07 Setembro 2018
"A atitude de Lula, de atrasar essa decisão até o dia 11, é um jogo temerário, baseado numa obstinação de querer manter sua candidatura até o limite possível, apostando em recursos a priori perdidos. Nisso, infelizmente, o PT mostra uma subordinação incompreensível a seu líder. Todo o processo tem se desenrolado num circuito fechado de longas conversas, na prisão, de Haddad com Lula. Dá para imaginar a impaciência de Haddad diante de um Lula empacado, que pareceria pensar antes de tudo na sua candidatura e não nas urgências de um processo com prazos cada vez mais curtos", escreve Luiz Alberto Gomez de Souza, sociólogo.
Segundo ele, "nesse momento, é que se impõe uma posição firme e rápida do PT, com o imediato lançamento de Haddad como candidato e de Manuela d’Avila como vice e o apoio explícito de Lula. E quando digo imediato é entrar com o pedido de inscrição das candidaturas nas próximas horas, sem esperar o dia 11".
Começo pela segunda parte. Houve uma manipulação escandalosa, com a publicação parcial da última pesquisa Ibope do dia 5 de setembro. Ali, o Jornal Nacional da Globo, só divulgou parte da mesma, com os dados sem a participação de Lula. Fernando Haddad aparece em quinto lugar, com 6%, contra os 22% de Bolsonaro. Ela omite uma informação que vazou, de que 22% dos eleitores de Lula já estariam dispostos a transferir seu apoio a Haddad. Sendo verdadeira, Haddad poderia estar encostando em Bolsonaro. Para Ricardo Kotscho, há um paralelo com a manipulação da Procolsult em 1982, para prejudicar a candidatura de Brizola ao governo carioca.
No momento em que o PT lançasse a candidatura de Haddad, com o apoio explícito de Lula, ele subiria certamente nas próximas pesquisas. Por isso, a atitude de Lula, de atrasar essa decisão até o dia 11, é um jogo temerário, baseado numa obstinação de querer manter sua candidatura até o limite possível, apostando em recursos a priori perdidos. Nisso, infelizmente, o PT mostra uma subordinação incompreensível a seu líder. Todo o processo tem se desenrolado num circuito fechado de longas conversas, na prisão, de Haddad com Lula. Dá para imaginar a impaciência de Haddad diante de um Lula empacado, que pareceria pensar antes de tudo na sua candidatura e não nas urgências de um processo com prazos cada vez mais curtos.
Mas eis que surgiu um fato inesperado. Sabemos que o inesperado pode mudar, de uma hora para outra, todo um panorama eleitoral. Bolsonaro, que aposta numa política de defesa civil dura, foi vítima, nas ruas de Juiz de Fora, de uma violência que ele, de certa maneira, indiretamente fomentou. E sabemos da sensibilidade popular diante de possíveis vítimas. Exemplos distintos atestam, de Vargas a Tancredo. Não é de espantar que isso produza um aumento significativo do apoio a Bolsonaro nos próximos dias, para além dos 22% da pesquisa do IBOPE. E isso poderia conduzir a uma avalanche de votos nele, num clima de muita emoção. Mas não podemos esquecer que Bolsonaro, por outra parte, é o candidato com maior rejeição.
Segundo o laudo imediato à cirurgia de Bolsonaro, esta foi de grande porte, tendo estancada uma forte hemorragia no abdome, suturado o intestino delgado e com uma incômoda bolsa externa para o intestino grosso. Uma primeira avaliação do paciente na UTI, é de pelo menos uma semana de hospitalização e com um processo pós-operatório mais ou menos longo. Dentro de um curtíssimo tempo, antes da eleição de 7 de outubro. Como isso incidiria na campanha, com o candidato com pouca mobilidade, é para avaliar nas próximas horas. Isso poderia ser compensado com as fortes imagens repetidas do atentado? As reações de possíveis apoiadores ainda é imprevisível, mas tudo parece levar a um aumento da popularidade de Bolsonaro, mesmo ausente do embate concreto e talvez em razão disso mesmo.
Nesse momento, é que se impõe uma posição firme e rápida do PT, com o imediato lançamento de Haddad como candidato e de Manuela d’Avila como vice e o apoio explícito de Lula. E quando digo imediato é entrar com o pedido de inscrição das candidaturas nas próximas horas, sem esperar o dia 11. E uma vez inscritos, Haddad e Manuela já poderiam aparecer nas pesquisas da próxima semana.
O panorama ainda incerto poderá ter uma radical modificação, com o possível aumento dos apoios a Haddad e a Bolsonaro, distanciando-se ambos dos outros candidatos. A não ser que o sistema de poder, com seus potentes meios de comunicação, tente apostar e jogue suas fichas num destes últimos. Alckmin parece empantanado na sua mesmice. Marina não esconde sua fragilidade. Ciro poderia articular um apoio com sua pinta de bom administrador?
Mas vista hoje, a possibilidade mais plausível é de um embate Haddad-Bolsonaro. Um deles já poderia ganhar no primeiro turno? Difícil, mas não impossível. Poupem-nos de uma onda Bolsonaro. Esperemos um sopro favorável a Haddad. Num segundo turno, o apoio popular a um Haddad, herdeiro de Lula, compensaria sua rejeição por setores médios preconceituosos e por uma elite rancorosa?
Essa polarização não fará bem à democracia, mas talvez seja, infelizmente, inevitável. O tempo pós-eleitoral poderia, entretanto, ser momento para articular uma ampla frente nacional, popular e democrática cada vez mais indispensável. E para preparar um tempo de reconciliação e de cidadania participativa. Sempre que saia das urnas um parlamento melhor do que o atual. Tão importante que votar para presidente será escolher, com muito cuidado, deputados e senadores, governadores e deputados estaduais. Com a palavra o eleitor-cidadão.
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Um atentado que pode mudar o panorama político e o jogo temerário de Lula querendo manter-se candidato até o prazo do dia 11 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU