvido, regressa após 3 anos. Enquanto isso, chega ao fim a missão de combate à lavagem de dinheiro da Moneyval, que acende um holofote sobre a Santa Sé e San Marino também em vista da chegada à Itália dos bilhões do Fundo de Recuperação.
A reportagem é de Maria Antonietta Calabrò, publicada por HuffingtonPost, 12-10-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
O Papa se reuniu na manhã desta segunda-feira com o Cardeal George Pell (que voltou da Austrália, no meio do escândalo da compra do prédio de Londres pela Secretaria de Estado). O encontro foi anunciado na agenda oficial do Pontífice e seguido por um comunicado oficial da Sala de Imprensa do Vaticano. Com uma iniciativa não comum, o Vatican News divulgou também um curto vídeo do início do encontro, com uma troca de cumprimento entre os dois, em que se destacam as palavras do pontífice: “Obrigado pelo seu testemunho”.
A atmosfera foi descrita como "calorosa e cordial". Pell ficará em Roma pelo menos por três ou quatro meses. Certamente para ele representa um percurso de virada, após três anos de ausência. Pell foi recebido pelo Papa na véspera da reunião C6, o Conselho de Cardeais que devem completar a reforma da Cúria e das finanças do Vaticano (que será realizada online devido ao Covid, para evitar viagens transoceânicas aos cardeais) e depois de Francisco ter, na semana passada, chamado para se apresentar na casa Santa Marta o Núncio Apostólico na Austrália, por supostas ingerências acontecidas durante o processo contra o cardeal por abusos sexuais, que terminou com a absolvição de Pell pelo Supremo Tribunal australiano.
Nos mesmos dias em que ocorreu a renúncia do cardeal Angelo Becciu, a saída do secretário de Estado Pietro Parolin da comissão cardinalícia do IOR e o retorno de Pell, o Vaticano, segundo o Financial Times, vendeu ativos referentes ao Óbolo de São Pedro para quitar o empréstimo de 243 milhões de euros contraído para a compra do famoso edifício londrino na Sloane Avenue 60 do financista Raffaele Mincione.
Na realidade, foram dois empréstimos: um no Credit Suisse e o segundo no Banca della Svizzera italiana, um banco que acabou na mira da controladoria suíça e fechado por violação das normas de combate à lavagem de dinheiro (o Banco da Itália também fechou a filial italiana Bsi).
Precisamente a esses dois empréstimos, aos quais o ex-prefeito da Economia e czar das finanças do Vaticano era fortemente contrário e dos quais tinha sido informado pelo ambiente financeiro inglês, na comitiva de Pell, relaciona-se a causa dos "infortúnios” do cardeal, segundo o que chegou ao conhecimento do Huffpost. O C6 terá lugar quando terminar a inspeção dos peritos do Comité Moneyval do Conselho da Europa, órgão de luta contra a lavagem de dinheiro a que o Vaticano se submeteu (desde 2009).
De acordo com o The Economist, neste momento específico, o monitoramento da Moneyval contra a lavagem de dinheiro dos dois microestados presentes no território italiano (Vaticano e San Marino) será particularmente rigoroso, devido ao temor da Europol de infiltração do submundo que tentará colocar as mãos no dinheiro (cerca de 200 bilhões de euros) que deveria ir para a Itália via Fundo de recuperação.
O vídeo do encontro do Papa Francisco com o cardeal Pell pode ser visto aqui.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
O Papa reabre o Vaticano a George Pell, acelera a reforma das finanças - Instituto Humanitas Unisinos - IHU