04 Setembro 2020
"Neste ano de 2020, a pandemia do novo coronavírus (COVID-19) expôs e agravou a situação de miséria e desigualdade social: uma imoralidade pública institucionalizada, um verdadeiro pecado estrutural, que clama a Deus por justiça", escreve Marcos Sassatelli, frade dominicano, doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP) e professor aposentado de Filosofia da UFG.
O Grito dos Excluídos e Excluídas - desde a sua 1ª edição - tem como tema geral: “Vida em primeiro lugar”. Para perseguir essa meta, o 26º Grito 2020 propõe como tema específico: “Basta de Miséria, Preconceito e Repressão!” e como lema: “Queremos Terra, Trabalho, Teto e Participação!”. O Grito, é uma manifestação nacional, que acontece na primeira semana de setembro e - de acordo com a programação de cada Estado ou cidade - tem o seu ponto alto no dia 7, “dia da pátria”. Pretende ser um espaço aberto para:
1. Dar voz e vez aos que não têm voz e não têm vez: os Excluídos e Excluídas ou - como diz o papa Francisco - os Descartados e Descartadas da sociedade capitalista ultra neoliberal de hoje.
2. Dar visibilidade à unidade dos Movimentos Populares, Sindicatos de Trabalhadores e Trabalhadoras, Centrais Sindicais, Fóruns ou Comitês de Direitos Humanos e de todas as Organizações Populares - inclusive religiosas como CEBs, Pastorais socioambientais e outras - que lutam ao lado dos Excluídos e Excluídas - por um mundo e um Brasil novos.
3. Fortalecer as lutas específicas de cada Movimento, Sindicato ou Organização Popular.
Os Objetivos do 26º Grito 2020, são - para todos e todas nós - um programa de vida e de compromisso com os Excluídos e Excluídas. Vejamos:
- “Discutir com a sociedade o atual momento que vivemos no Brasil e no mundo, denunciando as estruturas opressoras e excludentes e as injustiças cometidas pelo sistema capitalista.
- Refletir coletivamente que este modelo de “desenvolvimento”, baseado no lucro e na acumulação privada, não serve para o povo, porque destrói e mata.
- Promover espaços de diálogo e troca de experiências para construir as lutas e a mudança, através da organização, mobilização e resistência popular.
- Lutar contra a privatização dos recursos naturais, bens comuns e contra as reformas que retiram direitos dos trabalhadores e trabalhadoras.
- Ocupar os espaços públicos e exigir do Estado a garantia e a universalização dos direitos básicos.
- Promover a vida e anunciar a esperança de um mundo justo, com ações organizadas a fim de construir um novo projeto de sociedade.
- Realizar mutirões em defesa da vida, por terra, teto e trabalho.
- Motivar as Comunidades, Movimentos Populares e Governos locais a se empenharem na construção de um novo pacto econômico, a partir do chamado do Papa para a Economia de Francisco.
- Fortalecer o mutirão da 6ª Semana Social Brasileira (abril 2020 - julho 2022).
Esses objetivos giram em torno de três eixos: “Miséria, Preconceito e Repressão”. O Brasil “tem mais de 13 milhões de pessoas em situação de pobreza extrema, que sobrevivem com até R$ 145,00 mensais. Esses números vêm crescendo desde 2015, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Essa miséria é visível em todo país, sobretudo nas grandes cidades, dos centros às periferias, com destaque nas regiões norte e nordeste, atingindo principalmente a população negra e com baixa escolaridade”.
A situação de miséria “dói não apenas na fome ou na saúde, mas sangra profundamente a alma, o sentimento mais profundo e por vezes invisível, por conta do preconceito racial, territorial e de gênero. Uma cultura que ainda carrega resquícios fortes da escravidão, expressa na população pobre, encarcerada, nas manifestações de conservadorismo da população branca que se posiciona contrário às questões raciais, ou mesmo na violência contra as religiões de matrizes africanas”.
