25 Junho 2020
As religiosas que trabalham na linha de frente, expostas ao coronavírus e que, mesmo assim, continuam cuidando de crianças abandonadas, trabalhando para aliviar a pobreza, prestando assistência médica e ajudando as vítimas de tráfico de seres humanos, não são “supermulheres”, disse a irmã comboniana Alicia Vacas.
A reportagem é publicada por UCA News, 24-06-2020. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Na verdade, são mulheres de muita fé, compaixão, generosidade e determinação, “mas também pessoas vulneráveis, às vezes esgotadas de tanto trabalho, na maioria das vezes impotentes por sentirem sobrecarregadas com o sofrimento dos outros”.
“O que mais admiro nelas é que são mulheres resistentes; elas realmente acreditam que a vida supera a morte”, disse Alicia em um simpósio on-line realizado no dia 23 de junho.
Intitulado “Religiosas na Linha de Frente”, o simpósio foi promovido pelas embaixadas dos EUA e da Inglaterra creditadas na Santa Sé e enfocou a maneira como a pandemia de Covid-19 vem impactando as irmãs e as comunidades em que atuam.
Enfermeira e superiora provincial das Ordem das Irmãs Combonianas do Oriente Médio, com sede em Jerusalém, no início de março a Irmã Alicia se ofereceu, junto de outras irmãs, para ir a Bérgamo, na Itália, para cuidar das irmãs majoritariamente idosas que vivem no convento da ordem.
Um total de 45 das pessoas 60 residentes no convento testaram positivo para o coronavírus e dez acabaram morrendo. Segundo Alicia, a maioria dos funcionários também contraiu o vírus, de modo que a casa estava um “caos”, sem ninguém para cuidar das doentes, cozinhar, limpar ou lavar a roupa.
Segundo a religiosa católica, porque o convento não é oficialmente um lar de idosos, quando ela chegou ninguém possuía equipamentos de proteção individual. Mas outras comunidades religiosas femininas, de ordens diferentes e de lugares tão distantes quanto Hong Kong, enviaram máscaras, roupões e luvas, “gerando uma experiência maravilhosa de partilha”.
Passar a Quaresma e a Semana Santa literalmente em meio à pandemia – “um processo real de cruz, paixão e ressurreição” – foi uma experiência de fé, disse ela. “Acho que fazer parte dessa tragédia que a humanidade está enfrentando atualmente, estando na linha de frente, é um presente de Deus”.
Segundo a religiosa, embora a situação na Itália tenha melhorado, as irmãs do Oriente Médio e da África que administram hospitais e clínicas ainda correm perigo. Elas aceitam pacientes que podem estar infectados com o vírus e, em geral, precisam trabalhar sem equipamentos de proteção, sem testes e com poucos médicos e enfermeiros leigos, em decorrência das medidas de isolamento social.
“Essa pandemia vem gerando um grande número de desempregados, vem aumentando os índices de pobreza e insegurança alimentar, além de estar desafiando o trabalho das religiosas”, disse Callista Gingrich, embaixadora dos EUA na Santa Sé.
Este trabalho das irmãs “é infinitamente importante”, disse Sally Axworthy, embaixadora da Inglaterra na Santa Sé. Elas têm sido “resistentes, permanecendo em zonas de conflito, por exemplo, mesmo quando há um risco à própria integridade delas. Reconhecemos o protagonismo, a liderança que elas demonstram. Reconhecemos que estão em uma posição singular, excepcional para construir relações de confiança com aqueles que são explorados ou que sofrem abusos”.
A Irmã Stan Therese Mumuni, fundadora e superiora das Irmãs Marianas do Amor Eucarístico, em Gana, iniciou esta ordem religiosa para resgatar e cuidar de crianças indesejadas, muitas das quais teriam sido mortas por causa das crenças locais de que deficiências físicas e mentais – e às vezes até quando há um nascimento de gêmeos – são um mau presságio ou trazem azar à aldeia.
Segundo ela, quando o confinamento social (lockdown) começou, as escolas especiais, onde as crianças cegas ou com deficiência auditiva se encontravam, telefonaram e disseram que a irmã precisava buscá-las. Em pouco tempo, a Irmã Stan passou a ter muito mais bocas a alimentar, ao mesmo tempo que os preços no mercado dispararam.
Este confinamento também significa que mais crianças correm o risco de serem traficadas, porque suas famílias estão sem condições de alimentá-las, disse ela.
A Irmã Loreto Imelda Poole, coordenadora da Rede de Religiosas na Europa contra o Tráfico e a Exploração – RENATE (na sigla em inglês), com sede na Albânia, alertou os participantes do simpósio neste mesmo sentido.
A explosão maciça da pobreza por causa da pandemia coloca milhares de jovens, em especial mulheres jovens, sob o risco de serem traficados, pois “são aquelas pessoas vulneráveis que os traficantes vão atrás”.
E, completou a religiosa, embora o trabalho da RENATE ter se transformado em um serviço on-line durante estes meses de pandemia, o que possibilitou às irmãs continuarem dando aconselhamento aos que foram resgatados e a expandir os programas educacionais, Loreto adverte que as crianças têm passado mais tempo on-line, estando “incrivelmente mais vulneráveis à exploração sexual” via internet.
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Religiosas são lembradas pelo trabalho na linha de frente durante a pandemia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU