10 Abril 2019
Giulio Andreotti definiu Porta a Porta como “a terceira câmara do Parlamento”. Parafraseando o Divo, seria possível dizer que Stanze Vaticane é a quarta galeria do Palácio Apostólico Vaticano. Sim, porque a coluna dominical do vaticanista Mediaset Fabio Marchese Ragona, transmitida pelo TgCom24, já se tornou um evento obrigatório para quem quer ter um termômetro da vida do Papa, do Vaticano e da Igreja italiana. Cardeais e bispos desfilam, de domingo a domingo, na tela para comentar sobre a semana de Francisco em relação às notícias e políticas italianas. Uma ideia que também se materializou em dois livros bem-sucedidos.
A reportagem é de Francesco Antonio Grana, publicada por Il Fatto Quotidiano, 09-04-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Depois de Todos os homens de Francisco, vencedor do Prêmio Cardeal Michele Giordano 2019, Marchese Ragona retorna às livrarias com Os novos cardeais de Francisco [em tradução livre] (I nuovi cardinali di Francesco). O autor entrevista, um por um, todos os cardeais escolhidos pelo papa latino-americano, muitos dos quais escolhidos, assim como ele, quase do fim do mundo. O resultado é um retrato inédito da Igreja católica de Bergoglio. Mas de ambos os volumes emergem também algumas indiscrições interessantes do Papa que virá depois de Francisco. Afinal, Marchese Ragona entrevista somente os cardeais potencialmente eleitores em um eventual conclave. Uma escolha que certamente não é casual, que demonstra de forma eloquente como a vontade do autor seja a de olhar para além da página histórica que a Igreja de Roma está vivendo com Bergoglio. E talvez até mesmo prefigurar o perfil de seu sucessor, que poderia ser um dos entrevistados.
Uma vontade encorajada pelas palavras do cardeal Luis Antonio Tagle, arcebispo de Manila e presidente da Caritas Internationalis, que assina o prefácio do livro. “É verdade - escreve o prelado - que, por vezes, infelizmente, mesmo entre os bispos e os cardeais há alguém que perde a bússola, como se perdesse o sinal de próprio celular, destacando-se da realidade, alienando-se e combatendo batalhas sozinho ou criando grupos esperando em algo que só o Espírito Santo, ao contrário, pode decidir. Até mesmo o papa foi vítima de duros ataques, e é nosso dever, como cardeais, lutar para defender, sempre, sem dúvidas, o vigário de Cristo. A esse respeito, Francisco nos relembra que, ao criar escândalo e divisões, esquece-se o caminho indicado pelo Senhor, aquele da união e da fraternidade! Quando se cede à lógica do poder, colocando em primeiro plano a aparência, a opulência, a preciosidade das vestes, se vai, sem dúvida, contra o espírito de Jesus”.
Um livro, como o autor revela, encorajado pelo próprio Francisco. Sua frase “vá em frente” me acompanhou por meses, e é também por essa razão que hoje nasce Os novos cardeais de Francisco, para contar melhor ainda a universalidade da Igreja do Papa Bergoglio, através da voz de seus cardeais espalhados pelo mundo, nas periferias do planeta, cara a cara com os problemas que a sociedade atual apresenta em todas as suas formas e nuances. “Vá em frente”, para continuar a história, iniciada no primeiro volume, de uma Igreja muitas vezes martirizada e mortificada, de uma Igreja que deve lidar com milhares de dificuldades, milhares de emergências, sem trégua. Enquanto isso, o Papa Francisco convocou um novo consistório público ordinário para a criação de cardeais e, neste segundo volume, há, por um lado, a história dos últimos cardeais chamados pelo Santo Padre para serem seus primeiros colaboradores e, pelo outro, daqueles cardeais que eu não tive oportunidade de contatar para Todos os homens de Francisco”.
Marchese Ragona também entrevista os últimos cardeais nomeados pelo Papa que trabalham na Cúria Romana. Homens extremamente fiéis a Bergoglio como Giovanni Angelo Becciu, prefeito da Congregação para as Causas dos Santos; Luis Francisco Ladaria Ferrer, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé; e Konrad Krajewski, esmoleiro apostólico, o “braço” da caridade de Francisco. No livro não faltam outras figuras ilustres, como o cardeal vigário do Papa para a diocese de Roma, Angelo de Donatis e o Arcebispo de L'Aquila, Giuseppe Petrocchi. Para depois passar para a América, a África, a Ásia e a Oceania. Da mesma forma que costuma fazer Francisco quando escolhe seus cardeais.
“Os cardeais que são apresentados neste livro de Fabio Marchese Ragona - escreve Tagle no prefácio - são o exemplo da Igreja de Francisco que vai às periferias existenciais para realizar o projeto do Senhor. Vocês verão isso lendo com seus próprios olhos. São homens que colocam em primeiro lugar os descartados por essa sociedade cada vez mais líquida, seguindo o exemplo do Santo Padre. Como eu disse ao Papa, em Manila, em janeiro de 2015: “Cada filipino gostaria de ir com V.S., mas não a Roma, mas nas periferias, nas prisões, nos hospitais, nas favelas, no meio dos políticos, no mundo das finanças, das artes, das comunicações sociais, para que V.S. possa nos tornar missionários da luz de Jesus, que é o centro e fundamento da Igreja”. Pois bem: nós cardeais, assim como todos os homens da Igreja, somos e devemos ser missionários que difundem essa luz, que vão onde há necessidade de alimentar essa luz! Porque mesmo nos lugares mais esquecidos há sempre uma centelha dessa luz que busca uma nova fonte de vida”.
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Os novos cardeais de Francisco, um retrato inédito da Igreja de Bergoglio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU