Encontro dos bispos em fevereiro será um momento decisivo para o Papa Francisco

Foto: Leonora Giovanazzi /Flickr

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21 Setembro 2018

"Francisco tem uma crença profunda na necessidade da Igreja agir como um corpo, de fato. Ele se dedicou para renovar o Sínodo dos Bispos como um verdadeiro grupo de trabalho e fortaleceu as posições das conferências nacionais dos bispos. Francisco sabe que não pode agir sozinho e nem impor correções e reformas aos bispos e padres", escreve Dennis Coday, jornalista, em artigo publicado por National Catholic Reporter, 20-09-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.

Eis o artigo.

Poderíamos denominar esse momento para qual o cardeal Jorge Bergoglio foi convocado "dos confins da terra” para ser um papa?

Não esqueçamos de quando Bergoglio foi apresentado a nós como Francisco - não como um Papa ou apóstolo anterior, mas sim um santo reformador. Ele mexeu com a imaginação das pessoas e pediu a todos os presentes na Praça de São Pedro para que rezassem.

Não nos esqueçamos de que ele foi eleito por um conclave de cardeais que sabiam o que acontecia e que queriam uma reforma na Igreja. Essa foi a base de seu mandato.

Primeiramente, liderou sendo um exemplo, renunciando aos apartamentos papais, ocupando um quarto na Casa Santa Marta e fazendo refeições no refeitório. Abandonou os títulos e se chama de bispo de Roma. Ele anda em carros simples, não em limusines à prova de balas.

Desde seus primeiros dias como Papa, Francisco foi a favor de um ministério de misericórdia e denunciou fortemente a doença do clericalismo. Em novembro de 2013, falando a um grupo de superiores religiosos, ele chamou o clericalismo de "um dos piores males" e advertiu os líderes religiosos: "Devemos formar bons corações. Caso contrário, estamos criando pequenos monstros que conduzem o Povo de Deus. Isso realmente me dá arrepios".

Mais ou menos nessa mesma época, Francisco lançou o que se tornou conhecido como o "manifesto" de seu papado, a exortação apostólica Evangelii Gaudium ("A Alegria do Evangelho"), que é um chamado à conversão institucional baseada nas reformas do Concílio do Vaticano II.

Uma passagem importante:

Paulo VI nos convidou a aprofundar o chamado à renovação e a deixar claro que isso não diz respeito apenas aos indivíduos, mas a toda a Igreja. Um texto memorável que continua a nos desafiar.

"A Igreja deve olhar com olhos penetrantes para dentro de si mesma e ponderar sobre o seu próprio Mistério. Essa autoconsciência conduz inevitavelmente a uma comparação entre a imagem ideal da Igreja, da mesma forma que Cristo a considerou e a amou como sua santa e imaculada noiva, assim como a imagem real que a Igreja apresenta ao mundo hoje. Esta é a fonte da luta heroica e impaciente da Igreja pela renovação: a luta para corrigir as falhas introduzidas por seus membros - que ela própria autoexamina. Espelhando seu maior exemplo - Cristo - ela aponta e condena".

O Concílio do Vaticano II apresentou a conversão eclesial como abertura a uma constante autorrenovação, nascida da fidelidade a Jesus Cristo:

"Toda renovação da Igreja consiste essencialmente num aumento da fidelidade de seus próprios membros e simpatizantes. Cristo convoca a Igreja à medida que ela vai peregrinando para uma reforma contínua, sabendo que ela é uma instituição humana".

Aqui, criticamos Francisco por sua forma de lidar com os abusos sexuais de bispos e padres. Ele às vezes foi cegado pelo seu próprio clericalismo. No entanto, o Papa provou ao longo dos últimos seis meses que pode aprender com esses erros e tomar as medidas corretas.

A próxima pergunta é se ele pode liderar a Igreja e fazer as correções necessárias que abrangem esse mundo.

Francisco tem uma crença profunda na necessidade da Igreja agir como um corpo, de fato. Ele se dedicou para renovar o Sínodo dos Bispos como um verdadeiro grupo de trabalho e fortaleceu as posições das conferências nacionais dos bispos. Francisco sabe que não pode agir sozinho e nem impor correções e reformas aos bispos e padres.

Por conta disso, saúdo o seu chamado a Roma e aos presidentes das conferências nacionais de bispos do mundo para se encontrar com ele no Vaticano em fevereiro. É certamente um passo ousado e o encontro obrigará os bispos a tomarem medidas contra o abuso sexual - a menos que decidam ignorá-lo.

Essa reunião vem carregada de riscos, pois pode ser um completo desperdício de tempo e recursos. Vimos as forças armadas contra esse papado, querendo ver Francisco ser humilhado, custe o que custar. De qualquer maneira, esta reunião provavelmente definirá o papado de Francisco.

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