20 Novembro 2020
A notoriedade das publicações e dos seminários do economista é muito maior no continente sul-americano, no Japão e na China, do que na França.
A reportagem é de Antoine Reverchon, publicada por Le Monde, 03-10-2020. A tradução é de André Langer.
Nascido em 1943, Robet Boyer é um daqueles “engenheiros economistas” ao estilo francês que, forjados pelo sistema meritocrático da seleção pela matemática, ingressou em uma das melhores escolas da República, a École Polytechnique, em 1962, onde descobriu a sedução da economia através de um professor que veio do INSEE, Jacques Dumontier. Na época, os ministérios eram loucos pelo cálculo econômico e modelos matemáticos capazes de “prever” a evolução dos preços, da produção, do consumo... Tratava-se de esclarecer “cientificamente” a política econômica e o planejamento.
Formado pela École Nationale des Ponts et Chaussées e de Sciences Po, Robert Boyer iniciou a carreira de economista como funcionário público, o que o levou ao Ministério de Equipamentos, ao Centro de Estudos de Renda e Custo e à direção de previsão do Ministério das Finanças. Lá, ele trabalhou em uma equipe encarregada de desenvolver um modelo econométrico, que se mostrou incapaz de fazer qualquer previsão válida sobre os efeitos do choque do petróleo de 1973, quando a inflação disparou e a produção entrou em colapso.
É a este fracasso que remonta a conversão do funcionário público ao mundo da pesquisa. Ingressou no centro de estudos prospectivos de economia matemática aplicada ao planejamento (Cepremap), onde se formou uma comunidade de pesquisadores que, seguindo Michel Aglietta, reuniu Jacques Mistral, Jean-Pascal Benassy, Alain Lipietz e Hugues Bertrand, e elaborou a “teoria da regulação”: os fenômenos econômicos não podem ser compreendidos por meio de modelos abstratos e axiomáticos, mas levando em consideração as combinações entre eventos históricos, instituições políticas, jurídicas e culturais, relações sociais e quadros ideológicos da ação pública e das decisões privadas.
Mas esta “escola francesa” nasceu quando a onda neoclássica e monetarista vinda da Escola de Chicago foi conquistando gradativamente os departamentos de economia das universidades americanas, depois cruzou o Atlântico e converteu a administração francesa às virtudes do mercado em vez da intervenção pública. Embora Robert Boyer tenha obtido um acesso ao CNRS (1978), depois à École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS, 1982), os “regulacionistas” permanecem à margem das instituições acadêmicas. Robert Boyer ingressará no Institute des Amériques, um instituto multidisciplinar do qual é um dos poucos economistas.
Mas, de fato, a notoriedade de suas publicações e de seus seminários é muito mais forte no continente sul-americano, no Japão e na China, para onde ele viaja constantemente, do que na França, onde apenas uma revista on-line, a Revue de la Régulation, alguns livros e um manual, relembram a existência desta economia à moda francesa. Graças à Covid-19, que cancelou incessantes deslocamentos, o economista, escrevendo doze horas por dia durante três meses, acaba de publicar Les capitalismes à l'épreuve de la pandémie (Os capitalismos à prova da pandemia, La Découverte, 200 páginas, 19 euros), uma obra magistral. Porque Robert Boyer nunca para. Ele já sonha com o próximo livro: uma história social e epistemológica da macroeconomia, para entender por que e como sua profissão perdeu-se no dogmatismo cientificista.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Robert Boyer, membro de uma “escola francesa” que permaneceu sob os radares - Instituto Humanitas Unisinos - IHU