As pessoas “que moram nas favelas, comunidades, ocupações, periferias e bairros, em que a mídia acentua a violência, são rotuladas com preconceitos destruidores. Jovens que precisam omitir seu endereço em currículos para que sejam chamados/as para entrevistas de emprego; ou mesmo apresentar ‘ficha de antecedentes criminais’ durante os processos seletivos para uma vaga de trabalho”.
O preconceito de gênero - “vai do feminicídio a uma menor remuneração das mulheres” (que são sempre minoria nas funções de direção das organizações) e é “uma das principais causas de assassinato e suicídios de pessoas LGBT(s), sobretudo de transexuais excluídos/as ou com acesso restrito ao mercado de trabalho”.
Ora, “para conter a reação dos miseráveis, ou daqueles/as que defendem a superação da desigualdade social e do preconceito, a repressão do Estado é avassaladora. Nas periferias do Brasil o sistema repressor, por meio da polícia, é a única presença do Estado”.
Os fatos falam por si mesmos. Lembremos alguns: “A chacina de Paraisópolis-SP, em que a PM matou nove adolescentes e jovens, entre 14 e 23 anos, que voltavam de um baile funk, na madrugada do 1º de dezembro de 2019. Somente no Rio de Janeiro, Estado com 17 milhões de habitantes, em 2019, houve 1.810 mortes pela polícia do Estado”.
“A repressão às organizações e manifestações populares. Em greves de professores, de estudantes, trabalhadores em geral, a PM tem agido com violência letal, com tiros, bombas, gás lacrimogêneo, sem qualquer respeito ao direito das pessoas de se manifestarem pacificamente”.
Também “a repressão aos povos do campo: indígenas, comunidades tradicionais, trabalhadores/as sem terras que são despejados, têm suas plantações arrancadas, casas destruídas com retroescavadeiras, armas apontadas para mulheres, crianças, idosos/as, sem a menor consideração à prioridade por lei”.
Neste ano de 2020, a pandemia do novo coronavírus (COVID-19) expôs e agravou a situação de miséria e desigualdade social: uma imoralidade pública institucionalizada, um verdadeiro pecado estrutural, que clama a Deus por justiça.
(Fonte: Jornal “Grito dos/as Excluídos/as, Ano 26, Número 73, Maio/Junho 2020).
Card da 26ª edição do Grito dos Excluídos. (Imagem: Vatican News)
Leia a “Carta de Apoio ao Grito dos Excluídos e Excluídas” da Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Sociotransformadora da CNBB (Disponível aqui).
Infelizmente - temos que denunciar isso - muitas Comunidades, Paróquias e Dioceses ou Arquidioceses (como a Arquidiocese de Goiânia, que - no passado - foi um exemplo de compromisso com a justiça) nem tomaram conhecimento da Carta da CNBB e nem a divulgaram. Graças a Deus, não foram todas e algumas delas se comprometeram de corpo e alma com os objetivos do Grito.
Na conjuntura atual do Brasil e do mundo, o silêncio é um pecado de omissão muito grave: um crime Trata-se de conivência - direta ou indireta - com a imoralidade pública institucionalizada: uma verdadeira traição de Jesus na pessoa dos pobres. Os “maus pastores” - responsáveis por tudo isso - terão que prestar conta a Deus.
Leia também a Nota - muito esclarecedora - da “Coordenação do Grito dos Excluídos e Excluídas” em Goiás e do “Fórum Goiano de Defesa dos Direitos, da Democracia e da Soberania”. (Disponível aqui).
Leia ainda a Nota de Repúdio conjunta do mesmo “Fórum Goiano” e do “Comitê Goiano de Direitos Humanos Dom Tomás Balduíno” (Disponível aqui).
Por fim, diante dessa realidade perversa e iníqua, nós - sobretudo cristãos e cristãs - não temos o direito de perder a esperança. A luta continua e a vitória é nossa!
Participe da Live (atividade online) do dia 07/09, a partir das 19 horas, de encerramento do Grito (Disponível aqui).
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Grito dos Excluídos. Basta de Miséria, Preconceito e Repressão! - Instituto Humanitas Unisinos - IHU