O Papa Francisco conclui um ano difícil. E com seus colaboradores o rompimento é insuperável

Papa reunido com os membros da Cúria Romana. | Foto: Vatican Media

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10 Dezembro 2019

O ano de 2019 do Papa Francisco foi um ano muito difícil. Aberto com a cúpula mundial sobre a pedofilia do clero, o verdadeiro problema na mesa de Bergoglio foi, aliás continua sendo, a gestão da Cúria Romana. De fato, a reforma tem dificuldade para decolar. O projeto, intitulado Praedicate Evangelium, foi profundamente minado por uma avalanche de emendas provenientes das Conferências Episcopais de todo o mundo, mas sobretudo pelos mesmos chefes dos dicastérios da Cúria Romana. E não viu a luz nem em 2019, como havia sido auspiciado pelos membros do C6, o Conselho dos Cardeais que há sete anos, ou seja, desde o início do pontificado de Bergoglio, ajuda o Papa nessa difícil e histórica obra.

O comentário é de Francesco Antonio Grana, publicado por Il Fatto Quotidiano, 09-12-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.

Não é por acaso, portanto, que as últimas nomeações importantes deste ano civil dizem respeito precisamente ao Vaticano. E a leitura delas é fundamental para entender o momento em que vive o pontificado de Francisco. Em poucos dias, o Papa fez quatro nomeações importantes. A primeira diz respeito ao novo prefeito da Secretaria de Economia, o jesuíta Juan Antonio Guerrero Alves, que permanecerá sacerdote e substituirá o cardeal australiano George Pell, condenado em segundo grau a seis anos por pedofilia.

Aquela do padre Guerrero Alves não é a única nomeação importante na área econômica. De fato, há também a de Carmelo Barbagallo, gerente do Banco da Itália chamado por Bergoglio para presidir a Autoridade de Informações Financeiras da Santa Sé. O órgão de vigilância, juntamente com a primeira seção da Secretaria de Estado, está no centro de uma investigação por supostas operações ilegais imobiliárias. Investigação que até agora viu a suspensão de cinco dirigentes do Vaticano, incluindo o diretor da AIF, Tommaso Di Ruzza, genro do ex-diretor do Banco da Itália, Antonio Fazio.

As outras duas nomeações importantes da Cúria Romana dizem respeito à escolha de chamar para Roma o cardeal filipino Luis Antonio Gokim Tagle, até agora arcebispo de Manila, encarregando-o do prestigioso cargo de prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos. O cardeal substituirá o cardeal Fernando Filoni, nomeado por Bergoglio para o cargo honorário do Grão-Mestre da Ordem Equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém.

A nomeação de Tagle pode servir para uma dupla leitura. Por um lado, que Francisco de alguma forma tenha indicado a sua preferência pelo cardeal filipino como seu sucessor na cátedra de Pedro. Assim como, por exemplo, fez Bento XVI quando, em 2011, transferiu o cardeal Angelo Scola da sede patriarcal de Veneza para a sede arquiepiscopal de Milão. Manobra que, em retrospectiva, jogou negativamente na eleição de Scola no conclave de 2013, após a aposentadoria repentina de Ratzinger.

Mas não é certo que a escolha de convocar Tagle de Manila para Roma jogue a seu favor na sucessão de Bergoglio. Também para ele poderia ocorrer o efeito bumerangue de que Scola foi vítima. Tagle se tornará parte daquela Cúria Romana tão adversa a Francisco e que, com muito poucas exceções, ainda é muito hostil a ele. Basta mencionar as centenas de páginas de correções que os chefes dos dicastérios fizeram no rascunho da nova constituição que deveria reformar e agilizar o governo central da Igreja Católica.

Nesse sentido, os discursos que o Papa dirige à Cúria Romana na véspera de Natal são indicativos de um constante mal-estar e uma ruptura incurável entre o soberano e seus colaboradores diretos. Em 2020, será entendido se essa clara separação poderá ser consertada ou se permanecerá o sinal deste pontificado.

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