28 Abril 2020
Desde o início do afastamento social, decretado pelo arcebispo de Manaus, Dom Leonardo Steiner, a Igreja colocou o atendimento aos mais pobres como uma de suas ações prioritárias. A concretização desse trabalho, onde a Caritas Arquidiocesana de Manaus está tendo um papel em destaque, recebeu o nome de puxirum manauara, que desde 26 de março está desenvolvendo seus trabalhos.
A reportagem é de Luis Miguel Modino.
Essa campanha, segundo o diácono permanente Afonso Brito, Secretário Executivo da Caritas Manaus, “ela tem por finalidade ajudar a população em situação de rua, os migrantes, os catadores de materiais recicláveis e os indígenas, quatro grupos como prioridade”. Na campanha também participa a Pastoral do Migrante, a Pastoral do Povo de Rua, o núcleo local da Confederação dos Religiosos (CRB), a Pastoral Indigenista e o Ministério Público do Trabalho.
Foto: Cáritas
Até agora arrecadaram cestas básicas e material de higiene, e já tem sido entregues mais 300 cestas básicas e uma boa quantidade de material de higiene pessoal e roupas, a famílias que vivem em prédios abandonados ou inclusive na rua, migrantes, vendedores ambulantes, catadores, uma realidade muito comum no centro da capital da capital do Amazonas. Também tem recebido essas ajudas alguns dos abrigos onde essas pessoas tomam banho e se alimentam, sendo entregues também 100 máscaras para ajudar na contenção da pandemia. Em total, segundo o secretário executivo da Caritas, tem sido atendidas umas 227 famílias.
A última ajuda recebida tem sido 500 cestas básicas da rede de supermercados DB, mas que a todas luzes parece insuficiente para atender as necessidades. Segundo Afonso Brito, “temos uma lista enorme atendendo a Pastoral do Povo de Rua, do Migrante, dos Indígenas, dos Catadores, que estão vindo buscar essas cestas”. A campanha continua aberta, “porem diminuiu bastante o número de doações que chegaram aqui na Caritas. Desde a semana passada a gente não registra um número de doadores grande”, segundo o secretario, que reforça o convite para que as pessoas continuem ajudando, pois a demanda é muita, são muitas as pessoas que chegam na Caritas atrás desses alimentos, mesmo sendo uma campanha que tem uma especificidade para esses grupos extremamente de risco.
Foto: Cáritas
Manaus está sendo a cidade mais castigada pela pandemia em toda a Pan-Amazônia com 2371 casos confirmados e 202 falecidos, mesmo que a suspeita de casos é infinitamente maior, dada a falta de testes e de comprovação das causas da morte na grande maioria dos falecidos. Desde há mais de uma semana, o número diário de sepultamentos na cidade ultrapassa a centena, quando a média, antes do início da pandemia, estava em 30, o que ajuda a imaginar os números reais. Inclusive, entre os coletivos atendidos na campanha, é possível que tenha pessoas contagiadas, segundo Afonso Brito.
A pandemia tem tornado mais visível ainda a realidade em que muitas pessoas vivem em Manaus, onde as políticas públicas voltadas para essas populações têm sido recortadas drasticamente nos últimos anos. Segundo Afonso Brito, “tudo isso se evidenciou mais ainda, a precariedade, ela teve um agravamento com essa situação, eles viviam de pequenos bicos para poder comer no dia-a-dia”. Diante dessa realidade, o diácono insiste em que “a saída é o apoio, nós estamos apoiando com as cestas básicas”.
Junto com isso, a Caritas está orientando esses grupos “para que eles possam acessar esse recurso dos 600,00 reais, da mesma forma para os migrantes”, criando orientações e colocando a disposição a advogada da Caritas para tentar ajuda-los a entrar no programa, algo que está sendo dificultoso para uma boa parte de população, especialmente os coletivos mais precarizados, o que mais uma vez coloca em questão as políticas sociais do governo.
Foto: Cáritas
O trabalho da Caritas também ajuda àqueles que moram alugados não sejam despejados. Mesmo com uma lei que suspende tudo isso, Afonso Brito afirma que “a lei acaba sendo abstrata, porque o dono do imóvel, ele quer receber, porque ele também tem necessidade”. Essa é uma realidade que atinge sobretudo os migrantes, que estão procurando a Caritas para serem ajudados, pois o governo do estado não consegue atende-los. O secretario executivo da Caritas, ele denuncia mais um episódio de xenofobia, o governo do estado colocou um grande ginásio de esportes a disposição dos migrantes, mas a população local não quer que os estrangeiros estejam no meio deles. Tem se procurado alternativas, mas esse atendimento é claramente insuficiente para a demanda que tem.
Na Caritas estão recebendo também muitos pedidos de paróquias e áreas missionárias da periferia, especialmente da Zona Leste e Norte da cidade, onde vivem em condições precárias mais de um milhão de pessoas. Eles pedem alimentos para atender as demandas que estão surgindo nas comunidades, que aumentam a cada dia. Nesse sentido, o secretário executivo da Caritas coloca como exemplo as 150 cestas básicas que serão entregues numa grande ocupação nessa região, para minimizar a situação deles. Esses parâmetros ajudam a sentir como está a situação da periferia, segundo Afonso Brito.
Foto: Cáritas
As palavras do Secretário Executivo da Caritas Manaus são mais uma mostra da realidade em que vive boa parte da população em Manaus e no Brasil, onde a pandemia tem mostrado a falta de políticas públicas e a cada vez maior precarização do emprego, o que contribui decisivamente para a falência social em tempos de crise. Nesse contexto, o trabalho da Igreja, especialmente através das pastorais sociais, se torna um elemento decisivo, que pode ajudar a mitigar, mesmo que minimamente, o sofrimento dos mais pobres.
Afonso Brito pede e agradece a colaboração de todos, para comprar os produtos que não estão chegando através das doações. Para isso, ele disponibiliza um número de conta no Banco do Brasil. Agência: 1862-7. Conta Corrente: 7570-1. CNPJ: 042098130001-47.
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Em tempo de Pandemia, a Igreja de Manaus se volta para a população mais castigada pela crise - Instituto Humanitas Unisinos - IHU