06 Fevereiro 2019
Ministérios ordenados para as mulheres, celibato, moral sexual e limitação do poder: o jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung publicou uma carta aberta de famosos teólogos e católicos que se dirigem ao cardeal Marx sobre esses temas.
A reportagem foi publicada em Domradio.de, 03-02-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Entre os nove signatários da carta aberta estão:
- Ansgar Wucherpfennig, reitor da escola superior de teologia Philosophisch-Theologischen Hochschule Sankt Georgen, de Frankfurt;
- o padre jesuíta Klaus Mertes, que, como reitor do Canisius-Kolleg, de Berlim, tornou públicos casos de abuso em 2010;
- o decano da cidade de Frankfurt, Johannes Graf von und zu Eltz, crítico do ex-bispo de Limburg, Tebartz van Elst;
- Gaby Hageman, diretora da Cáritas Frankfurt;
- Bettina Jarasch, membro do conselho diretivo dos Verdes (Bündnis 90 Die Grünen);
- Claudia Lücking-Michel, vice-presidente do Comitê Central dos Católicos Alemães (ZdK);
- Dagmar Mensink, porta-voz do ZdK para assuntos políticos e éticos; e
- Jörg Splett, filósofo das religiões e antropólogo católico.
Na carta ao presidente da Conferência dos Bispos da Alemanha, o cardeal Reinhard Marx, pede-se: “Comprometa-se com uma efetiva subdivisão dos poderes – isso diz mais respeito à humildade de Cristo e ao contexto das leis vigentes. Promova as superestruturas do ministério ordenado e abra-o às mulheres”.
Os signatários também apelam aos bispos alemães para que deixem aos padres diocesanos a escolha do seu modo de vida – “para que o celibato possa encaminhar novamente de modo credível ao reino dos céus”.
Além disso, teólogos e os católicos comuns pedem uma “reavaliação da moral sexual”, que inclua uma avaliação inteligente e honesta da homossexualidade. Eles também falam de uma atmosfera de incômodo nas comunidades paroquiais. “O sol da justiça não surge mais. Sob um céu de chumbo, a alegria da fé atrofia”.
Em relação ao escândalo dos abusos na Igreja, o próprio Marx havia pedido recentemente que, por ocasião da cúpula no Vaticano, “assuma-se a responsabilidade”. Os signatários da carta pedem que ele coloque na pauta de Roma “os resultados mais importantes” do estudo sobre os abusos (MHG-Studie) realizado em nome dos bispos alemães. “O abuso na nossa Igreja também tem causas sistêmicas.”
A perspectiva do poder em associações de homens atrai pessoas de grupos de risco. Tabus sexuais impediram os processos necessários de esclarecimento e de amadurecimento. O pedido dos signatários de uma mudança fundamental se baseia nesses dados reconhecidos.
Na carta, afirma-se que, desde 2010, os bispos alemães fizeram progressos tanto para a prevenção quanto para a sanção de atos de violência. Após o estudo recente, eles expressaram a sua perturbação e pediram perdão.
Mas se limitar às palavras não basta. A maioria dos católicos comprometidos não consegue mais defender “a velha ordem da Igreja”. Eles simplesmente a suportam. Nesse contexto, a carta refere-se ao número de pessoas que abandonaram a Igreja.
Em meados de janeiro, em uma entrevista, o cardeal Marx havia expressado a sua esperança de um progresso claro na cúpula sobre os abusos que será realizada no fim de fevereiro em Roma. A respeito desse problema, ele acreditava que a conscientização nas diferentes Igrejas locais do mundo era muito diferenciada.
O papa e a cúria não podem resolver problemas de todo o mundo, disse Marx. “Mas, se todos os presidentes das Conferências Episcopais nacionais se reúnem em Roma, eu espero que haja a disponibilidade de assumir a responsabilidade.”
As conferências deveriam lançar publicamente um sinal: “Enfrentemos comunitariamente o problema dos abusos sexuais e espirituais na Igreja”. É importante que as Conferências Episcopais que lidam com o assunto há algum tempo apresentem as suas experiências, afirmou. E ele mesmo pretende fazer isso.
Os pesquisadores tinham apresentado à Igreja o “Estudo sobre o abuso sexual de menores por parte do clero no âmbito da Conferência dos Bispos da Alemanha” no fim de setembro, em Fulda, na assembleia geral dos bispos.
Nas atas eclesiais dos anos entre 1946 e 2014, a equipe de pesquisadores tinha encontrado indicações de 3.677 vítimas de violência sexual e cerca de 1.670 padres, diáconos e religiosos acusados. Os especialistas também se referem a outros casos que não estão presentes nas atas.
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Carta aberta ao cardeal Marx pede mudança radical na Igreja - Instituto Humanitas Unisinos - IHU