18 Dezembro 2018
Dia de glória para as autoridades de Kiev, início formal do cisma para a Igreja Russa.
Assim foi definido o 15 de dezembro, quando um Concílio "para a reunificação" marcou o nascimento da nova Igreja ortodoxa da Ucrânia formada pela fusão das duas Igrejas anteriores em desacordo com o Patriarcado de Moscou. Na Catedral de Santa Sofia, no último sábado reuniu-se um Sínodo - ilegal, para o Patriarca russo Kirill- composto por cento e noventa pessoas (sessenta e quatro bispos, mais igual número de sacerdotes e leigos) que elegeram o bispo Epifanyi, 39 anos, como novo metropolita de Kiev e primaz da Igreja Ortodoxa da Ucrânia.
O comentário é de Luigi Sandri, publicado por Trentino, 17-12-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
O presidente ucraniano Petro Poroshenko, diante de uma grande multidão e do recém-eleito, declarou aclamadíssimo: "Este é um dia que vai entrar para a história como um dia santo, o dia da independência definitiva de Moscou”. Kirill e o Santo Sínodo de Moscou acreditam, no entanto, que o Concílio foi totalmente ilegal porque, afirmam, desde 1686 o Patriarca de Constantinopla tinha confiado a Igreja de Kiev para o Patriarcado russo. Um ato que, no entanto, os ucranianos hoje consideram nulo. Por seu lado, o atual patriarca de Constantinopla, Bartolomeu I, e seu Sínodo, já em outubro tinham anunciado que iriam conceder a "autocefalia" para a nascente Igreja da Ucrânia. O "tomos", o ato formal dessa decisão será entregue a Epifanyi, em Istambul, em 6 de janeiro do próximo ano. Até agora, a maioria dos ucranianos pertencia à Igreja Ortodoxa Ucraniana ligada a Moscou. Agora, Kirill teme que seus fiéis sejam considerados "traidores" em Kiev. Por esse motivo, na sexta-feira, tinha escrito para as mais altas autoridades civis e religiosas do mundo - entre elas o secretário da ONU, António Guterres, e o Papa Francisco - afirmando que, com a nova Igreja nascia "em violação" dos sagrados cânones, mas apoiada por Poroshenko, as pessoas ligadas à Igreja Russa correm o risco de serem vítimas de violência. Veremos, concretamente, o que acontecerá agora; e se a Igreja russo-ucraniana permanecerá compacta, ou começará a perder paróquias que passarão para a recém-criada Igreja "independente".
Para além da situação na Ucrânia (e presidente da Rússia, Vladimir Putin, já deixou claro que não ficaria em silêncio caso ortodoxos pró-russos sofressem violências), o quanto decidido há dois dias em Kiev abriu uma rachadura que coloca em risco de implosão a ortodoxia, até agora composta por catorze Igrejas "autocéfalas". De fato, o Patriarcado de Moscou – do qual fazem parte 70% dos duzentos milhões de ortodoxos espalhados em todo o mundo - vai recusar todo contato com aquelas Igrejas que estiverem com Constantinopla e Kiev.
Em situação embaraçosa encontra-se, agora, Francisco, por causa do episódio ucraniano: afinal, se ele der a mais leve impressão de se inclinar para uma parte, perderia a outra. E o drama é que a disputa intraortodoxa ocorre sem que nenhuma das Igrejas contendoras tenha citado o Evangelho para apoiar as próprias razões. Afinal, fazer isso teria sido difícil.
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O cisma na Igreja Ortodoxa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU